Economia
Com quebra de safra, PIB da cadeia da soja e do biodiesel recua 5,03% em 2024
Apesar do recuo, resultado foi o segundo melhor da história, somando R$ 650,4 bilhões, segundo levantamento da Esalq/USP e da Abiove
Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com
24/04/2025 - 15:13

Após um avanço expressivo de 23% em 2023, o PIB da cadeia produtiva da soja e do biodiesel registrou retração de 5,03% em 2024. O levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) foi divulgado nesta quinta-feira, 24.
Segundo os pesquisadores, o recuo foi puxado principalmente pela quebra da safra de soja de 2023/24, que impactou negativamente os agrosserviços — segmento que depende fortemente da oferta da matéria-prima para movimentar atividades de transporte, armazenagem e comercialização.
Apesar desse cenário, o desempenho industrial ao longo da cadeia foi positivo. A indústria de insumos cresceu 3,98%, enquanto a agroindústria avançou 2,81%, impulsionada especialmente pelo forte crescimento da indústria de biodiesel, que registrou alta de 20,45%.
Mesmo com a retração no volume total do PIB, os pesquisadores destacam que o valor agregado em 2024 ainda foi o segundo maior da série histórica, superando inclusive os níveis pré-pandemia. “Até o terceiro trimestre, nós estávamos projetando uma queda de 6%. Então, houve uma melhora no cenário de preços ao longo do último trimestre e foi bem importante […]. Mas isso tornou a nossa queda de renda real da cadeia produtiva bem menor do que a gente estava projetando até o relatório anterior”, explicou a pesquisadora do Cepea, Nicole Rennó Castro, durante coletiva de imprensa.
Com isso, o PIB-renda da cadeia, que considera a remuneração gerada ao longo do setor, atingiu R$ 650,4 bilhões em 2024 – queda de 3,27% em relação aos R$ 672,4 bilhões registrados em 2023.
Em participação econômica, a cadeia da soja e do biodiesel representou 23,8% do PIB do agronegócio e 5,5% do PIB nacional em 2024. O valor agregado por tonelada processada também chamou atenção: o PIB gerado por tonelada de soja produzida e processada foi de R$ 8.108 – 4,67 vezes maior que o valor gerado pela tonelada de soja exportada diretamente (R$ 1.738).
Exportações
No último ano, a cadeia produtiva da soja e do biodiesel exportou 124,10 milhões de toneladas — volume 2,54% menor que o registrado em 2023. Em receita, a queda foi mais acentuada: 19,69%, totalizando US$ 54,25 bilhões.
De acordo com os pesquisadores, a retração no valor exportado foi resultado da menor produção nacional e da desvalorização dos preços internacionais da soja, que caíram 17,6% diante da ampla oferta global. “O farelo de soja e a proteína de soja, apesar de apresentarem redução no valor exportado, houve aumento na quantidade exportada”, informou Fernanda Ciagainski Lisbinski, pesquisadora do Cepea.
Apesar da queda de 2,56% em relação ao ano anterior, a China permaneceu como principal destino das exportações da cadeia, absorvendo 59% do volume total embarcado. O país se destacou especialmente nas compras de soja em grão (73,4% do total exportado desse item) e de glicerol (78,7%).
Para o óleo de soja, cerca de 80% das exportações foram destinadas ao grupo de “outros países”, com destaque para a Índia. No caso do farelo de soja, os principais compradores foram a União Europeia (42,9%), o Sudeste Asiático (32,4%), o Oriente Médio (12,4%) e o Leste Asiático (7,9%).
Por outro lado, as importações da cadeia registraram alta expressiva de 338,09% em volume, impulsionadas pela escassez de soja para comercialização no mercado interno.
Mercado de trabalho
O mercado de trabalho na cadeia produtiva da soja e do biodiesel encolheu 3,2% em 2024, com um total de 2,26 milhões de pessoas ocupadas no ano. A retração foi puxada pelos agrosserviços e pelo segmento primário (produção de soja), ambos impactados pela quebra da safra 2023/24.
Na contramão, a agroindústria da soja foi destaque positivo, com alta de 20,71% no número de trabalhadores, impulsionada pela expansão no processamento de grãos e na produção de rações e biodiesel.
Apesar de continuar sendo o maior empregador da cadeia, o segmento de agrosserviços teve redução de 4,98% no número de ocupados, reflexo direto da menor demanda causada pela safra frustrada. Parte dessa queda foi atenuada pelo desempenho aquecido da agroindústria. Com esse cenário, a participação da cadeia no total de ocupados da economia brasileira caiu para 2,24% e, dentro do agronegócio, para 9,71%.
Por outro lado, aumentou o número de profissionais com ensino superior empregados nos segmentos de agroindústria, produção de soja e insumos, sinalizando uma qualificação crescente da mão de obra no setor.
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