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Cana-de-açúcar: conheça a terceira maior cultura do país e fonte de energia limpa

Cultura é difundida há séculos no Brasil; veja o que é, as vantagens e como plantar cana-de-açúcar

9 minutos de leitura 14/06/2024 - 10:31

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Daumildo Júnior | daumildo.junior@estadao.com

Cana-de-açúcar cortada. Foto: Gustavo Porpino/Embrapa
Cana-de-açúcar cortada. Foto: Gustavo Porpino/Embrapa

A cana-de-açúcar é uma das mais importantes culturas no país. Só em 2023, essa planta gerou R$ 112,5 bilhões, segundo o Valor Bruto da Produção (VPB) do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Isso coloca a cultura como a terceira maior do país, atrás apenas de soja e milho.

Para saber mais sobre a cana, o Agro Estadão conversou com dois especialistas no assunto: o gerente executivo Comercial do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), Rodrigo Almeida, e o engenheiro agrônomo, produtor rural e diretor da Associcana de Jaú (SP), Guilherme Matar Longo. Eles esclareceram algumas dúvidas e deram orientações sobre o cultivo.

O que é a cana-de-açúcar?

A cana-de-açúcar é uma gramínea, ou seja, é da mesma família das gramas, capins e do trigo, por exemplo. A planta tem raiz, caule e folhas, sendo o caule mais usado comercialmente. 

A cana também é uma cultura perene. Isso quer dizer que, mesmo sendo cortada, ela rebrota e cresce novamente. Isso é um fator fundamental para o cultivo ser bastante difundido no Brasil. 

Uma curiosidade da cana é que ela também gera pendões para se reproduzir, no entanto, isso não é bom para a produção, já que quando ela atinge essa fase, o caule passa a diminuir de tamanho e perde o valor para produção de açúcar ou etanol. 

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pendão da cana
Pendão com flores da cana. Foto: Maria Goreti Braga dos Santos/Embrapa

Cana é fruta?

Não. A cana é uma planta e não é classificada como fruta. O aspecto doce e os usos diferentes podem causar a confusão, mas a cana não é uma fruta, nem mesmo legume ou verdura. 

Origem e história da cana-de-açúcar no Brasil

A cana tem origem no arquipélago de Nova Guiné, na Oceania. Registros apontam que ela foi utilizada na Ásia séculos antes de Cristo e, no Brasil, a cultura foi trazida pelos portugueses. Eles já cultivavam a planta na Ilha da Madeira e ainda no século XVI trouxeram para a costa brasileira, de onde se espalhou e foi um importante motor da economia desde então. 

O diretor da Associcana de Jaú (SP), Guilherme Matar Longo, conta que os italianos, tempos depois, perceberam que era possível fermentar a cana e, a partir disso, produzir cachaça. “Principalmente na região de Piracicaba, criaram-se muitos pequenos engenhos familiares porque eles observaram que a cachaça também tinha um alto valor”, revela. 

Então, a cana-de-açúcar passou a fazer parte do cotidiano das pessoas e, mais tarde, uma tradição culinária. Alguns exemplos disso são os diferentes tipos de rapaduras e a garapa. 

Para que serve a cana-de-açúcar?

Além da rapadura, da garapa e da cachaça, outros dois produtos básicos e muito conhecidos obtidos através da cana são o açúcar e o etanol. No entanto, a cana tem ganhado novos usos, como produção de energia, bioplástico e até SAF (sigla em inglês para Combustível Sustentável de Aviação). 

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A produção tem sido cada vez maior no Brasil. Na safra 2023/2024 alcançou o recorde de 713,2 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). 

derivados de cana
Produtos feitos a partir da cana: garapa, cachaça e doces. Foto: Paulo Lanzetta/Embrapa

A cana-de-açúcar na geração de energia

Entre as formas de gerar energia, as principais são as seguintes:

  • Biocombustível: além do etanol, também é possível fazer o SAF para as aeronaves. São considerados biocombustíveis porque liberam menos carbono e outros gases do efeito estufa no momento da combustão;
  • Bioenergia elétrica: a queima do bagaço da cana em caldeiras gera vapor que é utilizado para geração de energia elétrica;
  • Biometano: os resíduos que sobram no processo de fabricação do etanol ou do açúcar podem ser utilizados para produzir biometano. Isso porque esse material orgânico que sobra libera metano, que pode ser captado, tratado e armazenado para funcionar como combustível para máquinas e caminhões dentro das próprias usinas, por exemplo. 

Outras produtos e usos dos canaviais

Os especialistas ainda apontam outros usos que a cana-de-açúcar tem e que não são tão conhecidos.

  • Biofertilizante: a vinhaça sobra no processo de destilação do álcool da cana e é usado como fertilizante. Em geral, as usinas jogam essa vinhaça nas próprias lavouras de cana, pois esse material tem uma alta concentração de minerais e nutrientes que são bons para a planta.
  • Bioplástico: nos vários usos do bagaço, essas fibras podem se tornar um plástico biodegradável com inúmeras aplicações.
  • Carvão: esse mesmo bagaço também pode ser processado para se tornar carvão vegetal, sendo uma opção para o churrasco de domingo, por exemplo. Além disso, também pode virar carvão ativado para ar-condicionado e purificadores de água.
  • Perfumaria: outro uso indireto da cana é em perfumes. Usinas têm feito contratos com empresas do ramo de perfumaria para a compra do material. 
  • Hidrogênio verde: do etanol também é possível extrair o hidrogênio verde, que é uma das soluções para o uso dos combustíveis fósseis. A vantagem é que a emissão de gases do efeito estufa é zero.
  • Ração animal: a cana também é usada como ração para bovinos e suínos. Em algumas regiões, onde o período de estiagem é longo, essa cana serve como suplementação alimentar.
plantio da cana
Plantio de cana-de-açúcar. Foto: Claudio Lucas Capeche/Embrapa

Cultivo e manejo da cana-de-açúcar

Pode parecer simples plantar cana, até mesmo por não exigir sementes – um pedaço do caule já é suficiente para brotar. Mas para uma produção empresarial, o nível de tecnologia e exigência é alto, garantem os especialistas. Desde o plantio até a colheita, atualmente, a produção de cana tem passado por inovações constantes, como o lançamento de novas cultivares ano após ano. 

