PUBLICIDADE

Economia

Seguro rural em 2025 pode ter o menor nível de área coberta dos últimos 10 anos

Seguradoras avisam que produtores serão cobrados por parcelas subvencionadas não pagas pelo governo

Nome Colunistas

Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com

04/11/2025 - 05:00

Projeção é de 2,23 milhões de hectares assegurados em 2025, abaixo dos 2,65 milhões de 2015. Foto: Adobe Stock
Projeção é de 2,23 milhões de hectares assegurados em 2025, abaixo dos 2,65 milhões de 2015. Foto: Adobe Stock

As projeções para 2025 do Seguro Rural no Brasil indicam que este pode ser o pior ano em termos de área segurada. Um estudo feito pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) prevê que a taxa de cobertura do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) deve atingir 2,3% dos 97 milhões de hectares previstos de plantio no ano.

Se confirmada, este será o pior ano da série histórica, que começou a ser contabilizada em 2015. Até então, aquele ano teve o percentual mais baixo, 3,4%. Mas na época, a área de plantio era menor, cerca de 78,1 milhões de hectares. No comparativo, enquanto em 2015 o volume de terra coberta pelo PSR foi de 2,65 milhões de hectares, a projeção para 2025 indica 2,23 milhões de hectares. 

CONTEÚDO PATROCINADO

Outro ponto é o recurso disponível ao PSR. Em 2015, o montante utilizado na subvenção foi de R$ 276,9 milhões. Já neste ano, o valor aplicado previsto até o momento é de R$ 548 milhões. 

Produtores serão cobrados por parcelas subvencionadas

Em meados do ano, o governo federal anunciou um congelamento que atingiu R$ 445 milhões do orçamento previsto para o PSR neste ano. Segundo as seguradoras, isso é um dos motivos pela queda na área segurada. Mas os efeitos podem ser ainda piores.

Desde o último dia 30 de outubro, a Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg) tem comunicado ao governo federal, às secretarias de Agricultura e às entidades do setor da cobrança pela parte da subvenção. Basicamente, a parcela do prêmio que vem do PSR será cobrada dos produtores rurais que têm a apólice com esse benefício. 

PUBLICIDADE

A decisão de pagar ou não esse montante subvencionado é do produtor. Mas as seguradoras já dizem que muitos produtores devem cancelar o serviço de seguro contratado ou diminuir a área e importância segurada, em razão da escolha pelo não pagamento. 

Glaucio Toyama, presidente da Comissão de Seguro Rural da FenSeg, explica que o valor dessas parcelas pode ser devolvido ao produtor caso o governo desbloqueie os valores. “Já vi o governo federal, na última semana de dezembro, reabrindo caixa para falar: olha, dá para acomodar, vamos acomodar”, disse à reportagem.

O Agro Estadão pediu uma confirmação do recebimento do comunicado e uma posição ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e ao Ministério da Fazenda, mas até a publicação desta reportagem não teve retorno. 

Conjuntura e modelo atual de seguro ajudam a explicar situação

O presidente da Comissão de Seguro Rural da FenSeg analisa que o problema tem duas causas: uma conjuntural e a outra estrutural. Do ponto de vista da conjuntura, o cenário econômico do produtor rural fez com que o apetite por seguro diminuísse, mesmo com as incertezas climáticas. 

“Esse aumento expressivo de inadimplência no mercado agro faz com que as instituições financeiras aumentem suas restrições ao crédito, o que faz com que a falta de crédito diminua a percepção do produtor no componente de custo de produção do seguro instalado no seu modelo de negócio”, comentou ao Agro Estadão. 

PUBLICIDADE

Pelo lado estrutural, o modelo atual é visto pelas seguradoras como defasado e dependente do PSR, o que agrega um risco a todo sistema. Toyama afirma que o orçamento faz parte da discussão, mas não pode ser a peça única. 

“O que a gente tem é um modelo de negócio de seguros e mitigadores de risco aqui no Brasil pouco discutido com profundidade. Então, você não tem vontade hoje – e eu falo não só do Congresso, do Executivo, mas da sociedade – em falar como que eu faço um modelo de negócio que tenha proteção e que a gente possa ter tranquilidade não um ano só, mas daqui a dois, três, quatro, cinco anos”, acrescentou. 

Em julho, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, falou sobre uma reestruturação no PSR. A previsão de Fávaro era que o novo modelo estivesse pronto em setembro. No entanto, ainda não foi anunciada nenhuma mudança. A reportagem também questionou o Mapa sobre o tema, mas não foi respondida.

Número de contratação de apólices caiu 40%

Com a proximidade da safra de grãos, o cenário de contratação de apólices, no entanto, caiu. “A gente teve uma venda inferior a 2024 em relação ao que a gente imaginava em termos de alinhamento em área. Estamos falando em uma redução de 40% do que foi vendido para 2025 do que foi feito em 2024”, segundo Toyama. 

