Inovação
Startups do Agro: o que são, quais os tipos e como investir em uma
Em quatro anos, Brasil aumentou número de startups do Agro em mais de 73%
Daumildo Júnior | daumildo.junior@estadao.com
18/06/2024 - 08:34
Agro 4.0, soluções tecnológicas e venture capital são termos das startups do Agro. Essas empresas estão em constante evolução no país na esteira do crescimento do agronegócio brasileiro. Em 2019, o número de startups do Agro era 1.125, enquanto que em 2023 o Brasil chegou a 1.953, um salto acima dos 73% em quatro anos.
Esses dados fazem parte do Radar Agtech, um mapeamento das startups do Agro e principal base de dados sobre o tema no país. O projeto é uma parceria da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), SP Ventures e Homo Ludes.
O Agro Estadão falou com o coordenador do Radar Agtech dentro da Embrapa, Cleidson Dias, para entender o que são essas empresas, os benefícios que elas trazem, quais os tipos e como investir nelas.
O que são startups do Agro?
Uma startup é uma empresa jovem com propostas inovadoras que propõe criar um modelo de negócio que é escalável, ou seja, “ela tem um crescimento em um curto espaço de tempo”, aponta Dias. Isso é o que difere essas novas empresas das empresas tradicionais. Além disso, muitas estão ligadas à área digital, mas a atuação é em diversos setores, como da agropecuária.
Essas startups também são conhecidas como agtechs ou agritechs, assim como existem as fintechs (startups do setor financeiro), edtechs (ligadas ao setor da educação) e as helftechs (do setor da saúde).
Quais os principais tipos de startpus do Agro?
Essas empresas inovadoras têm trabalhado com diferentes aspectos do setor, como gestão do negócio rural, tecnologia para agricultura de precisão e venda dos produtos agropecuários. Existem também algumas formas de dividir essas startups. O método utilizado pelo projeto Radar Agtech vem da Universidade Harvard, situada no estado de Massachusetts, nos Estados Unidos, e classifica assim:
- Segmento antes da fazenda – são startups voltadas para processos anteriores à produção. Em geral são empresas que trabalham com análise laboratorial, sementes e mudas, crédito de carbono e seguros;
- Segmento dentro da fazenda – essas estão mais ligadas à produção. As áreas de atuação costumam ser a de drones, máquinas e equipamentos, softwares, automação de processos, telemetria, controle biológico de pragas e doenças;
- Segmento depois da fazenda – são empresas relacionadas a questões posteriores à produção. Normalmente são marketplaces, armazenamento, logística e processamento da produção (agroindústria).
O que é o agro 4.0?
Esse termo denomina um processo de produção nas propriedades rurais com mais digitalização e tecnologia. São as chamadas fazendas inteligentes, em que os processos e equipamentos têm mais conectividade. É nesse campo que muitas startups do agro estão inseridas, pois elas trazem novas soluções para o produtor rural.
Por que investir em uma startup do Agro?
O coordenador do Radar Agtech aponta algumas vantagens de colocar dinheiro em uma startup.
- Crescimento acelerado: “Antes de mais nada, o investidor tem que ter em mente que o modelo de negócio de uma startup é de crescimento rápido”, afirma Cleidson Dias.
- Setor pujante da economia: cerca de 25% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro vem do setor da Agropecuária. Ao olhar no cenário internacional além da demanda crescente por alimentos, investir no Agro tem maiores probabilidades de retornos consideráveis, já que o setor deve continuar crescendo a longo prazo.
- Carência de inovação: apesar de ser pujante, o Agro ainda demanda novas e modernas soluções para aumentar a produtividade. É neste nicho que as startups atuam, trazendo inovações para o setor.
Como investir em uma startup do Agro?
De forma geral, quem investe em uma startup busca um retorno do dinheiro investido. Esse retorno, geralmente, acontece com a valorização da empresa, isto é, a expectativa é de que no futuro a startup possa valer três ou quatro vezes o valor do início do investimento. Porém, como todo investimento, há o risco de que a empresa não consiga crescer, por isso é importante que os interessados conheçam bem o negócio em que as startups estão inseridas antes de investir.
