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FEICORTE 2025

Fazenda pioneira mostra como ILPF é caminho para produção eficiente

Referência mundial na pecuária, o Brasil ainda tem 160 milhões de hectares de pastagens com potencial para sistemas de integrados de produção

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Juliana Camargo | São Paulo | Atualizada às 11h15

16/06/2025 - 08:00

Fazenda Santa Vergínia, em Santa Rita do Pardo (MS), é um exemplo bem-sucedido de integração floresta, pastos e animais. Foto: grupo Brochmann Pollis/Divulgação
Fazenda Santa Vergínia, em Santa Rita do Pardo (MS), é um exemplo bem-sucedido de integração floresta, pastos e animais. Foto: grupo Brochmann Pollis/Divulgação

“A integração não é somente uma palavra que está na moda, mas a única solução viável para que uma propriedade rural seja produtiva e eficiente”, avaliou ao Agro Estadão, Arthur Pollis, diretor presidente do grupo Brochmann Pollis — referência em sustentabilidade.

A Fazenda Santa Vergínia, em Santa Rita do Pardo (MS), é um exemplo bem-sucedido de integração — floresta, pastos e animais — e uma das pioneiras a testar os modelos a partir dos anos 1990. Em extensos talhões, rebanho e pés de eucalipto compartilham o espaço lado a lado, com medidas testadas ao longo dos anos para atingir a máxima produtividade com cada uma das atividades.

José Zacarin, que trabalha com o grupo desde 1987 — primeiro como funcionário e hoje consultor —, acompanhou a implantação do projeto desde o início. “Uma coisa é implantar o sistema, outra é descobrir o que o sistema suporta e rende”, disse. “A gente percebeu que muitos estavam implantando o sistema integrado sem medir a carga, a unidade animal. Como somos uma fazenda de pecuária decidimos implantar aos poucos e ir testando, para chegar ao melhor arranjo”, complementou. 

A proporção ideal por hectare — divisão entre as lavouras e o gado — adotado na fazenda é: 70% pasto e 30% de floresta de eucalipto. Medidas, que segundo Zacarin, podem ser usadas em outras propriedades independentemente da região.

Nas imagens enviadas ao Agro Estadão (abaixo), é possível ver, do alto, essa distribuição: o alinhamento dos talhões — 27 metros para a pastagens e 9 metros para a floresta —, intercalados e integrados ao longo de toda a propriedade. Além das áreas integradas sete mil, dos 30 mil hectares, são de reserva permanente.

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Faixas de pastagem e floresta se alternam na fazenda, que ainda mantém 7 mil dos 30 mil hectares como reserva permanente. Foto: Grupo Brochmann Pollis/Divulgação

Além de proporcionar sombra para o gado e melhorar o microclima do local, a produtividade do eucalipto impressiona. “Como entra muita luz a nossa floresta produz 20% mais”, ressalta Zacarin.

Ele destaca que as atividades precisam ser economicamente viáveis. A escolha do eucalipto, por exemplo, ocorreu por causa da demanda das indústrias da região. 

Hoje, o grupo tem outras quatro fazendas, no Mato Grosso do Sul e no Paraguai, com produção pecuária e de grãos, e estuda qual integração é economicamente viável para ser implantada em cada uma delas.

Muito além da produtividade

Os sistemas integrados de produção são ambientalmente corretos porque reduzem a emissão de gases de efeito estufa (o metano, no caso da pecuária) e sequestram carbono com a agricultura e a floresta.

A Embrapa enumera ainda outros benefícios da ILPF:

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  • Mais produção e diversificação na mesma área;
  • Maior produtividade, otimizando o aproveitamento de insumos e recursos naturais;
  • Proteção do solo, com cobertura vegetal o ano todo, evitando a erosão;
  • Bem-estar animal, com conforto térmico.

A Fazenda Santa Vergínia foi a primeira propriedade no Brasil a ganhar, em 2021, o selo Carne Carbono Neutro (CCN), certificação desenvolvida pela Embrapa Gado de Corte. Com isso, a propriedade recebe, por cada arroba, abatida uma bonificação do frigorífico pelo trabalho de sustentabilidade.

