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Economia

Tarifaço eleva competitividade da soja, carne e café, mas traz incertezas

Embora favoreça a competitividade do Brasil, mudança nas tarifas de importação cria distorção no mercado

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Paloma Custódio | Guaxupé (MG) | paloma.custodio@estadao.com

26/04/2025 - 08:00

Foto: Adobe Stock
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A política de tarifas recíprocas adotada pelos Estados Unidos e a intensificação da guerra comercial com a China podem elevar os preços globais das commodities, pressionar a inflação e desacelerar a economia mundial. Com tarifaço de até 145% impostas pelos EUA sobre produtos chineses, o Brasil experimentou algum ganho de mercado: apenas na segunda semana de abril, importadoras chinesas adquiriram 40 cargas de soja brasileira. Mas apesar do cenário favorável, o diretor-executivo da Aprosoja Brasil, Fabrício Rosa, avalia que o Brasil já está no limite do volume de exportação para a China e, em algum momento, os chineses terão que comprar soja americana. Produtos como café e carne também podem se beneficiar.

O ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil e colunista do Agro Estadão, Welber Barral, explica que qualquer mudança nas tarifas de importação afeta as cotações das commodities, que são definidas em bolsas internacionais. “As commodities têm um preço global. Você entra na Bolsa de Chicago, de Londres, e sabe qual é o valor. A variação de preços entre fornecedores é muito pequena, em torno de 2% a 3%. Então, uma variação de 10% cria uma distorção significativa no mercado”.

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Pressões inflacionárias

O ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) e consultor e presidente global de operações da Ambipar, Roberto Azevêdo, avalia que o tarifaço de Trump pode gerar um “impacto macroeconômico imensurável”.

“As consequências mais óbvias são pressões inflacionárias e desaceleração econômica. E isso não vai acontecer apenas para os EUA. A economia global como um todo pode sentir esses impactos e, com eles, uma série de outras turbulências. As taxas de juros podem oscilar possivelmente para cima, se as pressões inflacionárias forem muito fortes. As taxas cambiais também poderão ser realinhadas”.

Exportações em risco

O aumento das tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos chineses pode reduzir as receitas da China e impactar diretamente as exportações brasileiras. A avaliação é de José Lima, sócio-diretor da Markestrat e professor da Harven Agribusiness School. Segundo ele, embora a guerra tarifária entre China e EUA possa favorecer a competitividade do Brasil em mercados disputados com os norte-americanos, a queda na arrecadação chinesa tende a reduzir as importações. “E, como o Brasil é um dos principais fornecedores, esse movimento pode afetar diretamente nossas exportações”, afirma.

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Welber Barral lembra que a economia chinesa já vem desacelerando. Em 2024, a queda na demanda interna impactou os preços de vários produtos no mercado internacional. “O preço da soja está caindo desde o ano passado, por conta da demanda menor na China. Se houver alta de preços no mercado global e a China não comprar dos EUA, a demanda pode cair ainda mais”.

Oportunidades pontuais

Mas no agronegócio, nem todas as cadeias produtivas seriam penalizadas, avalia José Lima. Segundo ele, a tarifa imposta pelos Estados Unidos sobre o café do Vietnã encareceu o produto para os importadores americanos. Com isso, mesmo com a tarifa de 10% sobre os produtos brasileiros, o café do Brasil se tornou mais competitivo no mercado dos EUA.

Lima também vê uma oportunidade dos frigoríficos se beneficiarem com a possível abertura do mercado norte-americano à carne brasileira. Segundo pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), ainda que países importadores de carne bovina tenham reflexos negativos em suas economias, é possível que a demanda externa por carne bovina do Brasil se mantenha em bom patamar. 

No entanto, a economia interna brasileira pode ser impactada, já que o tarifaço se soma a um cenário de turbulência na economia global e isso tende a acarretar redução dos investimentos, desemprego e diminuição da renda dos brasileiros para o consumo de carne e outros bens, de acordo com o Cepea.

Papel da OMC

Diante da imposição de sobretaxas, alguns países avaliaram recorrer à OMC. Para o ex-diretor-geral da organização, Roberto Azevêdo, a medida teria mais peso simbólico do que efeito litigioso. “Há um valor simbólico e político em mostrar para o mundo que um membro da OMC, os EUA, não está observando as regras multilaterais de comércio”, diz.

No entanto, ele destaca a importância da OMC como referência para o comércio internacional entre os demais países. “O comércio mundial não se resume aos EUA. As medidas do presidente Trump basicamente pegam o livro de regras da OMC e jogam no lixo. Agora, isso não quer dizer que o sistema seja inútil. Nesses momentos, há a necessidade de uma referência para os outros países continuarem se relacionando e encontrando outras oportunidades e alternativas”, avalia.

Roberto Azevêdo reconhece que o sistema está defasado. “As regras foram negociadas nos anos 1980. O mundo mudou muito de lá para cá. A maneira de se fazer negócio mudou. Há outros atores importantes, como China, Índia, inclusive o Brasil. Então, isso tudo pode demandar uma revisão do sistema da ordem econômica comercial internacional”, ressalta.

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