Enquanto, no ano passado, o número de contratos foi de 135,5 mil, neste ano não deve passar dos 80 mil. Com isso, o montante segurado também deverá ter uma queda significativa. No ano passado, a safra de verão representou aproximadamente R$ 45 bilhões amparados, frente aos R$ 50,6 bilhões de todo o ano. Para 2025, a queda esperada para a principal safra do país também deve ser na casa dos 40%.   

PUBLICIDADE

Outro ponto que preocupa é a situação do Rio Grande do Sul. O atraso na liberação do crédito deve comprometer o início do plantio. E com um La Niña mais intenso neste ano, os sinistros podem se agravar. 

Sinistros que começam a aparecer no Estado do Paraná devido às chuvas neste fim de semana. “A gente acabou de receber uma carga bastante grande de aviso de sinistros por conta de granizo, principalmente nessa região oeste do Paraná”, comentou.

Respostas podem vir no médio prazo

Apesar do quadro atual não ser bom num curto prazo, Toyama vê algumas opções para os próximos anos. “A primeira coisa é não jogar a toalha”, destacou. Segundo ele, a FenSeg vem conversando com Estados, como São Paulo e Paraná, para tratar dos programas estaduais de proteção. Outro ponto é a busca por um entendimento com setores, como do café, para que possam criar um programa sem a dependência do Orçamento da União. 

Há ainda a esperança de que o projeto de lei da senadora Tereza Cristina (PP-MS) possa avançar neste ano. A proposta traz, entre outras novidades, uma reformulação de um fundo destinado à cobertura de risco do seguro rural. A expectativa é de que o tema seja tratado na próxima quarta-feira, 05, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal.

Siga o Agro Estadão no WhatsApp, Instagram, Facebook, X, Telegram ou assine nossa Newsletter

PUBLICIDADE

Notícias Relacionadas

Japão fará nova auditoria para liberar carne bovina do Brasil

Economia

Japão fará nova auditoria para liberar carne bovina do Brasil

Fávaro espera a abertura do mercado ainda neste ano, mas fontes do setor avaliam que as negociações podem demorar mais

Bradesco sente a inadimplência do agro, mas carteira segue sob controle

Economia

Bradesco sente a inadimplência do agro, mas carteira segue sob controle

Atrasos em financiamentos do Banco John Deere, no qual o Bradesco detém 50%, influenciaram o resultado; inadimplência na carteira rural chegou a 4,1%

Oferta de etanol cresce mais rápido que consumo e acende alerta no setor

Economia

Oferta de etanol cresce mais rápido que consumo e acende alerta no setor

Com avanço das usinas de milho e previsão de 49 bilhões de litros até 2035, indústria busca estratégias para evitar excesso de oferta

JBS exporta 550 t mensais de resíduo de couro para virar fertilizante na Itália

Economia

JBS exporta 550 t mensais de resíduo de couro para virar fertilizante na Itália

Ação faz parte de estratégia de aproveitamento total da matéria-prima, que inclui a tecnologia Kind Leather

PUBLICIDADE

Economia

Cade aprova compra da Levitare e da Búfalo Brasil pela Tirolez

Fábricas em quatro estados e nova linha com produtos de leite de búfala impulsionam meta de R$ 2,5 bilhões até 2027

Economia

Nova rota aérea amplia escoamento de frutas do Brasil para a Europa

Operação terá três frequências semanais, conectando aeroportos internacionais brasileiros ao mercado europeu

Economia

Agro gaúcho discute criação de fundo para garantir crédito e seguro rural

Inspirado no Fundesa, modelo prevê gestão privada com produtores, indústria e governo, financiado por recursos do setor rural e indústria

Economia

Governo lança edital para retomar obras da ferrovia Transnordestina

Ferrovia vai facilitar o escoamento de grãos do interior do Nordeste; obras devem durar cinco anos e custar R$ 415 milhões

Logo Agro Estadão
Bom Dia Agro
X
Carregando...

Seu e-mail foi cadastrado!

Agora complete as informações para personalizar sua newsletter e recebê-la também em seu Whatsapp

Sua função
Tipo de cultura

Bem-vindo (a) ao Bom dia, Agro!

Tudo certo. Estamos preparados para oferecer uma experiência ainda mais personalizada e relevante para você.

Mantenha-se conectado!

Fique atento ao seu e-mail e Whatsapp para atualizações. Estamos ansiosos para ser parte do seu dia a dia no campo!

Enviamos um e-mail de boas-vindas para você! Se não o encontrar na sua caixa de entrada, por favor, verifique a pasta de Spam (lixo eletrônico) e marque a mensagem como ‘Não é spam” para garantir que você receberá os próximos e-mails corretamente.