FEICORTE 2025
O bezerro de 2027 e a carne do futuro
Investimentos na estação de monta ditam produção de bezerros de qualidade em ano de virada do ciclo pecuário

Juliana Camargo | São Paulo
09/06/2025 - 16:44

“Este é o momento de pensar e preparar o bezerro que será comercializado em 2027”, indica Caliê Castilho Silvestre, professora do curso de Medicina Veterinária da Unoeste e coordenadora do Grupo de Estudos ReprodOeste.
Segundo ela, a carne que vamos consumir daqui a alguns anos precisa ser planejada agora. Por isso, pecuaristas que estiverem presentes na Feicorte 2025 terão a oportunidade de participar de um simpósio sobre os cuidados na estação de monta para a produção de bezerros de qualidade. O evento é coordenado pelo Grupo de Estudos ReprodOeste.
O que motivou a escolha do tema foi a virada do ciclo pecuário, de baixa para alta. Ao Agro Estadão, Castilho contou que o momento econômico atual, com o início da valorização do bezerro, contribuiu para essa decisão. “A qualidade do bezerro que será comercializado na desmama, ou seguirá para recria e terminação em 2027, depende diretamente das decisões tomadas na estação de monta a partir de agora. É fundamental investir desde já em nutrição, sanidade, genética e gestão”, afirma.


Virada do ciclo pecuário
Quem acompanha a pecuária de corte de perto sabe que o setor funciona em ciclos marcados por fases de retenção e descarte de matrizes — e cada um desses movimentos afeta diretamente a oferta de animais para abate e, consequentemente, os preços da arroba.
Após um período de retenção de fêmeas — registrado entre 2019 e 2021 —, a pecuária de corte entrou em expansão. A maior produção e oferta de carne no período refletiu negativamente nos preços da arroba e de todas as categorias de reposição.
Com a queda na remuneração, muitos produtores decidiram reduzir o rebanho, enviando vacas e novilhas para o abate. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em 2024, o Brasil registrou recorde no abate de fêmeas: 16,9 milhões de cabeças — 19% a mais em comparação com 2023.
Esse menor número de reprodutoras já reflete no preço da cria. “Na nossa visão, o período de alta do ciclo está só começando, já que, no início de 2025, a participação de fêmeas nos abates se manteve em alta, ou seja, o mercado já andou e a oferta ainda nem diminuiu”, analisa Hyberville Neto, consultor e diretor da HN Agro.
A manutenção da alta do preço do bezerro nos próximos meses deve incentivar o pecuarista a mudar o rumo do negócio e reter as fêmeas — como aconteceu entre 2019 e 2021. “A retenção já começou e vai ficar mais clara no segundo semestre, quando, historicamente, a participação das fêmeas é menor. Ao longo de 2026, será mais evidente, porque vamos ter dificuldade para encontrar bezerros”, aponta Ronaty Makuko, produtor de bezerros no Pará e analista de mercado da Pátria Agronegócio.
Preço do bezerro em alta
Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostram a valorização do bezerro neste ano: em Mato Grosso — estado referência na produção de bezerros —, a categoria apresentou alta de 8,6% entre janeiro e abril. De acordo com o indicador Cepea, em 12 meses, a valorização acumulada ultrapassa 40%.
Entretanto, há estados onde a recuperação dos preços está mais lenta, principalmente no Norte do país. Conforme explica Ronaty, isso ocorre por questões logísticas e pela menor liquidez dos compradores. “Não tivemos alta significativa para o bezerro nos estados do Norte, mas o preço também não caiu em 2025. Acredito que o movimento está só começando”, sinaliza.
Pecuária eficiente resulta em ciclos menores
Se antes o ciclo pecuário seguia um ritmo mais rígido, hoje ele vem se encurtando graças à modernização da atividade e à intensificação dos sistemas de produção. “Com investimentos em genética, uso da tecnologia e seleção apurada, conseguimos aumentar a eficiência reprodutiva da atividade: melhorar a precocidade das fêmeas, o percentual de desmame e reduzir as perdas pré e pós-parto”, diz Sérgio Pimentel, produtor de bezerros em Cassilândia (MS).
Ele é a terceira geração de uma família de pecuaristas. O trabalho começou com o avô, Vinicius Faccio Pimentel, que fazia o ciclo completo: cria, recria e engorda. Em 1999, passaram a focar no melhoramento genético do gado Nelore e, desde que Sérgio assumiu o negócio, em 2008, a cria — produção de bezerros — é a atividade principal da propriedade. “O nosso critério de seleção não depende do ciclo pecuário. A vaca pode ter um valor genético altíssimo; se ela não for eficiente, é descartada”, afirma.



Segundo ele, o rigoroso critério de descarte começa com a análise do fenótipo, a precocidade na primeira prenhez (entre 12 e 16 meses), o encurtamento do tempo para a segunda prenhez e a entrega de um bezerro eficiente e pesado. “Uma coisa é emprenhar vaca; outra é fazer essa vaca emprenhar sem perdas e desmamar um bezerro bom — uma cria eficiente. É preciso persistência para se manter na atividade”, completa o criador, ressaltando que o problema é que, quando vem um ciclo de alta e o bezerro valoriza, todo mundo quer virar criador. Mas, quando o ciclo é de baixa, as pessoas querem vender.
A professora Caliê reitera que, além da persistência, os investimentos em genética, nutrição e gestão se tornam essenciais para a sustentabilidade do negócio. Neste contexto, as palestras do simpósio ReprodOeste devem reforçar os cuidados que começam na estação de monta.
“A proposta do simpósio é oferecer ao produtor estratégias práticas para melhorar a eficiência da estação de monta e qualificar os bezerros desde os primeiros dias de vida. Isso tudo se conecta diretamente com a virada do ciclo e com a valorização da cria no mercado”, diz Carla Tuccilio, CEO da Verum Eventos, organizadora da Feicorte e consultora de eventos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
O simpósio da ReprodOeste — “O Bezerro 2027” — será realizado no dia 20 de junho, a partir das 9h da manhã, na Arena Feicorte.

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