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Mercado canavieiro apresenta tecnologias inovadoras para o plantio
Empresas paulistas investem em clonagem de mudas in vitro, plantadora com inteligência artificial e maior velocidade na cobertura de toletes

Igor Savenhago | Ribeirão Preto (SP)
07/07/2025 - 08:00

No laboratório em Piracicaba (SP), funcionários da startup InPlant, que tem pouco mais de um ano e meio de existência, produzem mudas de cana-de-açúcar por uma técnica de clonagem in vitro.
Primeiro, eles recolhem a ponta da cana, conhecida popularmente como palmito, e a reduzem até atingir o tamanho aproximado de um grão de arroz. Em seguida, esse material é colocado em um substrato com nutrientes para germinar.
A próxima fase consiste em segmentar a planta obtida em mudas. Todas são colocadas, então, em biorreatores — com estrutura simples, montados em garrafas plásticas —, nos quais são multiplicadas por seis — ou seja, cada 100 mudas, por exemplo, viram 600. Ao final do processo, a partir de uma única cana, é possível obter cerca de duas mil mudas.
Essa quantidade é uma das diferenças desse sistema em relação à produção convencional de mudas pré-brotadas (MPB) — pela qual as mudas germinam a partir das gemas que ficam entre os colmos e cada cana resulta em seis a dez mudas.
Pela técnica da InPlant, uma das três empresas do Brasil a fazer a propagação de mudas de cana por meio de clonagem in vitro, as plantas, depois de passarem pelos biorreatores, precisam de um período de aclimatação, para que comecem a se adaptar ao ambiente externo, e são posteriormente finalizadas em estufas.
A empresa, criada pelo agrônomo e mestre em fitotecnia Enrico Mucciolo, pelo engenheiro da computação Christian Demetrio e pela agrônoma e doutoranda em micropropagação Jéssica Jacob, tem capacidade para produzir 1 milhão de mudas anualmente. Demetrio afirma, no entanto, que a demanda já é dez vezes maior.
Ele explica que, para aumentar o número de mudas geradas, o projeto está sendo oferecido para ser montado nas próprias usinas — já que apenas parte do ciclo precisa ser feito nas dependências da InPlant. Isso facilitaria o transporte e, consequentemente, permitiria reduzir custos. Demetrio garante que um caminhão que carrega 40 mil mudas produzidas pelo sistema convencional de MPB pode acondicionar dois milhões de mudas se elas forem transferidas em garrafas dos biorreatores.
“Hoje, o maior custo produtivo das mudas de cana é o transporte, que teria, com isso, uma redução significativa, juntamente com o da mão de obra”, explica Demetrio.
Plantadora com inteligência artificial

Essa é apenas uma das novidades apresentadas pelo mercado nos últimos meses para o plantio de cana. Outra empresa que promete reduzir custos ao setor sucroenergético é a TMA, fabricante de máquinas agrícolas com sede em Ribeirão Preto (SP), que está lançando uma nova versão da sua plantadora automatizada PTX 7010, agora equipada com inteligência artificial.
O equipamento, voltado ao plantio por meio de toletes, monitora, em tempo real, a quantidade depositada no solo. Em caso de falha, interrompe o processo de forma automática e obriga o operador a retornar ao ponto que não recebeu o tolete.
De acordo com Davi Francisco, coordenador de pesquisa e inovação da TMA, isso é possível porque a inteligência artificial embarcada na máquina é programada para fazer a contagem dos toletes plantada em cada talhão — o que antes era difícil de fazer porque eles ficam espalhados dentro de uma caixa.
“Geralmente, o custo para corrigir uma falha instantaneamente, que é o que essa máquina possibilita, é metade em comparação com a correção que precisa ser feita posteriormente, depois que a máquina já passou”, comenta Francisco.
A TMA é líder de vendas de plantadoras de cana no mercado brasileiro, com uma fatia de 42%. Em 2024, dobrou a produção, passando de 50 para 102 unidades. Em 2025, anunciou a construção de uma nova fábrica, que deve triplicar a capacidade produtiva — além de plantadoras de cana, a empresa tem linhas de transbordos e de outros equipamentos ligados aos segmentos de cana, grãos, laranja e floresta plantada.
A nova fábrica, que receberá investimentos de R$ 30 milhões, terá 13 mil metros quadrados e deverá ficar pronta em novembro, quando a empresa completa 18 anos.
Agilidade de um tiranossauro

Velocidade é a característica marcante do T-Rex, que tem o nome de um dinossauro que era conhecido pela agilidade, mas que está longe de se referir a algo pré-histórico. Pelo contrário. Denomina um lançamento do Grupo Orion, com sede na capital paulista.
O modelo, também desenvolvido para o plantio por toletes, opera, segundo a empresa, a uma velocidade de 12 a 15 km/h, realizando, de forma simultânea, aplicação no sulco, cobrimento e compactação. O vice-presidente do Grupo Orion, Alexandre Salgado, afirma que, pela rapidez, a máquina consegue realizar o trabalho de três cobridores tradicionais.
Segundo o diretor de Marketing de Novos Negócios do grupo, Rodrigo Alandia, uma das principais novidades da tecnologia é um sistema chamado FlowOne, que controla e regula a aplicação de insumos individualmente, bico a bico, com os dados sendo transmitidos para o monitor do trator em tempo real, via wi-fi, e armazenados em uma plataforma para atualização da gestão — o que, de acordo com o fabricante, se configura como um novo paradigma no plantio de cana via toletes.

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