Sustentabilidade
STF suspende processos sobre a Moratória da Soja em todo o País
Decisão liminar do ministro Flávio Dino interrompe ações judiciais e administrativas até o julgamento definitivo do caso pelo plenário; Abiove e Aprosoja-MT se manifestam
Redação Agro Estadão
05/11/2025 - 15:49

O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu liminar nesta quarta-feira, 5, para suspender os efeitos da Lei nº 12.709/2024, do Estado de Mato Grosso, e paralisar todos os processos judiciais e administrativos que tratam, direta ou indiretamente, da Moratória da Soja. O acordo, em vigor há quase duas décadas, foi firmado entre empresas, indústrias e organizações da sociedade civil para proibir o comércio de soja cultivada em áreas desmatadas na Amazônia após 2008.
A decisão, proferida na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 7774, foi referendada pelo plenário do STF e vale para todo o território nacional. Assim, o ministro determinou a suspensão imediata de procedimentos em andamento no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), em tribunais de Mato Grosso e de São Paulo, até que a Corte conclua o julgamento do mérito da ação.
A ADI 7774 trata da lei mato-grossense — aprovada pela Assembleia Legislativa e sancionada pelo governo de Mato Grosso, Mauro Mendes —, que proibia a concessão de incentivos fiscais ou concessão de terras públicas a empresas signatárias de acordo como a Moratória. No final de 2024, o texto foi contestado pelo PCdoB, PSOL, PV e Rede Sustentabilidade, sob o argumento de que a norma violava princípios constitucionais ligados à livre iniciativa, à proteção ambiental e à segurança jurídica.
Em sua decisão desta quarta, Dino destacou que a Moratória da Soja “fortaleceu a credibilidade do Brasil no cumprimento de compromissos internacionais de proteção ambiental” e que, até o momento, não há decisão do STF declarando o acordo inconstitucional ou ilegal.
O ministro afirmou ainda que a medida cautelar busca evitar decisões conflitantes nas instâncias inferiores e garantir um marco jurídico estável ao agronegócio, diante da relevância econômica e social do tema. “O debate nesta ação de controle concentrado tem o mérito de buscar um marco jurídico seguro para todas as empresas do importante segmento do agronegócio. É incompatível com essa virtude uma litigiosidade exagerada”, escreveu Dino na decisão.
Com a liminar, ficam suspensos, entre outros:
- a ação coletiva nº 1039199-32.2025.8.11.0041, que tramita em Cuiabá (MT);
- procedimentos administrativos no Cade, como o Processo nº 08700.005853/2024-38 e o inquérito nº 08700.011414/2025-45, ambos voltados a investigar o acordo sob o ponto de vista concorrencial.
No início desta semana, a Superintendência-Geral do Cade tinha instaurado um inquérito administrativo para investigar 15 executivos e dirigentes de grandes tradings e associações do agronegócio por suspeita de formação de cartel no âmbito da Moratória da Soja.
Reações
Em nota, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) afirmou ver “com bons olhos” a decisão judicial, por reforçar o entendimento de que a Moratória da Soja é legal e contribui para a credibilidade internacional do agronegócio brasileiro. “A decisão reconhece, mais uma vez, a legalidade da Moratória da Soja ao suspender todas as tentativas judiciais e administrativas de provar o contrário”, declarou em comunicado.
A Abiove acrescentou que segue acompanhando o caso e aguarda a decisão final do Supremo, reafirmando seu “compromisso com o diálogo, a transparência e a segurança jurídica — pilares que orientam sua atuação em defesa do desenvolvimento sustentável do setor e da credibilidade das instituições brasileiras”.
Já a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) também se manifestou, afirmando respeitar a decisão do ministro e confiar na avaliação do plenário do STF. “O Cade já reconheceu a ilegalidade, em matéria concorrencial, da chamada Moratória da Soja e identificou indícios de formação de cartel entre tradings signatárias do pacto”, informou a entidade.
A Aprosoja-MT reiterou ainda sua confiança nas instituições e no devido processo legal, afirmando que o trabalho técnico do Cade, ao investigar executivos das empresas participantes do acordo, “contribuirá para assegurar a livre concorrência, a isonomia entre produtores e o cumprimento da legislação brasileira”.
Próximos passos
A liminar concedida pelo ministro Flávio Dino já está em vigor e será submetida ao referendo do plenário do STF, em sessão virtual marcada para ocorrer entre os dias 14 e 25 de novembro de 2025. Nesse julgamento, os ministros decidirão se mantêm ou revogam a decisão provisória que suspendeu os efeitos da Lei nº 12.709/2024 e paralisou os processos sobre a Moratória da Soja.
Caso o plenário mantenha a liminar, a suspensão continuará válida até o julgamento definitivo da ADI 7774, quando o STF analisará, de forma final, a constitucionalidade da lei mato-grossense e eventuais implicações sobre a Moratória da Soja.
Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Sustentabilidade
1
Conheça a fazenda baiana que já foi hospital de guerra e hoje produz cacau sustentável
2
STF dá 30 dias para SP apresentar plano de contratação de pesquisadores ambientais
3
“Agro tropical brasileiro será patrocinador da paz mundial”, diz Roberto Rodrigues
4
Exigência de rastreabilidade ganha força com lei antidematamento da UE
5
Governo aprova Plano Clima com previsão de aumento das emissões da agropecuária
6
Bunge obtém certificação à soja de Rondonópolis (MT) para combustível sustentável de aviação
PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas
Sustentabilidade
CMN adia exigência ambiental, mas endurece outra regra do crédito rural
Conselho Monetário Nacional redefine normas para liberação e manutenção de financiamentos rurais
Sustentabilidade
Governo aprova Plano Clima com previsão de aumento das emissões da agropecuária
Novo texto permite alta de 1% nas emissões da agropecuária em 2030, chegando a 649 milhões de toneladas de CO₂,
Sustentabilidade
Código Florestal avança no CAR, mas emperra no PRA, aponta estudo
Enquanto validação do CAR avança, adesões ao Programa de Regularização Ambiental crescem pouco e revelam baixo engajamento
Sustentabilidade
GO: embalagens de agrotóxicos apreendidas em ferro-velho
Material estava armazenado irregularmente em ferro-velho; agência alerta sobre riscos e obrigações da logística reversa
Sustentabilidade
3tentos inicia processamento de canola no RS
Após adaptar planta de Ijuí, empresa projeta produção de 32 mil m³ de biodiesel e expansão até 2030
Sustentabilidade
Bunge obtém certificação à soja de Rondonópolis (MT) para combustível sustentável de aviação
Empresa também recebeu selo que reconhece que a soja certificada não está associada a nova expansão agrícola
Sustentabilidade
Nos EUA, indústria do petróleo apoia aumento da mistura de etanol
Instituto Americano do Petróleo se alia a grupos de combustíveis renováveis para pedir regras que permitam a venda de E15 durante todo o ano
Sustentabilidade
RS abre inscrições para programa de Pagamento por Serviços Ambientais do arroz
Edital prevê pagamento de até R$ 100 por hectare a produtores de arroz com certificação ambiental Instituto Riograndense do Arroz