Sustentabilidade
3 pontos da lei antidesmatamento que afetam o agronegócio brasileiro
CNA avalia que “não existe espaço” para modificações no conteúdo da norma e que “lei tem questões internas que fecham mercados”

Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com
11/10/2024 - 07:00

Recebido com “bons olhos”, o adiamento do Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento (EUDR, sigla em inglês) ainda não encerra o debate sobre essa legislação. Segundo a diretora de Relações Internacionais da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Sueme Mori, o atual momento da Comissão Europeia não abre espaço para modificações no conteúdo da norma.
“O adiamento a gente vê com bons olhos, mas a lei continua tendo questões internas que fecham mercados”, afirma Mori ao Agro Estadão. “A gente já tem uma indicação de quem será o comissário para Agricultura e dos outros comissários do segundo mandato da Ursula Von der Leyen, mas não está batido o martelo. A composição e a política do comissário também não está clara”, completa.
A prorrogação da lei antidesmatamento ainda precisa ser votada pelo Parlamento Europeu e a apreciação não tem data marcada. A proposta é adiar a entrada em vigor da lei de 30 de dezembro de 2024 para 30 de dezembro de 2025. Sobre isso, a especialista está mais otimista, principalmente devido aos pedidos de diferentes entidades da própria Europa. O Brasil também se manifestou oficialmente contrário em carta.
“Do ponto de vista de adiamento da cobrança, essa parece que está bem encaminhada. O último grande pedido de adiamento veio das próprias organizações produtivas europeias. […] Essa pressão interna ficou muito forte nos últimos tempos. Por este cenário, eu acho que tem uma sinalização de que esse adiamento vai se concretizar”, comenta a diretora.
“Monstro burocrático” e os problemas para a agricultura brasileira
Mori lembra que dias antes da proposta de adiamento ser anunciada, uma série de entidades europeias ligadas ao setor produtivo, como a European Farmers and Agri-Cooperatives (Copa-Cogeca), assinaram uma carta com críticas pesadas, inclusive classificando a legislação como “monstro burocrático”.
A reclamação era de que havia menos de 100 dias para a lei antidesmatamento começar a valer e ainda não se tinha explicações claras para o cumprimento, o que gerava “incertezas legais e de mercado”.
Junto com a divulgação do adiamento também vieram as publicações de instruções com mais detalhes referentes às questões administrativas da aplicação da lei. Essas novas publicações ainda estão sendo analisadas pela equipe da CNA junto com as setes cadeias afetadas. Porém, mesmo com essas explicações posteriores, três pontos na lei antidesmatamento são considerados prejudiciais à agricultura brasileira.
Data de corte
A EUDR prevê que produtos vindos de propriedades que tiverem desmatamento a partir 2021 não serão aceitos no bloco. Segundo a CNA, a escolha da data foi feita de forma unilateral e com peso retroativo. Mori cita o exemplo do estado de Rondônia, que vê a produção de café crescer, mas parte desses produtores estaria excluída, já que essas áreas são novas.
Não diferenciação entre desmatamento ilegal e legal
A legislação brasileira prevê a possibilidade de desmatamento legal. No entanto, a EUDR não considera isso e exclui propriedades que tenham feito desmatamento mesmo que legalmente.
Sistema de classificação discriminatório
A lei europeia também cria uma classificação de risco de desmatamento entre países exportadores. Quanto maior o risco, mais burocrático tende a ser o processo de entrada dos produtos. Para a CNA, isso pode trazer discriminação entre os países e dificultar as exportações brasileiras.
Recurso na OMC também é estudado
Há também o entendimento de que a EUDR infringe as regras da Organização Mundial de Comércio (OMC), o que poderia dar base para a entrada de recursos no órgão de negociações internacionais. Mori aponta que essa é uma medida que está sendo estudada pela CNA.
“A gente também está avaliando um possível questionamento dessa norma diante da Organização Mundial do Comércio (OMC). Nós e vários [países e entidades], porque até onde a gente entende, essa é uma norma que discrimina entre países. Nesse sentido e em outros, ela estaria em desacordo com as normas da OMC”, indica.
Saiba mais sobre a lei europeia nesta reportagem do Agro Estadão.
Siga o Agro Estadão no Google News e fique bem informado sobre as notícias do campo.
Siga o Agro Estadão no Google News, WhatsApp, Instagram, Facebook ou assine nossa Newsletter

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Sustentabilidade
1
O que faz um produto ser orgânico?
2
A polinização cruzada e sua importância na agricultura
3
Além do vermelho: descubra as surpreendentes cores da melancia
4
Biocarvão: o segredo para solos mais férteis e produtivos
5
Petrobras anuncia R$ 5,5 bilhões para conversão de Refinaria em Biorrefinaria
6
Moratória da Soja: AGU se posiciona contra lei de MT

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Sustentabilidade
Etanol: adoção do E30 deve aumentar demanda pelo anidro em 16,2%
Bioind MT aponta ainda que previsibilidade regulatória e políticas públicas são fundamentais para garantir segurança aos investidores

Sustentabilidade
Unica: setor sucroenergético está pronto para transição impulsionada pelo E30
Testes confirmaram viabilidade técnica do aumento da mistura de etanol na gasolina dos atuais 27% para 30%

Sustentabilidade
Governo gaúcho e Rede ILPF assinam acordo de cooperação técnica
Rio Grande do Sul irá implantar o programa Integra RS para difundir conhecimentos e tecnologias relacionadas ao tema

Sustentabilidade
Governo vai regulamentar nova Lei do RenovaBio
Decreto do Ministério de Minas e Energia vai regulamentar novas regras da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) aprovadas em 2024
Sustentabilidade
Porongo: do chimarrão ao samba
Além das cuias para tomar mate, o porongo é utilizado para criar instrumentos musicais com grande importância cultural e econômica
Sustentabilidade
Moratória da Soja: AGU se posiciona contra lei de MT
Parecer foi anexado ao processo em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF), sob relatoria do ministro Flávio Dino
Sustentabilidade
Sergipe implementa agricultura regenerativa para batata-doce
Iniciativa quer dobrar a produtividade de batata-doce de forma sustentável, sem expandir a área irrigada
Sustentabilidade
Biocarvão: o segredo para solos mais férteis e produtivos
O biocarvão é produzido a partir de resíduos agrícolas, como palha e bagaço de cana, transformando subprodutos em um valioso insumo agrícola