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Das geadas à onda de calor, Minas Gerais se destaca na produção de feijão irrigado

Diferente dos cafezais atingidos no estado, lavouras de feijão foram ‘protegidas’ pela irrigação

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Rafael Bruno | São Paulo | rafael.bruno@estadao.com

19/08/2024 - 07:00

Foto: Faemg/Divulgação
Foto: Faemg/Divulgação

A colheita da 3ª safra de feijão segue a todo vapor Brasil afora. A estimativa de produção desta temporada é de cerca de 778,3 mil toneladas, conforme dados divulgados neste mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Goiás e Minas Gerais são os maiores produtores deste ciclo, correspondendo a 27,3% e 25,5% de participação, respectivamente. Tradicionalmente realizada sob irrigação, a 3ª safra de feijão, ou feijão de inverno para alguns, se caracteriza por boa qualidade diante da adaptação do sistema, seja em dias de baixa temperatura ou de calor acima da média para estação.

Em uma semana, por exemplo, partes de Minas Gerais passaram de temperaturas muito baixas, com ocorrência de geadas no sul do estado, ao calor na casa dos 30ºC neste domingo, 18, de acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Diferente das lavouras de café, mais suscetíveis aos efeitos de uma geada e com relatos recentes de prejuízos, o feijão irrigado sofreu menos impacto do evento climático que atingiu cidades mineiras neste mês. 

“Nestas regiões onde teve geada o cafezal estava desprotegido durante a noite, a folha estava seca por causa da baixa umidade, veio a geada e queimou a folha, já na lavoura de feijão, que está plantada no momento, os pés de feijões são irrigados através de aspersão e geralmente quando [o produtor] tem informações de que vai vir geada, ele molha a planta e quando cai a geada ela não queima a folha diretamente, porque ela bate na planta e já escorre para o solo, porque a folha está úmida, molhada”, explica ao Agro Estadão o presidente da Comissão Técnica de Grãos da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg), Paulo Mendonça Filho.

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Entretanto, Mendonça não descarta que produtores de feijão possam ter sido atingidos, especialmente no sul de Minas, mas ressalta que não ouviu relatos drásticos sobre o evento e considera alguns apontamentos enviesados pelo mercado.

“Tanto Minas, como Goiás, começaram a soltar feijão agora. Os preços vêm caindo nos últimos dias, a oferta de feijão está começando […] Estamos em pleno pico da colheita, então, [relatos de geadas em áreas produtoras] pode ser um fator para poder especular o mercado, para ajudar os preços, que estão num momento de queda”, analisa o presidente.

As safras de feijão, as vantagens da irrigação e a transição para a soja e o milho de verão

Considerando-se as três safras, a estimativa do IBGE é de que a produção brasileira de feijão alcance 3,2 milhões de toneladas em 2024, aumento de 7,1% sobre a safra de 2023. 

“Essa produção deve atender ao consumo interno brasileiro, em 2024, provavelmente não havendo necessidade da importação do produto. O Paraná é o maior produtor nacional de feijão, com produção de 820,8 mil toneladas ou 26,0% de participação, seguido por Minas Gerais com 530,4 mil toneladas, 16,8% de participação, e Goiás com 349,5 mil toneladas, 11,1% de participação”, informa o Instituto em levantamento divulgado na última semana.

“Paraná é o maior produtor nacional porque a primeira e a segunda safra do estado são muito grandes, depois nós temos uma terceira safra, que é o forte de Minas Gerais, e esse feijão irrigado tem uma peculiaridade diferente, é um feijão de melhor qualidade, é um feijão que, onde há irrigação certa e se colhe na hora certa, não existe grandes problemas com intempéries”, comenta Paulo Mendonça. O especialista ainda ressalta o nível tecnológico do sistema de irrigação que permite atender a demanda sem desperdício d’água. 

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Quanto a onda de calor em grande parte do país nesta semana, o presidente da Comissão Ténica de Grãos da Faemg diz que a disponibilidade de água na principal região produtora do estado, Unaí, noroeste de Minas, é suficiente para o fim do ciclo das culturas que ainda estão em fase de desenvolvimento vegetativo, mas ele faz um alerta aos produtores: “tem que tomar muito cuidado agora, principalmente quem está numa fase atrasada do feijão, de enchimento de grãos. Se você tirar a água, sua produtividade cai, se tirar a água durante a florada, a produção também cai. Mas a informação que eu tenho é que todo mundo ainda tem água suficiente para terminar esta safra”, diz ele.

Mendonça ainda chama atenção dos produtores para se manterem atentos às informações climatológicas. “O produtor que já vai entrar com a safra verão, 2024/25, com soja ou milho, ele tem que ficar atento ao nível de água se precisar irrigar. Tem que olhar se ele tem água suficiente para irrigar aquela cultura ou se vai ter que esperar para iniciar [o plantio]. Aqui na nossa região [Unaí] os produtores optaram por esperar. A gente não consegue entrar safra de soja, de milho, agora em setembro sem nível suficiente, tem que esperar outubro, novembro até as chuvas regularizarem”, indica o presidente.

Perspectivas: preços equilibrados – nas prateleiras – nos próximos meses

O feijão carioca é o mais produzido em Minas Gerais e tem boa parte destinada ao nordeste do país, juntamente aos chamados feijões de cores produzidos no estado. Segundo Mendonça Filho, os estoques estão em níveis consideráveis. 

“Nós não vamos ter problema de falta de feijão e os preços não vão estourar lá para cima, não, isso é uma fato. O brasileira vai comer um feijão com um custo um pouco mais barato nas prateleiras. Nos próximos quatro, cinco meses nós teremos o preço do feijão mais equilibrada em nível nacional, não tem perspectiva de aumento no momento, porque nós tínhamos estoques anteriores rodando e entrou a nova safra, aumentando a oferta”, projeta o porta-voz da Faemg, contextualizando, ainda, que a colheita mineira está colhida  e cerca de 30% da área plantada. 

Quanto às comercializações no mercado de feijão,  entre os dias 12 e 16 de agosto, segundo relatório semanal da consultoria Safras & Mercado, o mercado do feijão carioca seguiu enfrentando dificuldades significativas, mesmo com a presença de grãos de alta qualidade na oferta. A saca do carioca extra (nota 9) na Bolsinha paulista encerrou a última sexta-feira cotado a R$ 230, recuo de 4,17% frente a semana anterior e uma queda de 17,86% em relação ao mesmo período do mês passado. Frente a 2023, a baixa também é de 4,17%. 

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Segundo análise do consultor da Safras, Evandro Oliveira, os compradores têm se mostrado resistentes em aceitar os valores ofertados comercialmente e buscam negociar diretamente com produtores, limitando as transações.

De acordo com o analista, esse cenário de pressão sobre as cotações, com muitos negócios realizados e valores inferiores aos custos de produção, pode reduzir o plantio do carioca  na primeira safra 2024/2025. “A recuperação do mercado depende agora de uma reação firme na demanda durante o último quadrimestre do ano, que será crucial para a sustentabilidade das cotações”, conclui o especialista em relatório semanal.

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