Economia
Carne bovina tem “um dos maiores preços da história”, avalia pesquisador
Preços mais altos devem impactar inflação interna da carne bovina no Brasil; desafio é ampliar produção, que já deve ser recorde

Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com
06/11/2024 - 08:15

Os preços da carne bovina devem se valorizar nesta reta final do ano e em 2025. O cenário foi indicado pelo pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Thiago Bernardino, durante o Benchmark Agro Custos Agropecuários 2024/2025, apresentado nesta terça-feira, 05, em Brasília. Na análise feita pelo especialista, os produtores podem aproveitar o bom momento, que em termos nominais, é “um dos maiores preços da história”.
“O cenário começa a se tornar mais favorável em termos de preços recebidos pelos produtores, principalmente, esse final de 2024 e 2025 favorecidos aí por uma dinâmica global de um comércio mais favorável Brasil, maior exportador de carne bovina”, disse Bernardino aos jornalistas após o evento organizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
O pesquisador explicou que uma conjuntura internacional tem favorecido esse momento. Um dos principais fatores é a diminuição do rebanho dos Estados Unidos. Apesar de não ter um rebanho tão expressivo como o brasileiro, a produtividade é maior e uma diminuição na quantidade de animais impacta nesse fator. Uma consequência disso são as exportações brasileiras para o país norte-americano, que vem se consolidando como o segundo principal destino da carne bovina do Brasil.
“Falando da pecuária de corte houve uma virada de ciclo: maior produção de, tanto no Brasil como na Austrália, houve um ajuste de produção em 2024 e a falta, obviamente, de animais para 2025. A gente tem uma redução do rebanho dos Estados Unidos, questões financeiras no Uruguai, tudo isso favorecendo a dinâmica produtiva e comercial do Brasil pensando em corte”, avaliou o pesquisador. Apesar disso, ele também aponta que os produtores devem ficar atentos aos ajustes nos insumos, já que “os preços puxam os custos”.
Especialista também prevê inflação maior em 2025
A carne bovina também deve ficar mais cara no país no próximo ano. Essa conjuntura internacional também impacta nos preços internos, já que os valores e o volume para as exportações devem subir.
“A carne aumentou de preço. Em termos nominais é um dos maiores preços da história. Em termos deflacionados atingimos o nível de 2021/2022, em que o consumo estava um pouco oxigenado e baixa produção e isso gerou aquela inflação de 2021 para 2022. […] No curto espaço de tempo, isso [preço] é repassado. Pode gerar um problema inflacionário e quando eu tenho inflação no nosso mercado, se eu não tiver um aumento de produção, obviamente, eu tenho uma retração do consumidor”, indicou o especialista.
Para Bernardino, a solução passa também por uma oferta maior de carne e, por isso, ele analisa a participação dos pecuaristas. “A gente controla a inflação de duas maneiras: ferramenta monetário ou produção. Então a nossa produtividade vem aumentando e isso pode ajudar pelo menos no primeiro semestre, quando eu tenho um descarte de produção maior, e amenizar esses impactos, mas que os preços realmente estão em outro patamares, sim, eles estão”, explicou.
Mercado de leite com oportunidades
O pesquisador também abordou a pecuária leiteira e enfatizou que o país pode “surfar” em uma tendência de demanda mundial em expansão. “Pensando no leite, por mais que a gente não tenha um dos menores cursos do mundo, se a gente comparar com a Argentina, Uruguai e Nova Zelândia, a gente tem um cenário favorável do mundo precisar de leite. Até 2030, cerca de 11 mil produtores de leite sairão da atividade e o mundo precisa aumentar a produção em algo em torno de 30%. Então o mundo todo está olhando para o Brasil. Resta a gente fazer a nossa lição de casa”, afirmou Bernardino.
Mesmo com essa perspectiva positiva, ele pondera que hoje o Brasil é um país que depende da importação de leite e é preciso uma melhor eficiência na produção leiteira interna. Segundo ele, a tendência é que os produtores de leite maiores devem corresponder a maior parte da produção, isso devido a maior eficiência e escala que eles têm em comparação com os pequenos produtores.
“Hoje, o leite no Brasil, 80% da produção vem de 20% dos produtores. Se a gente olha isso no mundo todo, não me ouso a acreditar que no futuro, não obviamente, nos próximos anos, mas num futuro breve vai ter uma concentração por eficiência de escala”, disse o pesquisador.
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