Clima
La Niña deve ser fraco e durar pouco, indicam meteorologistas
As chances do fenômeno são de 58% entre outubro e dezembro; especialistas fazem recomendações para as principais áreas agrícolas
Paloma Santos | Brasília | paloma.santos@estadao.com
28/08/2025 - 15:14

O fenômeno climático La Niña pode se formar no último trimestre de 2025, mas os meteorologistas ouvidos pelo Agro Estadão avaliam que ele deve ter baixa intensidade e curta duração. O boletim mais recente da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (da sigla em inglês NOAA) elevou para 58% a probabilidade de ocorrência do fenômeno entre outubro e dezembro.
De acordo com o meteorologista Celso Oliveira, da Tempo OK, alguns indicadores de temperatura em outros oceanos, como o Índico, corroboram para a formação do fenômeno. “A questão é que, assim como no último período úmido do Brasil, o resfriamento será fraco e com curta duração, trazendo mais incertezas do que certezas sobre o clima do próximo verão”.
Na avaliação do especialista, o fenômeno não deverá influenciar no início das chuvas de primavera, mas será necessário acompanhar sua evolução no início do verão no Brasil. “Até já existem previsões climáticas com horizonte para todo o verão 2025/2026, mas estes detalhes sobre eventuais estiagens que possam acontecer em pleno período chuvoso, infelizmente, são prognosticadas com pouca antecedência”, explica.
A previsão da NOAA (veja o gráfico abaixo) mostra um aumento gradual da chance de La Niña a partir de setembro, com pico entre outubro e dezembro. No entanto, o fenômeno deve perder força no início de 2026, quando a neutralidade volta a predominar.

Oliveira defende ainda um possível plantio antecipado em 2025, mas não devido ao La Niña e sim por causa das condições do Atlântico. Nos últimos dois anos, o Atlântico Norte esteve bem mais quente que o Sul, reduzindo o transporte de umidade para a Amazônia e atrasando a chegada das chuvas. “Neste ano, não há tanta diferença de temperatura entre o Atlântico Norte e o Sul, e isso já vem trazendo alguns efeitos, pois a convecção na Amazônia está mais ativa”, explica.

Alexandre Nascimento, sócio-diretor da Nottus, defende que ainda é cedo para prever impactos concretos no campo. “Não existe confirmação. Por enquanto, o que existe é uma expectativa de 58% de formação de La Niña, baseada nos critérios da NOAA. Se for formado, deve ter fraca intensidade e com curta duração”, explica.
O sócio-diretor da Nottus ressalta que, embora o padrão clássico de La Niña preveja mais chuvas no Norte e Nordeste e menos precipitação no Sul, esse cenário não está garantido. “Neste momento, ainda seria prematuro dizer que essas condições aconteceriam, até porque os modelos numéricos de previsão do tempo não indicam seca severa para o Sul. Neste momento, a dica é ir acompanhando o desenvolvimento das condições do Pacífico através das consultorias especializadas em clima” completa.
Riscos para a Região Sul
O meteorologista Flávio Varone, da Simagro-RS, reforça que os modelos climáticos internacionais projetam um resfriamento no Pacífico Equatorial, que pode evoluir, de fato, para um possível La Niña entre o final do inverno e a primavera. “Essa condição é bem típica de um La Niña. Então, a ocorrência desse resfriamento, por si só, já traz seus reflexos aqui para o território brasileiro”, aponta.
Ele também acredita que o fenômeno terá pouca intensidade. “Se acontecer, será fraco e de curta duração, principalmente durante a primavera e início do verão aqui no Hemisfério Sul”, afirma.
Segundo ele, no Sul, o fenômeno poderá afetar reservatórios e atrasar o início do plantio de verão. Mesmo assim, Varone traz um tom otimista: “Possivelmente, mesmo com esse possível La Niña, as culturas de verão não devem ter grandes problemas. A projeção de alguns modelos é realmente de um verão mais dentro da normalidade. Não deve trazer grandes prejuízos aqui para o Rio Grande do Sul”, complementa.
Recomendações para agricultores em cada região
Apesar das incertezas, os especialistas sugerem medidas preventivas. No Centro-Oeste e no Sudeste, a expectativa de chuvas mais antecipadas deve ser aproveitada. “Acredito que os agricultores dessas regiões devem aproveitar a chuva mais antecipada”, recomenda Celso Oliveira, da Tempo OK.
Já no Norte e Nordeste, o sinal é positivo, mas com reservas. “De fato, o início do período das águas não será ruim, mas para uma safra cheia há necessidade de que a chuva seja frequente até o início do outono”, pondera Oliveira.
No Sul, a orientação de Flávio Varone é reforçar estratégias de adaptação. “É importante se preparar com escalonamento de plantio e variedades mais tardias, que suportam um pouco mais os períodos de estiagem”, acrescenta. Ele também aconselha que produtores gaúchos adotem “culturas mais adaptadas à possibilidade de diminuição da chuva, principalmente mais tolerantes à falta de umidade”.
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