Ultrassom ajuda a selecionar o gado na busca por carne de qualidade 

Ultrassom, com certeza você sabe o que é, e já deve ter feito exames com ele em algum momento da vida. Um equipamento utilizado principalmente pelas futuras mamães, durante o pré-natal, está dentro dos currais. 

A qualidade da carne de um animal só era constatada dentro do frigorífico. Só na desossa era possível ver o rendimento, o marmoreio e a gordura entremeada que dá sabor, maciez e é cobiçada pelo mercado premium.  A ultrassonografia da carcaça mudou o destino dos animais, que produzem essa qualidade. Antes do abate, passam pelo controle de qualidade com a tecnologia de imagem e são selecionados previamente para reprodução, o que antes ocorria somente na desossa. 

De acordo com Liliane Suguisawa, diretora técnica da DGT Brasil –  empresa norte-americana responsável pelo programa de software que faz a análise dos dados coletados – de cada 10 animais Nelore apenas um é bom para marmoreio. “O que acontecia no passado? A gente abatia esse animal e ele aparecia como um premiado no meio do abate. Com o ultrassom na fazenda conseguimos identificar esse indivíduo e multiplicar sua genética através da coleta de sêmen e colocar em diferentes rebanhos”, explica.

Nas imagens geradas pelo ultrassom, é possível ver a espessura da gordura, o marmoreio e o tamanho do contrafilé, tecnicamente chamado de AOL – área de olho de lombo. Esses dados ajudam o pecuarista a selecionar e reproduzir, com mais eficiência, carnes com essas características.

A ultrassonografia de carcaça começou a ser utilizada no Brasil nos anos 1990 para avaliar o ganho de peso dentro dos confinamentos, como os animais convertem ração e suplementos em peso e carne. A partir de 2005 o uso foi ampliado para currais e fazendas de todo o Brasil. 

Confrades na produção de carne de qualidade

O uso da ultrassonografia é pré-requisito para pecuaristas fazerem parte da Confraria da Carcaça Nelore (Concarne), um grupo criado em 2016 para troca de informações que cresceu e virou associação – oficializada em 2021 e hoje com 54 confrades.

O pecuarista Shiro Nishimura usa a tecnologia há mais de 15 anos. Ao Agro Estadão ele diz que o marmoreio é a cereja do bolo, mas quem traz lucratividade é o AOL e o tamanho do contrafilé que também é visualizado no ultrassom. “Nesses 15 anos, nós quase dobramos o tamanho da área de olho de lombo”, conta o pecuarista que é um dos fundadores da confraria. 

Shiro deixa claro que é preciso manter o equilíbrio de todas as características que dão qualidade à carne: “eu não tiro indivíduos exacerbados em um item, senão fica desequilibrado”.

Há quatro anos, Fred Mendes passou a usar o ultrassom nas métricas da fazenda. Criador experiente, ele é a quarta geração de uma família que se dedica à produção pecuária, com as marcas VR – que tem 111 anos – e a VRJO – com 57 anos de seleção. 

Fred conta que, em mais de um século, a família já usou várias tecnologias para o melhoramento do rebanho até chegar a ultrassonografia. Entre os ganhos, além da qualidade da carne, ele destaca: o maior rendimento da carcaça – quantidade de carne produzida por um animal e a eficiência na conversão alimentar – o quanto o gado ganha de peso com a mesma quantidade de volumoso e ração. Além disso, há ainda os ganhos na precocidade reprodutiva e de acabamento encurtando o tempo para atingir o peso ideal. “Nos deparamos com um divisor de águas. Foi a ferramenta que mais impactou de forma definitiva toda a seleção VRJO”, afirma.

Feicorte e a Confraria têm em comum a busca pela carne de qualidade. Por isso, os confrades escolheram a feira para realizar o leilão de animais avaliados por ultrassonografia de carcaça e também por outros programas de melhoramento. 

O remate será nesta quarta, 18, às 20h, na Tatersal do recinto de exposições Jacob Tosello.

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