Economia
Sem apoio emergencial, cadeia do mel teme colapso no Piauí
Tarifaço provocou o cancelamento de embarques programados para os EUA; exportador cogita férias coletivas e depois demissões

Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com
06/08/2025 - 05:00

Sem um socorro emergencial para amortecer os efeitos negativos da tarifa de 50% dos Estados Unidos (EUA), a cadeia apícola do Piauí pode entrar em colapso nos próximos dias. O alerta é de Samuel Araújo, CEO do Grupo Sama, líder na produção de mel orgânico na América do Sul.
Visando evitar prejuízos irreversíveis, o grupo protocolou, nesta segunda-feira, 4, um pacote com cinco medidas urgentes junto à Investe Piauí, agência de atração de investimentos do estado do Nordeste (confira as medidas abaixo). “Eu acho que, se não tiver, até o final de semana, uma posição com relação a medidas emergenciais, o efeito natural será: férias coletivas e depois demissões. Não somente no setor de mel”, disse ao Agro Estadão.
Segundo ele, os primeiros reflexos da crise chegaram com cancelamentos pontuais de embarques previamente programados para os EUA. Apesar de ainda não representar um volume expressivo, o empresário vê a tendência com preocupação. “Não são números alarmantes por enquanto, mas o que estamos vendo é o mercado testando nossa capacidade de reação. Se nada for feito, os cancelamentos vão se multiplicar rapidamente”, afirmou.
Outro efeito imediato está no campo. Com a indefinição no comércio exterior e o acúmulo de estoque, o preço do mel pago ao produtor já começou a cair. “Já houve redução de R$ 1,50 por quilo em poucos dias. Hoje, já se fala em R$ 15 o quilo, e há especulação de ofertas ainda mais baixas. Isso derruba a renda do apicultor e pode desestimular a produção”, afirmou, ressaltando que os agricultores que se dedicam à produção têm a atividade como única ou principal fonte de renda.
Araújo também chama atenção para o risco de o Brasil perder espaço no mercado global. Segundo ele, concorrentes como Índia, Vietnã e Argentina, que receberam tarifas inferiores, podem se movimentar para ocupar o espaço deixado pelo Brasil. “O cliente lá fora não espera, ele substitui. E quando isso acontece, a reconquista leva anos, se é que acontece. É um prejuízo estrutural”, alerta.

O pacote de propostas apresentadas à Investe Piauí inclui:
- Medidas Emergenciais de Apoio Governamental
- Criação de fundo emergencial estadual voltado à compensação de perdas comerciais e operacionais do setor, tanto para empresas quanto para apicultores;
- Implantação de linha de crédito com juros subsidiados, destinada à manutenção de fluxo de caixa, obtenção de certificações e preservação de contratos internacionais.
- Diversificação de Mercados Internacionais
- Apoio à prospecção de novos mercados estratégicos para o mel piauiense;
- Fortalecimento do suporte à obtenção e manutenção de certificações internacionais (Orgânico, Kosher, Halal, Fair Trade), indispensáveis ao acesso a esses mercados, mas que exigem elevado investimento em qualidade, rastreabilidade e auditorias externas, comprometendo significativamente o capital de giro das empresas.
- Apoio Diplomático e Federal
- Articulação com o Itamaraty e o Ministério da Agricultura para influenciar as negociações comerciais bilaterais com os EUA;
- Mobilização da bancada federal do Piauí para defender os interesses da cadeia apícola estadual.
- Liberação de Créditos Tributários Federais e Estaduais
- Promoção de mutirão junto à Receita Federal para agilizar o ressarcimento de créditos acumulados de PIS/COFINS, conforme previsto na Lei Kandir;
- Defesa da retomada do programa REINTEGRA, com alíquota ampliada, devolvendo parte dos tributos indiretos não recuperados por outros mecanismos;
- Criação de programa estadual para validação e utilização de créditos acumulados de ICMS, com possibilidade de compensação com débitos estaduais ou crédito em conta.

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