Sustentabilidade
Algodão e agricultura regenerativa: fazenda adota medidas que aumentam a produtividade
Fazenda Pamplona deve ter produtividade recorde de algodão neste ano, após contar com clima favorável e práticas de agricultura regenerativa

Daumildo Júnior* | Cristalina | daumildo.junior@estadao.com
18/08/2024 - 08:41

Com mais de 25 mil hectares de área plantada entre primeira e segunda safras, a Fazenda Pamplona, na zona rural de Cristalina (GO), a aproximadamente 70 quilômetros de Brasília (DF), viu sua produtividade aumentar de forma constante nos últimos anos. Pamplona é uma das 22 fazendas da SLC Agrícola e tem como principais culturas o algodão e a soja.
Somente o algodão representou 40% dos R$ 7,23 bilhões de receita da empresa em 2023. Dos mais de 650 mil hectares de área plantada, 29% são destinados à pluma. Em termos de produtividade, a empresa prevê um salto de 1.489 quilos por hectare na safra 2021/2022 para 1.977 quilos por hectares projetados para a safra 2023/2024 (+32,7%).
Uma das respostas para esse ganho de produtividade ao longo do tempo é a adoção de práticas relacionadas à agricultura regenerativa. De acordo com Beatriz Ramos, coordenadora de Produção da Fazenda Pamplona, fatores como o clima também influenciam diretamente no aumento da produtividade.
“Há cinco anos, a gente não trabalhava tão intensamente com todos esses pilares [da agricultura regenerativa], e hoje a gente vê um avanço linear. Mas tem uma dependência de como vai o clima”, conta Ramos. Em termos de comparação, a média histórica de produtividade da Pamplona é de 128 a 130 arrobas de algodão por hectare e a projeção é que neste ano a propriedade alcance 170 arrobas.
A coordenadora da fazenda explica que são diversos os pontos que embasam a prática regenerativa. Porém, ela destaca os quatro principais.
Conservação do solo
“Pensamos nele como o principal ponto que a gente precisa regenerar, que a gente precisa dar vida”, afirma Ramos. Entre as práticas adotadas está a rotação de culturas. Uma área que recebeu algodão em um ano, no outro terá soja e assim sucessivamente, além de outras culturas no meio dessas safras. Essa segunda safra pode ser uma cultura como milho, por exemplo, ou uma cultura de cobertura (veja abaixo). Outra prática é o não revolvimento do solo.
Uso de biológicos
Em todo o conglomerado, o uso de defensivos biológicos vem crescendo. Na safra 2020/2021, 11,4% das aplicações feitas nas áreas plantadas da SLC eram de produtos naturais, já na safra 2023/2024, o número foi de 15,5%. Somente na Fazenda Pamplona, o uso chega a 20% e a propriedade foi a primeira da empresa a ter uma biofábrica para produção de fungos e bactérias com esse objetivo.
Aplicação seletiva
“Ajuda muito nessa prática [da agricultura regenerativa], porque ao invés de eu fazer uma aplicação em uma área total para controlar uma coisinha que está só aqui ou ali, uma planta daninha, por exemplo, eu vou diretamente no problema aplicando o produto somente onde realmente precisa aplicar através de uma inteligência de uma máquina”, explica Ramos.
Uso racional da água
Apesar do algodão plantado na Pamplona não ser irrigado, o monitoramento constante da quantidade de água usada também é apontado como um dos pilares da agricultura regenerativa da empresa. “Irrigar só quando precisa irrigar e não ter desperdício”, pontua a coordenadora.
Quais as vantagens das culturas de cobertura de solo para o algodão?
Antes de elencar os benefícios dessa prática, Ramos esclarece que o solo recebe uma espécie de tratamento vip dentro da preparação e do planejamento da safra. Uma análise das necessidades de cada parte da propriedade é feita e a partir disso são escolhidas as melhores formas de agir.
Basicamente, o manejo atual utiliza quatro tipos de culturas que podem ser plantadas em mix também: trigo mourisco, nabo, milheto e braquiária. Segundo a coordenadora, “dependendo do que se tem na área, a opção é por uma outra cultura. Por exemplo, o milheto cicla bastante potássio”.
Na visão dela, algumas das vantagens para o algodão são:
- Evitar perda de microrganismos por aquecimento – a palhada que é feita posteriormente diminui o efeito da radiação solar direta no solo, o que conserva mais os microrganismos do local;
- Retorno de nutrientes perdidos – algumas dessas culturas funcionam como cicladoras de nutrientes, ou seja, devido às raízes profundas, elas captam nutrientes das camadas mais inferiores do solo e trazem de volta à superfície. Depois que essa cobertura é cortada e decomposta, os nutrientes voltam a ficar disponíveis nas camadas superiores do solo;
- Interação com microrganismos – existem nematóides e fungos que se beneficiam em detrimento do algodão ou da soja, por isso, um revezamento entre culturas distintas ajuda a mitigar a proliferação desses microrganismos.
- Criação de poros no solo – de forma geral, essas plantas possuem um alto nível de raízes, auxiliando no processo de escarificação do solo. Na prática, depois que a parte aérea da planta é cortada, as raízes são decompostas, porém os espaços criados por elas permanecem e dão lugar a poros no solo. Isso ajuda na infiltração de água e na aeração do terreno.
Ainda segundo Ramos, esse ciclo de inclusão dessas culturas dentro de um sistema de rotação acontece após o plantio da soja. “Planta soja em outubro, colhe em fevereiro, planta cobertura em março ou abril e depois planta algodão em novembro”, explica.
*Jornalista viajou a convite da Abrapa
Siga o Agro Estadão no Google News e fique bem informado sobre as notícias do campo.

