Incêndios no Brasil e a equivocada demonização dos produtores rurais | Agro Estadão
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Celso Moretti

Engenheiro Agrônomo, ex-presidente da Embrapa

Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão

Opinião

Incêndios no Brasil e a equivocada demonização dos produtores rurais

Os incêndios verificados no Brasil nas últimas semanas têm causado enormes prejuízos tanto para o público urbano quanto para o rural

28/08/2024 - 08:00

Foto: Governo de SP/Divulgação
Foto: Governo de SP/Divulgação

O período seco começou mais cedo neste ano. No início de junho o número de focos era 52% maior que no ano anterior, segundo institutos que monitoram a situação. Isso levou a uma diminuição da umidade do solo e vegetação mais seca, dois vetores que contribuem para a propagação de incêndios.

Em São Paulo várias áreas agrícolas foram afetadas. Mapas de calor mostravam no final da semana passada quase 1.900 focos no país, sendo que o estado de SP tinha o maior número. A situação paulista, neste ano, é completamente atípica se comparada a anos anteriores. Segundo estudos realizados, o ano de 2024 mostra o maior número de focos de calor quando se compara uma série histórica de 26 anos no estado. Mais de 40 cidades paulistas estão em situação de emergência, dois aeroportos foram fechados e parte da fumaça se espalhou pelo país. Nos últimos dias, a chuva, ainda que pouca, trouxe alívio.

A disparidade da situação com anos anteriores levou a investigações sobre incêndio criminoso. A suspeita começou a ser levantada na semana passada ao se observar que os incêndios no estado ocorreram praticamente ao mesmo tempo em áreas agrícolas estratégicas para a agricultura paulista. Desde o último final de semana, cinco pessoas foram presas suspeitas por provocar focos. Pelo menos uma delas parece estar ligada ao PCC. É importante que as investigações sigam de forma independente e as autoridades competentes responsabilizem os envolvidos. 

Os incêndios atingem também outros estados da Federação, como Rio de Janeiro, Piauí, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Goiás e Tocantins também são afetados. A exceção do estado de SP, onde parece haver uma situação criminosa, a ocorrência de incêndios nesta época do ano está relacionada a diversos fatores, como a seca em várias regiões do país. Ela é influenciada por padrões de precipitação (variabilidade das chuvas e padrões sazonais), temperatura elevada, baixa umidade, ventos e outros fenômenos climáticos. No domingo (25), boa parte do Distrito Federal amanheceu com muita fumaça. A qualidade do ar no DF piorou drasticamente. A capital federal está há mais de 100 dias sem chuvas. Os prejuízos causados pelos incêndios são enormes, afetando não somente a produção agropecuária sustentável como a biodiversidade. 

Neste momento não faltam pessoas que, movidas pelo desconhecimento da agricultura altamente tecnificada, por questões ideológicas ou má fé apontem o dedo para o produtor rural como o principal responsável pela situação. Errado. Os produtores sabem que, além de produzir alimentos, fibras e bioenergia para a população brasileira, precisam preservar o meio ambiente. Em São Paulo, maior produtor de cana-de-açúcar do país, até o surgimento da tese criminosa, muitos acreditavam que as queimadas feitas de forma proposital nos canaviais seriam as grandes responsáveis pelos incêndios descontrolados. Estão equivocados. Na verdade, a cadeia produtiva da cana-de-açúcar tem trilhado o caminho inverso, proibindo o uso do fogo. O protocolo ambiental Etanol Mais Verde proíbe o uso do fogo na colheita da cana. Os produtores têm consciência de que as queimadas prejudicam o meio ambiente e impactam a sustentabilidade e a rentabilidade do seu negócio. A maior parte da cana já foi colhida e boa parte dos canaviais está brotando. O uso do fogo para a colheita de cana está proibido há vários anos.

Com exceção do estado de SP, onde tudo indica haver uma situação criminosa orquestrada, é de suma importância buscar a adoção de ações preventivas, focando no manejo sustentável da atividade agroflorestal. A agricultura climaticamente inteligente (climate smart agriculture, em tradução livre) pode ser uma estratégia aliada interessante para prevenir incêndios no meio rural. A combinação de sistemas integrados, a intercalação de culturas com baixa habilidade de pegar fogo, manejo de resíduos, a construção de aceiros e a existência de sistemas de alerta e antecipação, dentre outros, são práticas testadas em outros países que poderão ajudar o Brasil.

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