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Clima

Estiagem provoca maior ciclo de perdas agrícolas da história no RS

Farsul estima prejuízo de R$ 319 bi; com nova quebra à vista, especialistas recomendam ações para enfrentar mudanças climáticas

Paloma Custório | Brasília e Mônica Rossi | Porto Alegre | Atualizada às 09h06

13/02/2025 - 08:00

Falta de chuva já afeta 115 cidades gaúchas em 2025. Foto: ASCOM PM Coxilha/Divulgação
Falta de chuva já afeta 115 cidades gaúchas em 2025. Foto: ASCOM PM Coxilha/Divulgação

Diante de mais um período de pouca chuva nas lavouras gaúchas, a  Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) calculou os prejuízos econômicos causados pela estiagem a partir de 2020. Desde então, somente em 2021 o estado não foi afetado pela falta de chuva. Dados da Assessoria Econômica da Farsul mostram que de 2020 a 2024, a economia agrícola acumulou uma perda nominal de R$ 106,5 bilhões. Aplicando o IPCA, as perdas podem chegar a R$ 117,8 bilhões. Para o levantamento, foram consideradas as principais culturas rio-grandenses, como arroz, soja, milho e trigo.

Incluindo agropecuária, agroindústrias, serviços e impostos indiretos, o total chega a R$ 319,1 bilhões. O valor é quase metade do PIB do Rio Grande do Sul em 2023 (R$ 645,3 bi). 

O economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, disse à reportagem que essa é uma situação inédita no estado. “Não tem registro na história de um ciclo de tantas perdas. Sabemos que a maior seca no Rio Grande do Sul foi e continua sendo a de 1942. Mas tivemos [agora] vários anos de estiagem e colhemos mal em 2020, 2022, 2023 e 2024. Então, é uma situação diferente”, relata.

Novas perdas com safras em desenvolvimento

Segundo a Defesa Civil gaúcha, 115 municípios já declararam impactos da estiagem neste ano, 87 deles estão com decreto de situação de emergência.

Na cidade de Coxilha, no norte gaúcho, as chuvas irregulares causam um prejuízo agrícola de R$ 82 milhões, estimativa da Secretaria Municipal de Agricultura e Desenvolvimento Rural e pela Emater/RS-Ascar. O laudo técnico dessas perdas será usado para decretar situação de emergência e assegurar medidas de proteção aos produtores rurais do município.

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A presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Passo Fundo, Coxilha e Mato Castelhano, Marinês Scapini Penz, afirma que a organização acompanha de perto os reflexos da estiagem e defende políticas públicas eficientes. “Nosso compromisso é lutar por melhores condições para os agricultores, garantindo que as famílias rurais recebam o apoio necessário em momentos como este. Têm sido anos de muita dificuldade para os agricultores”, disse em nota.

Foto: ASCOM PM Coxilha/Divulgação

Já no extremo-oeste do estado, no município de São Borja, o produtor rural Rogério Adiers estima perdas de até 70% em sua lavoura de soja. A última chuva significativa na região ocorreu no Natal do ano passado. Embora tenham sido registradas precipitações de cerca de 50 mm há 10 dias, o volume foi insuficiente para reverter os prejuízos.

“Se não chover bem, de agora em diante, vai cada vez aumentando mais o prejuízo. Plantei 140 hectares de soja, um pouco antes do Natal. Nasceu muito mal e o que nasceu, logo morreu. É zero de produção. Então, abandonei porque não tem mais nem planta. E as outras lavouras estabelecidas antes estão sofrendo, secando”, contou à reportagem.

Produção de leite pode cair até 10%

A estiagem que afeta as lavouras de milho e soja no Rio Grande do Sul também está prejudicando a pecuária leiteira, já que esses grãos são usados na alimentação do gado. A escassez eleva os custos de produção dos rebanhos, agravando a situação dos produtores.

Além disso, o presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Marcos Tang, explica que o clima excessivamente quente traz outro problema grave: em dias de altas temperaturas, as vacas sofrem estresse térmico e tendem a produzir menos leite. “Portanto, com o custo de produção mais alto e a produção mais baixa, fala-se em 600 mil, até 1 milhão de litros de leite a menos produzidos no Rio Grande do Sul, talvez chegando perto de 10% a menos de produção diária nestes dias de calor extremo”, estima em nota.  

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Foto: ASCOM PM Coxilha/Divulgação

Cultura de grãos precisa se adaptar

O pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Mauro Osaki, diz estar preocupado com a capacidade do Rio Grande do Sul em manter o cultivo de culturas tradicionais diante da situação climática. “Vejo com certa preocupação a área de grãos, especialmente o milho. O produtor vai tender a diminuir a exposição ao risco com essa cultura, porque ela é a mais sensível à alta temperatura e à estiagem, além do seu alto custo de implantação”, ressaltou ao Agro Estadão. 

Uma das soluções propostas pelo pesquisador do Cepea é alterar o calendário agrícola no estado. “Talvez a segunda safra de soja vai começar a ser a primeira safra para o Rio Grande do Sul”, recomenda.

O economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, avalia que a solução não é eliminar as culturas do estado, mas encontrar formas de adaptação a essas mudanças climáticas. “Em Israel chove um quarto do que chove no Rio Grande do Sul em um ano de estiagem. Na Arábia Saudita chove 20%. E eles estão plantando grãos. Então precisamos ter mais irrigação e um seguro rural melhor e mais desenvolvido”, explica.

O porta-voz da Farsul também orienta maior apoio à pesquisa e inovação, para desenvolver novas cultivares que se adaptem às variações de chuva e temperatura. “Agora, para os produtores fazerem esses investimentos, nós precisamos ter mais flexibilidade com a legislação de irrigação. Porque no mundo inteiro, irrigação é algo que se aplaude, porque é bom para o meio ambiente. Mas, aqui no Brasil, a irrigação tem uma legislação ambiental restritiva”, ressalta.

Antônio da Luz também espera que o governo federal adote uma visão diferenciada em relação à situação dos produtores gaúchos, implementando políticas de crédito rural mais favoráveis e vantajosas. “Imagina: se estou devendo 100 e a minha safra rendeu 100 na colheita, não tem como pagar. Porque tenho que pagar os 100, que peguei, mais as dívidas que estão vencendo dos anos anteriores. Então é uma bola de neve. Precisamos parcelar isso em prazo longo”, analisa.

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Manifestação agendada 

A Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS) e os sindicatos dos trabalhadores rurais estão convocando uma mobilização, na próxima segunda-feira, 17, para exigir do governo medidas de socorro imediato e soluções estruturais para os produtores que sofrem com a crise provocada pela estiagem. Até o momento, a mobilização já foi confirmada em, pelo menos, 11 cidades: Não-Me-Toque, Arroio do Tigre, Ijuí, Frederico Westphalen, São Miguel Das Missões, São Luiz Gonzaga, Santiago, Tuparendi, Arvorezinha, São Martinho e Passo do Sobrado.

Previsão para os próximos dias

A previsão meteorológica indica chuva para o restante desta semana e até meados da próxima, inclusive no sábado e domingo, provocada pela presença de uma frente fria sobre o Rio Grande do Sul. 

“Isso vai ser muito bom para as lavouras ainda em fase de desenvolvimento. Para as propriedades de soja e de milho, esse retorno da chuva traz alívio ou pelo menos estanca as perdas ocorridas por conta da ausência de chuva nas últimas semanas”, comenta a sócia-executiva da Nottus, Desirée Brandt.

Por outro lado, as áreas que já estão prontas para a colheita podem ter dificuldade com os trabalhos no campo, alerta Brandt. 

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