Sustentabilidade
PR lidera geração de energia renovável no campo e responde por 18,4% da potência nacional
Economia na conta de luz chega a 95% e impulsiona investimentos na produção agropecuária
Paloma Custódio | Guaxupé (MG) | paloma.custodio@estadao.com
23/05/2025 - 08:00

O Paraná é atualmente o estado com maior potência instalada de energias renováveis no meio rural em todo o Brasil. As propriedades rurais paranaenses somam, juntas, uma capacidade de geração de 178,3 mil kilowatts (kW), o que representa 18,4% da potência instalada em áreas rurais do país neste ano. Minas Gerais aparece em segundo lugar, com 119,7 mil kW, mesmo tendo quase o dobro do tamanho territorial do Paraná e contando com mais que o dobro de municípios.
Os dados são da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Sistema FAEP). Somente em 2024, mais de 7,1 mil produtores rurais no estado aderiram à instalação de usinas solares ou de biogás em suas propriedades — a chamada geração distribuída. A energia gerada por essas fontes já abastece mais de 10,7 mil unidades consumidoras no estado. Dos 399 municípios paranaenses, 383 registraram instalações de sistemas de energia renovável neste ano.
Ao Agro Estadão, o presidente interino do Sistema FAEP, Ágide Eduardo Meneguette, destacou que a agropecuária paranaense é altamente dependente de energia elétrica para manter a produtividade. “A perspectiva de crescimento da produção agropecuária, o aumento do custo com a energia elétrica, o desenvolvimento de novas políticas públicas, incentivos tributários e a preocupação com a segurança energética ajudam a explicar o crescimento da produção de energia no campo”, avalia.
Segundo ele, o uso crescente de tecnologias avançadas nas atividades rurais impulsiona ainda mais essa demanda por energia. “Atualmente, os nossos produtores rurais dispõem de máquinas e equipamentos altamente tecnológicos, que dependem de energia de qualidade, sem interrupções e oscilações”, completa.
Economia de até 95% na conta de luz
O coordenador de energias renováveis da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab), Herlon Goelzer, estima que projetos bem planejados de energia solar ou biogás podem reduzir entre 90% e 95% os custos mensais com energia em propriedades rurais.
Apesar da autossuficiência na geração, todas as propriedades continuam conectadas à rede elétrica e, para isso, precisam pagar uma taxa mínima. “Você gera energia solar em grande quantidade durante o dia e envia o excedente para o sistema. Depois, à noite, utiliza a energia da “poupança” que foi acumulada. Por isso, a conta de energia nunca zera, porque sempre será necessário pagar a taxa mínima pelo uso do sistema”, explicou à reportagem.
Setores mais beneficiados
Segundo Goelzer, a pecuária paranaense é o setor mais beneficiado pela geração distribuída nas propriedades rurais, especialmente a avicultura e a piscicultura de água doce, que têm alto consumo de energia. A suinocultura e a pecuária leiteira também colhem vantagens.
Ele ressalta ainda a crescente relevância do custo da energia na agroindústria. “Há cerca de quatro anos, a energia era o terceiro ou quarto item no custo de produção. Hoje, passou a ser o segundo maior”, observa.
O produtor de leite Idemar Dalberto, de Nova Prata do Iguaçu, no sudoeste do estado, é um exemplo do impacto positivo da geração distribuída. Em 2021, ele instalou painéis solares em sua propriedade com apoio do programa Renova-PR, que oferece linhas de financiamento com juros subsidiados.
Antes da instalação, Dalberto pagava cerca de R$ 1.300 por mês na conta de energia. Hoje, com o sistema solar, paga apenas cerca de R$ 50 — valor referente à taxa mínima da concessionária. “Sem essa geração distribuída, minha conta estaria em torno de R$ 4 mil hoje. E eu pago cerca de R$ 800 por mês no financiamento das placas. A economia é absurda”, relatou ao Agro Estadão.
Com a economia gerada, o pecuarista conseguiu reinvestir na produção. “Deu pra comprar mais adubo, instalar ventiladores e aspersores para melhorar o conforto e o rendimento das vacas. Sem a energia solar, isso seria inviável, porque a energia é muito cara”, afirma.
Renova-PR
Segundo o coordenador de energias renováveis da Seab, o programa Renova-PR, em quase quatro anos de existência, já viabilizou 33.500 novas conexões de geração própria de energia no campo paranaense, conforme dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Herlon Goelzer afirma que, para os agricultores familiares contemplados pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), o Renova-PR zera a taxa de juros para financiamento dos projetos de geração de energia renovável no campo.
Com esse incentivo, muitos produtores conseguem recuperar o capital investido e, em diversos casos, financiamentos previstos para serem pagos em 6 a 10 anos são quitados em até 48 meses. “O estado tem incentivado o produtor a investir, contribuindo para que o retorno sobre o capital — o payback — ocorra muito antes do vencimento da linha de crédito”, ressalta.
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