Além disso, há níveis de investimento que as startups vão alcançando ao longo da maturação do negócio.
1º fase: idealização
Nessa etapa os empreendedores das startups estão testando a ideia do negócio e o investimento muitas vezes parte de um chamado “investidor anjo”. Esse investidor pode ser um familiar ou amigo do empreendedor ou até mesmo empresas ou associações que têm mais recursos e conhecimento sobre esse universo das startups.
2º fase: seed money
A empresa já tem um pouco mais de maturidade, mas segue em desenvolvimento. Essa etapa do investimento tem investimentos com valores menores, de R$ 100 mil a R$ 200 mil. Em alguns casos, as startups recorrem a programas de aceleração ou apoios institucionais de órgãos municipais e estaduais que têm benefícios para empresas de inovação.
3º fase: vale da morte
É uma das fases críticas em que a startup precisa de um grande volume de recursos para escalar ou testar o negócio no mercado. Nessa etapa, os valores que as empresas necessitam giram em torno de R$ 1 milhão a R$ 6 milhões. É nessa fase que mais investidores entram, inclusive pessoas físicas, através de crowdfunding – um tipo de financiamento coletivo, em que é possível investir com valores menores de R$ 1 mil, por exemplo. Algumas plataformas fazem essa intermediação, como é o caso da Arara Seed e da BridgeHub.
Os interessados no crowdfunding devem ficar atentos às plataformas pois não é possível fazer investimentos em startups do Agro a qualquer momento. Isso porque normalmente são feitas rodadas de captação de investimentos. Diferentemente da Bolsa de Valores, em que se pode comprar ações de qualquer empresa listada, o número de startups para investir é bem menor.
Outra forma de investir nessas startups é por meio dos fundos de venture capital. Esses fundos são mais conhecidos no exterior e no Brasil ainda há pouco acesso. Em geral, eles captam grandes quantidades de dinheiro e investem em diferentes startups, ou seja, não há aplicação apenas em uma startup e nem todos tem startups do Agro no portfólio – no leque de empresas que o fundo investiu.
Em ambas as formas de investir, os investidores aplicam o dinheiro na startup e recebem uma porcentagem dela e passam a ser sócios do negócio, semelhante ao que acontece com as empresas compradas na Bolsa de Valores. Uma diferença significativa é quanto ao crescimento dessas empresas que chegam a dobrar de valor em pouco tempo, além disso, a maioria do lucro é reinvestido na própria startup.
O que observar antes de investir
Cleidson Dias resume em três quesitos básicos para observar antes de investir em uma startup e sugere alguns questionamentos para serem feitos pelo próprio investidor:
- Grau de inovação – É uma tecnologia disruptiva? Qual o potencial dessa tecnologia/solução apresentada pela startup?
- Mercado – Qual a capacidade que a startup tem para atender o mercado? Ela consegue chegar em outras regiões? Como é a demanda do mercado para aquela tecnologia/solução?
- Equipe – Quem são as pessoas que estão à frente da startup?
Tendências de investimento
O Radar Agtech também observou que alguns tipos de startups ou de áreas de atuação das startups tendem a ter um bom desempenho nos próximos anos. O projeto elencou pelo menos quatro com potencial de mercado:
- Agfintechs – trabalham com tecnologia e serviços relacionados ao setor financeiro com foco no Agro;
- Insumos biológicos – atuam com inovações com utilização de biológicos para fertilização ou defesa agropecuária;
- Marketplaces – são plataformas que visam a comercialização de produtos agropecuários;
- Climatechs – empresas que tratam de soluções tecnológicas para as mudanças climáticas ligadas ao setor Agro.
Benefícios das startups do Agro para o produtor rural
O coordenador do Radar Agtech aponta que a vantagem para o produtor rural saber e ir atrás das startups do Agro são as novas soluções para aumento de produtividade. Essas inovações podem trazer:
- aumento de produção com o mesmo espaço físico;
- melhoria da gestão da propriedade;
- economia de custos de produção;
- integração campo e cidade, tornando-se um produtor rural-urbano.
“Aquela inovação que parece estar muito distante do produtor, algo que ele via em outros países, agora está cada vez mais próximo”, conclui Cleidson Dias.
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