Guilherme Matar Longo afirma que a cana caminha cada vez mais para uma agricultura de precisão, no qual os dados e tecnologias são utilizados do início ao fim do processo para aumentar a produtividade por metro quadrado. 

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Por onde começar a plantar cana?

O primeiro passo é identificar a variedade de cana mais adequada para o solo e clima da região. Para isso, é possível fazer essas análises com o apoio de instituições como o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), que fica em Piracicaba (SP). Também é recomendado o acompanhamento de um agrônomo para produções em larga escala. 

“Hoje a gente desenvolve lá no CTC um trabalho que a gente chama de ambiente de produção. Basicamente, eu olho para aquele solo e faço uma amostragem daquele solo e classifico em ambientes bons, intermediários ou mais restritivos para a produção e com isso faço a adequação das minhas variedades. Possivelmente, se você não fizer esse trabalho de base, você vai ter um insucesso”, afirma o gerente Executivo Comercial do CTC, Rodrigo Almeida.

Escolhida a variedade mais adequada, é necessário preparar o solo. Dependendo do local, será necessário fazer o processo de calagem – que corrige a acidez do solo. Além disso, é preciso observar a estrutura do solo para que não haja erosão futuramente. Também será necessário uma adubação do solo. Todo esse processo deve ser feito com um agrônomo. 

Como é o plantio da cana-de-açúcar?

A cana possui no caule estruturas chamadas de gemas que é onde a nova planta irá brotar. Essas gemas já estão aptas para dar origem a novas plantas a partir de nove meses que a planta “mãe” germinou e se desenvolveu. 

Com isso, o caule é cortado em vários pedaços deixando as gemas intactas. Esses pedaços são colocados de forma horizontal em sulcos – buracos – com espaçamento de 1,5 metros (para permitir a passagem de tratores futuramente). Depois basta cobrir os buracos com a terra que foi afastada.  

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Segundo o produtor e engenheiro agrônomo, Guilherme Matar Longo, o plantio mecanizado tem se tornado cada vez mais comum. Apesar disso, não é raro que alguns produtores ainda façam o plantio de forma manual. 

Já o período do ano, em geral, para o plantio da cana costuma ser feito em fevereiro, maio e abril. “Cerca de 70% do plantio no Brasil é feito nessa época”, pontua Rodrigo Almeida.

fertirrigação da cana
Forma comum de aspersão da vinhaça nos canaviais. Foto: Saulo Coelho Nunes/Embrapa

Desenvolvimento da lavoura de cana

O desenvolvimento e consolidação da lavoura exige um monitoramento de perto do produtor, especialmente na fase em que a planta está brotando e formando as folhas e raízes, pois esses são momentos mais propícios para o surgimento de pragas e doenças. Além disso, o produtor também pode fazer a adubação folicular, que é oferta dos nutrientes do adubo só que pelas folhas da cana.  

Nessa etapa também é comum o crescimento de plantas invasoras, por isso são usados defensivos agrícolas para impedir o desenvolvimento dessas plantas concorrentes. 

Colheita da cana

O tempo em que a planta está apta para ser colhida vai depender da variedade escolhida e do planejamento feito. Em geral, essa etapa pode ser feita depois de 12 meses ou depois de 18 meses do plantio, dependendo do tipo de cana. Basicamente, a cana de 12 meses tem mais rendimento porém tem menos vigor, já a de 18 meses tem mais vigor e longevidade e menos produtividade. 

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No caso da cana de 18 meses, essa colheita só é feita nesse período na primeira vez. Depois a colheita é realizada também de 12 em 12 meses.

Quanto à forma com que é feita a colheita, a maioria dos produtores realiza de forma mecanizada e crua. Vale ressaltar que já não se utiliza a queima dos canaviais como forma de facilitar a colheita, além de ser proibida por lei. 

colheita da cana
Colheita de cana-de-açúcar. Foto: José Roberto Miranda/Embrapa

Vantagens de produzir cana-de-açúcar

Diferente de outras culturas, a cana tem algumas características que favorecem o seu plantio por parte do produtor rural. Na visão dos especialistas no assuntos, essas são algumas vantagens:

  • Cultura perene: a cana não exige replantios anuais. Uma vez plantada, uma mesma lavoura pode produzir bem de seis a sete anos. Além disso, mesmo que sofra alguma intempérie climática, a lavoura vai conseguir produzir algo;
  • Previsibilidade nos ganhos: em geral, os contratos entre produtores e usinas são de longa duração, o que garante ao produtor que toda a sua colheita será comprada e, consequentemente, garante a renda. Isso também ajuda no planejamento do negócio rural.  

Cuidados antes de começar a produzir

Atualmente, quase 40% de toda a produção nacional de cana-de-açúcar vem de produtores independentes de cana. A maior parte continua sendo produzida pelas usinas processadoras. 

Como a cana é uma cultura que exige uma empresa beneficiadora por perto, o produtor interessado neste negócio deve levar isso em consideração antes de começar uma lavoura de cana. Isso porque o frete não compensa para distâncias muito grandes. 

Também é importante o produtor ser auxiliado por um advogado para a formalização do contrato de fornecimento de cana para a usina. Associações de produtores podem ajudar também neste momento.

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