Sustentabilidade
Biometano ganha destaque em discussões sobre transição energética no Brasil
Fórum em São Paulo e painel na Expointer abordaram políticas públicas e investimentos para ampliar o uso do combustível renovável

Redação Agro Estadão
03/09/2025 - 12:59

A transição energética, ponto-chave da agenda climática e econômica do Brasil, ganhou fôlego nesta semana, colocando o biometano em destaque. O combustível renovável, produzido a partir de resíduos agroindustriais e urbanos, foi pauta central no 12º Fórum do Biogás, em São Paulo, e no painel Diálogos Energia e Futuro, realizado na Expointer, no Rio Grande do Sul. Ambos ocorreram nesta terça-feira, 2.
Segundo a presidente-executiva da Associação Brasileira do Biogás (ABiogás), Renata Isfer, o biometano “já é realidade econômica e ambiental não apenas em São Paulo, mas também em diversos Estados brasileiros”. Segundo ela, o combustível “é estratégico para a transição energética de São Paulo, mas também para a competitividade da indústria e a sustentabilidade da economia nacional, com ganhos ambientais e sociais. Sem o biometano e os demais biocombustíveis não teremos a transição energética possível, que a gente precisa”, afirmou na abertura do Fórum do Biogás.
A secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de São Paulo (Semil), Natália Resende, ressaltou a liderança paulista no uso do combustível. “Já temos seis plantas de produção de biometano autorizadas, totalizando cerca de 310 mil metros cúbicos por dia de capacidade instalada, sendo metade do setor sucroenergético. Outras sete plantas estão em processo de autorização”, disse. Ela citou ainda o projeto em Presidente Prudente, que terá o primeiro gasoduto exclusivo de biometano no País: “A instalação terá 40 km de rede, com expectativa de atender 5 mil pessoas, além de 58 estabelecimentos”.
Potencialidades paulistas
Um estudo recente, elaborado a pedido da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com apoio técnico e institucional da Semil, mostrou que o estado tem capacidade de produzir cerca de 6,4 milhões de metros cúbicos de biometano por dia — volume equivalente a 40% do consumo total de gás natural e 25% do consumo de óleo diesel do setor de transportes paulista.
Desse total, 84% vêm do setor sucroenergético e 16% de aterros sanitários. Atualmente, em São Paulo, o biometano já é utilizado como matéria-prima para fertilizantes, como energético em processos produtivos e como combustível no transporte de frotas pesadas empresariais.
Programa Bio SP
Durante o fórum, a prefeitura de São Paulo assinou o decreto que cria o programa Bio SP, iniciativa que define regras para a aquisição de biometano e sua incorporação progressiva à frota de ônibus e caminhões de coleta de resíduos da capital. O objetivo é substituir gradualmente veículos a diesel por modelos movidos a combustíveis renováveis e menos poluentes.
A medida busca reduzir emissões do setor de transporte urbano — um dos principais responsáveis pela poluição nas cidades — e estimular a demanda por biometano, criando condições para novos investimentos em produção e infraestrutura.
No mesmo painel, o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação de Mato Grosso do Sul (Semadesc), Jaime Verruck, destacou a mudança de cenário no debate energético. “No início, quando se discutiam políticas públicas, a palavra biometano sequer aparecia. Agora, começamos a inserir essa molécula na lógica de combustível renovável, com contribuição efetiva para a descarbonização. Essa mudança é fundamental”, afirmou.

O secretário apresentou também medidas de MS para estimular o biometano, como isenção quase total de tributos e crédito e o apoio a pesquisas para ampliar a base de insumos e a abertura de linhas exclusivas para biogás e biometano no Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste, com juros de 8,5% ao ano. Além disso, explicou que o remunera produtores que convertem biogás em biometano e já lançou editais de compra pública para ampliar a oferta. Segundo Verruck, o setor ainda enfrenta desafios de preço e logística, com muitos projetos operando fora da rede.
Expansão gaúcha e novos investimentos

Em paralelo, na Expointer, o painel Diálogos Energia e Futuro apresentou os investimentos da área no Rio Grande do Sul. A Companhia Riograndense de Valorização de Resíduos (CRVR) anunciou a meta de atingir 250 mil m³/dia até 2030, o equivalente a 10% do consumo atual de gás natural do Estado. Já a transportadora Reiter Log destacou o plano de produzir o próprio biometano a partir de resíduos agropecuários tratatos em uma usina que passará a operar em 2025 no Estado.
O diretor de Novos Negócios da Ultragaz, Tiago Augusto Santos, informou que a empresa investirá R$ 150 milhões no Estado. O diretor financeiro da Bioo Plataforma de Bio Soluções, Lucas Garrigós, destacou o papel do biometano como vetor de novos negócios. Em Triunfo, a empresa opera uma unidade com contrato de venda garantido por dez anos. No momento, está em fase de licenciamento uma segunda planta em Passo Fundo. “Somos uma empresa jovem, indo para três anos de existência, e temos uma meta bastante clara na economia circular. Recebemos e tratamos resíduos da indústria e geramos biometano, além de biofertilizantes, que voltam para o agro”.
*Com informações da Semil (SP), Semadesc (MS) e Expointer

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