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Celso Moretti

Engenheiro Agrônomo, ex-presidente da Embrapa

Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão

Opinião

Genes e Algoritmos: a nova engenharia do mundo

A convergência entre inteligência artificial e biotecnologia está transformando o mundo que conhecemos, de forma acelerada e irreversível.

14/08/2025 - 16:14

A união entre IA e biotecnologia está viabilizando cultivos mais eficientes e resistentes a pragas | Foto: Adobe Stock
A união entre IA e biotecnologia está viabilizando cultivos mais eficientes e resistentes a pragas | Foto: Adobe Stock

A convergência entre inteligência artificial (IA) e biotecnologia deixou de ser uma promessa distante e se tornou uma realidade em ritmo acelerado. Da edição genética ao desenvolvimento de vacinas, da agricultura de precisão à bioengenharia de tecidos, a IA está expandindo os limites do que é possível em relação à vida, em todas as suas formas.

A integração dessas duas áreas está provocando uma transformação profunda nas ciências, medicina, agricultura e indústria. Ferramentas de IA, como algoritmos de aprendizado profundo e modelos generativos, agora têm a capacidade de simular e prever comportamentos biológicos complexos com uma velocidade e precisão sem precedentes. Isso significa que podemos identificar compostos bioativos promissores, otimizar rotas metabólicas para a produção de biocombustíveis e até mesmo criar organismos sintéticos sob medida.

No campo da saúde, o impacto é revolucionário. O desenvolvimento da vacina contra a COVID-19 em tempo recorde foi apenas o começo. Com o apoio da IA, o processo de criação de novas drogas será mais rápido e menos custoso. Além disso, diagnósticos médicos, que antes dependiam exclusivamente da experiência humana, agora podem contar com sistemas inteligentes capazes de identificar padrões invisíveis ao olho humano.

Na agricultura, a união entre IA e biotecnologia está viabilizando cultivos mais eficientes e resistentes a pragas, mudanças climáticas e estresses ambientais. Hoje, já podemos editar genes com precisão cirúrgica, como no caso do CRISPR, e prever, com base em dados genômicos e ambientais, as combinações genéticas mais promissoras.

No Brasil, a primeira planta geneticamente editada — um milho — foi aprovada como não transgênico em 2018 pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). A variedade de milho modificada produz apenas amilopectina, devido ao silenciamento do gene responsável pela produção de amilose. Mais recentemente, a Embrapa editou duas variedades de cana de açúcar visando aumentar a eficiência da produção de etanol. Por meio de edição genética, pesquisadores da estatal silenciaram um gene responsável pela rigidez da parede celular e um outro presente nos tecidos da planta. Tais mudanças permitiram que, nessas plantas, a degradação dos açúcares contidos nas células fosse facilitando, o que aumentou a eficiência de produção de etanol e extrações de outros bioprodutos de grande interesse comercial.

Na agricultura de precisão, a IA está otimizando processos e aumentando a eficiência no campo, com análises preditivas, automação de tarefas e tomadas de decisões mais precisas. O resultado são maiores produtividades e mais sustentabilidade. A IA combinada ao aprendizado de máquinas (ML) também está impulsionando avanços significativos em processos biotecnológicos, promovendo mudanças de paradigma. Entre os principais avanços, destacam-se o sequenciamento genético orientado por IA, a predição de estruturas de proteínas, a descoberta de fármacos e a otimização de bioprocessos.

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Contudo, o rápido avanço dessas tecnologias também traz dilemas éticos e exige a criação de novos marcos regulatórios. Quem será responsável por erros cometidos por IA no design de organismos? Como garantir que os benefícios da convergência dessas tecnologias sejam distribuídos de maneira equitativa? A quem pertencem os dados genéticos usados para treinar algoritmos?

Ignorar essas questões é tão arriscado quanto negligenciar o potencial transformador dessas tecnologias. O futuro não espera, e cabe a nós moldá-lo com responsabilidade, transparência e uma visão de longo prazo. O que antes parecia ficção científica agora é uma realidade que está sendo programada e cultivada no laboratório e no campo, em códigos genéticos computacionais. 

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