Além de neutralizar o metano da atividade pecuária, a fazenda produz créditos extras de carbono, como explica Zacarin. “No nosso sistema, 200 árvores seriam suficientes para neutralizar o gás produzido por uma cabeça de gado. Mas temos 600 árvores por hectare — ou seja, 400 árvores a mais. Infelizmente, ainda não há oportunidade de venda desses créditos de carbono. É um mercado que está em desenvolvimento”, comenta o consultor da fazenda.

Zacarin aponta a falta de políticas que remunerem o produtor pela produção ambientalmente correta e tão exigida no mundo. Dinheiro que poderia ser usado na ampliação de áreas integradas. “Em 2023, tivemos uma onda de calor intenso. Pela primeira vez, em quase 40 anos de carreira, eu vi animais morrerem por estresse térmico. Mas não na área com o pasto e a floresta integrados. Ou seja, vai além das questões econômicas, de rentabilidade ou protocolares. O sistema é uma necessidade”, salienta. 

Brasil é referência global em sistemas integrados de produção

Atualmente, mais de 17 milhões de hectares no Brasil trabalham com sistemas integrados. O dado é da Rede Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta (Rede ILPF), uma iniciativa público-privada com participação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). 

Francisco Matturro, presidente-executivo da Rede ILPF, destaca os benefícios do sistema. “O Brasil tem 160 milhões de hectares de pastagens, em boas condições ou não, e tudo isso pode ser transformado em sistemas integrados. Auxiliando na recuperação do solo, no aumento da produção e da produtividade. Um potencial de expansão”, pontua. 

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Segundo ele, para recuperar a pastagem degradada precisa de investimento e receita. “Isso, porém, só será feito com boas políticas públicas, mas também com a iniciativa privada participando”, diz Matturro. 

Como exemplo, o presidente-executivo da Rede ILPF cita o ‘Programa Integra São Paulo’, desenvolvido para contribuir com a restauração de áreas degradadas. Desde sua implementação, o programa proporcionou a recuperação de 1,3 milhão de hectares no Estado.  

Dos 17 milhões de hectares com sistemas integrados, 83%, são de lavoura-pecuária, pela viabilidade econômica e opções de culturas que podem ser consorciadas. A pecuarista Érika Bannwart, de Pirajuí (SP), por exemplo, integra a pecuária com a produção de melancias. Ela arrenda uma parte da fazenda para agricultores da região. Um jeito de melhorar a qualidade e produtividade da pastagem sem investir muitos recursos.

Durante um semestre, entre julho e dezembro, produtores de melancia fazem o trato do solo, o plantio e a colheita da fruta. Nos outros seis meses o terreno é usado para a pecuária. “O uso dos fertilizantes aumenta a produtividade e protege o solo. A forrageira nasce forte. E no período das águas a pastagem está pronta para receber o gado meio sangue Angus” explica Érika.  

“Introduzir a floresta, como atividade remunerada, é bem mais desafiador: o investimento inicial, é mais elevado; o tempo de retorno mais longo no caso da madeira; o manejo da sombra para não prejudicar a pastagem; e a capacitação técnica dos produtores, que muitas vezes não têm familiaridade com a parte florestal do sistema”, explica Matturro. 

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Além de São Paulo, a Rede ILPF está expandindo suas ações pelo Brasil. Recentemente, foram assinados acordos para levar o ‘Programa Integra’ para Goiás, Rio Grande Sul, Paraná e Rio de Janeiro.

Feicorte como palco da ILPF 

Uma área de dois mil metros quadrados foi reservada na Feicorte 2025 para mostrar tecnologias e possibilidades de ILPF. 

No local, serão apresentados sistemas consorciados de pastagens com o eucalipto e o milho. O projeto aberto ao público é uma parceria da Rede ILPF com a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

Com o tema “Boi brasileiro, produtivo por natureza”, a Feicorte 2025 reunirá produtores, técnicos, empresas e especialistas em Presidente Prudente (SP), no Recinto de Exposições Jacob Tosello. A feira inicia nesta terça-feira, dia 16, e segue até o dia 21 de junho. A programação completa está disponível em www.feicortesp.com.

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