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Sustentabilidade
1
De MT para o mundo: conheça fazenda brasileira que é exemplo de sustentabilidade
2
1ª ligação de fornecimento de biometano do País é inaugurada no interior de SP
3
Em São Paulo, fazendas usam a fotografia como aliada do meio ambiente
4
Confundida com mosca, essa abelha ajuda a manter vivo o ciclo das orquídeas
5
Biometano: o que é, como é produzido e qual a diferença para o gás natural
6
Decisão do Cade põe fim à Moratória da Soja em janeiro de 2026

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Sustentabilidade
Produção de biometano no Brasil pode mais do que triplicar até 2027, diz Copersucar
Adoção em larga escala do biometano deve gerar até 20 mil empregos só em SP, que responde por 40% da capacidade de produção nacional

Sustentabilidade
Por causa da seca, SP estende proibição de queima controlada
Medida vale para a cana, outras queimas agrícolas e para controle de pragas; estiagem e calor recorde aumentam risco de incêndios no Estado

Sustentabilidade
Agricultores do Amazonas recebem R$ 1,5 milhão por preservar floresta
Projeto Floresta+ Amazônia recompensa produtores rurais que mantêm áreas nativas conservadas; veja como participar

Sustentabilidade
Integração lavoura-pecuária: um caminho para sustentabilidade
Além de rentável, a ILP combate o desmatamento, sequestra carbono e melhora a qualidade do solo e da água, garantindo um futuro mais verde para a agricultura brasileira
Agro na COP30
Projeto aposta em agricultura regenerativa para reduzir carbono da soja na Amazônia
Usando biochar, pó de rocha e bioprodutos em propriedades-piloto, iniciativa quer converter práticas convencionais em 60 mil hectares do grão
Sustentabilidade
Concurso revela a maior árvore de erva-mate do RS
Exemplar de 2,22 metros de circunferência está em Caseiros e ajudará em pesquisas e preservação da espécie símbolo do Estado
Sustentabilidade
Setor florestal apresenta caderno com soluções para mudanças climáticas
Práticas sustentáveis serão levadas pela Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) para serem apresentadas em Belém (PA), durante a COP 30
Sustentabilidade
Estatuto do Pantanal é sancionado e cria selo para produtos sustentáveis
Texto regulamenta conservação do Pantanal, impõe regras para supressão vegetal e institui programas de serviços ambientais