Agropolítica
Acordo Mercosul-UE: enquanto Alemanha comemora, oposição francesa ganha apoio da Itália
Países antagonistas ao acordo chamam de “concorrência desleal” e prevêem uma “inundação de produtos agrícolas da América do Sul” em seus territórios
Sabrina Nascimento | São Paulo
06/12/2024 - 17:11

Na Europa, o anúncio do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, realizado nesta sexta-feira, 06, está dividindo opiniões. Enquanto a Alemanha apoia os termos estabelecidos, ao que tudo indica, a França ganhou o apoio do setor agrícola da Itália na ofensiva de oposição.
Em publicação na rede X, o chanceler alemão, Olaf Scholz, afirmou que “um obstáculo importante ao acordo foi superado”. De acordo o chanceler, “isso criará um mercado livre para mais de 700 milhões de pessoas, juntamente com mais crescimento e competitividade”.

Contrariando a percepção otimista de Olaf, a ministra de Comércio Exterior da França, Sophie Primas, disse que a luta contra o acordo ainda não acabou. O país tem liderado a ofensiva em oposição ao tratado. “O que está acontecendo em Montevidéu não é uma assinatura do acordo, mas a conclusão política da negociação. Isso não vincula os estados-membros. Agora, cabe ao Conselho Europeu e depois ao Parlamento Europeu expressar suas opiniões. A França lutará em todas as etapas ao lado dos estados-membros que compartilham sua visão”, escreveu Sophie em sua conta no X.

Além da França, a Polônia e a Holanda também defendem uma concorrência desleal com os produtos agrícolas de seus países. Nesse movimento, juntaram-se representantes do agro italiano nesta sexta-feira. Juntos, os quatro países representam cerca de 41% da população da União Europeia. O que, em tese, seria possível barrar uma decisão do Conselho Europeu — atualmente, para que isso ocorra, é necessário o apoio de quatro países que representam, ao menos, 35% da população total do bloco.
O que diz o agro italiano?
Em nota, a Confederação dos Agricultores Italianos (CIA, na sigla em italiano), informou não se opôr, em princípio, aos acordos comerciais bilaterais. “No entanto, o acordo UE-Mercosul parece muito desequilibrado, impactando setores sensíveis que podem sofrer a concorrência esperada de Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai”, disse a nota.
“Esperávamos que esta nova Comissão considerasse a agricultura um setor estratégico, mas o sinal atual parece ir na direção oposta”, enfatizou a CIA. Na visão do presidente nacional da entidade, Cristiano Fini, o setor agroalimentar europeu está em risco de forte penalização devido à liberalização de 82% das importações agrícolas da América do Sul.
Ainda segundo a posição da Confederação, “para a Itália, o risco é ser inundada por produtos agrícolas da América do Sul, com a eliminação de tarifas e barreiras”. “A CIA ressalta que a UE possui os mais altos padrões em segurança alimentar, meio ambiente, saúde e bem-estar animal, que garantem o sucesso dos produtos agroalimentares europeus globalmente. Concorrência de produtos que não respeitam a reciprocidade das regras comunitárias coloca esse equilíbrio em perigo”, finaliza.
Siga o Agro Estadão no Google News e fique bem informado sobre as notícias do campo.
Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Agropolítica
1
Senado quer ouvir Marina Silva sobre inclusão de tilápia como espécie invasora
2
Mapa confirma que 'não há perspectiva' de liberação de orçamento do Seguro Rural
3
Governo discute tornar Seguro Rural despesa obrigatória, mas depende de convencimento interno
4
Brasil abandona acordo por transporte pesado elétrico um dia após assinatura
5
Agronegócio é afetado pelo shutdown mais longo da história dos EUA
6
CNA pede que STF suspenda novas demarcações de terras indígenas até julgamento do marco temporal
PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas
Agropolítica
Conab: MP destina recursos para reposição de estoques públicos de milho
Medida prevê recompor 83 mil toneladas de milho, destinadas a atender pequenos criadores do semiárido nordestino.
Agropolítica
Congresso derruba parte dos vetos ao Licenciamento Ambiental
Para parlamentares do agro, vetos do Presidente Lula desconfiguravam a legislação; foram derrubados 24 dos 63 vetos presidenciais
Agropolítica
Isenção de Imposto de Renda para produtores rurais avança na Câmara
Comissão de Agricultura aprova PL que amplia faixa de isenção para pessoas físicas rurais até R$ 508 mil, com atualização pelo IPCA
Agropolítica
Senado avança em modernização do Seguro Rural e abre caminho para fundo de catástrofe
Aprovado por unanimidade na CCJ, projeto dá estabilidade orçamentária ao setor e fortalece proteção contra riscos climáticos
Agropolítica
Comissão de Agricultura aprova suspensão do Programa de Rastreabilidade de Agrotóxicos
Deputados avaliam que medida foi criada sem diálogo com o setor e afeta produtores e transportadores; proposta segue para o Senado
Agropolítica
Câmara aprova CEP rural: veja como a medida pode facilitar a vida do produtor
Ferramenta promete, ainda, ampliar a precisão logística e reforçar a segurança jurídica; texto segue para o Senado
Agropolítica
MS quer proibir comercialização de tilápia sem rastreabilidade
Projeto de Lei prevê multas, apreensões e reforço aos órgãos de fiscalização para evitar dumping e concorrência desleal com produtores locais
Agropolítica
Reforma tributária: SRB alerta para insegurança jurídica no setor
Setor rural vê risco fiscal e operacional com ausência de regulamentação tributária em 2026