PUBLICIDADE
Nome Colunistas

Welber Barral

Conselheiro da Fiesp, presidente do IBCI e ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil

Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão

Opinião

A moeda dos Brics

Uma moeda comum entre os países do BRICS segue distante; o que pode evoluir são os sistemas interligados de pagamento

18/08/2025 - 15:00

Moeda comum dos BRICS esbarra em diferenças econômicas e financeiras. | Foto: Adobe Stock
Moeda comum dos BRICS esbarra em diferenças econômicas e financeiras. | Foto: Adobe Stock

O presidente Lula voltou mencionar a criação de uma moeda comum entre os países do BRICS — tema recorrente desde os primeiros encontros do bloco, especialmente em contextos de tensão geopolítica e desafios acelerados pelo governo Trump. Mas em realidade, quais são as reais perspectivas de uma moeda sobrepujar o dólar estadunidense?

A crítica à supremacia do dólar não é novidade. Desde o acordo de Bretton Woods, o dólar consolidou-se como a principal moeda de reserva mundial, instrumento-chave do comércio e, muitas vezes, utilizado como ferramenta diplomática e de imposição de sanções pelos Estados Unidos. O “exorbitant privilege” — expressão cunhada por Giscard d’Estaing nos anos 1960 — traduz não apenas o poder econômico dos EUA, mas também a dependência estrutural que subordina grande parte dos países ao sistema financeiro norte-americano.

CONTEÚDO PATROCINADO

O domínio do dólar implica em benefícios como financiamento barato da dívida pública dos EUA e controle amplificado sobre fluxos financeiros globais. Mais e mais, países emergentes veem essa configuração como desequilibrada e buscam fortalecer sua soberania monetária.

Mas criar alternativa monetária não é simples, como demonstrou a experiência europeia. Antes de se tornar o euro, a moeda europeia foi precedida pelo ECU (European Currency Unit), criada em 1979, e usada como referência para transações financeiras entre países membros. Só em 1999, após décadas de negociações, reformas institucionais profundas e convergência macroeconômica, o euro foi lançado para transações eletrônicas; as notas físicas vieram a circular apenas em 2002. O processo foi marcado por etapas gradualistas, criação de instituições supranacionais (Banco Central Europeu), e intensa negociação política.

No caso dos BRICS, os desafios para uma moeda comum são ainda maiores: os países do bloco — Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, e novatos como Irã, Egito, Emirados e Arábia Saudita — possuem níveis de desenvolvimento, regimes cambiais, políticas fiscais e integração financeira bastante distintos. Além disso, os BRICS não possuem nem aspiram instituições supranacionais. Isso sem falar das tensões geopolíticas.

PUBLICIDADE

Os BRICS têm privilegiado soluções pragmáticas. O roteiro atual é apostar no uso de moedas locais no comércio intra-bloco e desenvolver infraestrutura para pagamentos descentralizados. O projeto BRICS Pay, em desenvolvimento desde 2019, busca conectar sistemas de pagamentos nacionais. Pilotos já conectam plataformas como o UPI (Índia), MIR (Rússia) e UnionPay (China), além do desenvolvimento de mensageria via blockchain. Em 2025, cerca de 90% do comércio intra-BRICS já ocorre sem recorrer ao dólar. Um motivador do sistema são as sanções dos EUA contra China, Rússia e Irã.

Para os próximos dez anos, as perspectivas são de fortalecimento do BRICS Pay, a expansão do uso de moedas digitais dos Bancos Centrais (CBDCs) e o aprofundamento da interoperabilidade.

Por isso, e malgrado os discursos, a moeda dos BRICS permanece um projeto distante. Por enquanto, há muito barulho por nada. Não há alternativa realista ao dólar, e o que pode evoluir são os sistemas interligados de pagamento em moeda local. O futuro pode reservar surpresas, mas os desafios institucionais e políticos ainda superam as proclamações.

Siga o Agro Estadão no WhatsApp, Instagram, Facebook, X, Telegram ou assine nossa Newsletter

PUBLICIDADE
Agro Estadão Newsletter
Agro Estadão Newsletter

Newsletter

Acorde bem informado
com as notícias do campo

Agro Clima
Agro Estadão Clima Agro Estadão Clima

Mapeamento completo das
condições do clima
para a sua região

Agro Estadão Clima
VER INDICADORES DO CLIMA

PUBLICIDADE

Notícias Relacionadas

Tarifas e a suprema corte dos EUA

Opinião

Tarifas e a suprema corte dos EUA

Mesmo que a Casa Branca perca e as tarifas sejam consideradas inconstitucionais, Washington ainda dispõe de meios para impor barreiras comerciais.

Welber Barral loading="lazy"
Opinião:

Welber Barral

COP 30: biodiesel brasileiro ganha protagonismo no debate global

Opinião

COP 30: biodiesel brasileiro ganha protagonismo no debate global

Biodiesel tornou-se símbolo de uma equação rara entre eficiência energética, impacto ambiental positivo e desenvolvimento social.

Francisco Turra loading="lazy"
Opinião:

Francisco Turra

Marcos Fava Neves: 5 pontos para ficar de olho no mercado agro em novembro

Opinião

Marcos Fava Neves: 5 pontos para ficar de olho no mercado agro em novembro

Clima, China e Estados Unidos definem o futuro de oferta e preços dos grãos

Marcos Fava Neves loading="lazy"
Opinião:

Marcos Fava Neves

Swap EUA-Argentina como estratégia  geopolítica

Opinião

Swap EUA-Argentina como estratégia geopolítica

Apoio de Trump ao governo de Milei deixa claro que a ajuda é condicional e persiste enquanto houver convergência ideológica

Welber Barral loading="lazy"
Opinião:

Welber Barral

PUBLICIDADE

Opinião

O campo pede respeito

Aumento de impostos e ineficiência federal ameaçam competitividade e empregos rurais

Tirso Meirelles loading="lazy"
Opinião:

Tirso Meirelles

Opinião

A maturidade do biodiesel nacional na COP 30

Com impacto direto no agronegócio, biodiesel se consolidou como uma solução mais efetiva de curto prazo para a descarbonização

Francisco Turra loading="lazy"
Opinião:

Francisco Turra

Opinião

Marcos Fava Neves: 5 pontos para ficar de olho no mercado agro em outubro

Início de uma nova safra exige atenção dos produtores ao clima, ao dólar, aos EUA e às oportunidades em novos mercados

Marcos Fava Neves loading="lazy"
Opinião:

Marcos Fava Neves

Opinião

45 anos de contribuição do Brasil para uma agricultura sustentável no Cone Sul

Com a tecnologia de Fixação Biológica de Nitrogênio na soja, o país economiza cerca de U$ 20 bilhões por ano em fertilizantes nitrogenados

Logo Agro Estadão
Bom Dia Agro
X
Carregando...

Seu e-mail foi cadastrado!

Agora complete as informações para personalizar sua newsletter e recebê-la também em seu Whatsapp

Sua função
Tipo de cultura

Bem-vindo (a) ao Bom dia, Agro!

Tudo certo. Estamos preparados para oferecer uma experiência ainda mais personalizada e relevante para você.

Mantenha-se conectado!

Fique atento ao seu e-mail e Whatsapp para atualizações. Estamos ansiosos para ser parte do seu dia a dia no campo!

Enviamos um e-mail de boas-vindas para você! Se não o encontrar na sua caixa de entrada, por favor, verifique a pasta de Spam (lixo eletrônico) e marque a mensagem como ‘Não é spam” para garantir que você receberá os próximos e-mails corretamente.