Economia
Bahia lidera produção nacional de maracujá e fatura R$ 545 milhões em vendas em 2023
Altas temperaturas, incidência solar, diversidade de solos e disponibilidade de recursos hídricos aquecem o cultivo do maracujá
5 minutos de leitura 21/11/2024 - 08:30
Paloma Custódio | Brasília
Bahia mantém a liderança nacional com 35,7% da produção de maracujá do país. Em 2023, o estado produziu 253,8 mil toneladas da fruta, um aumento de 8,32% em relação ao ano anterior. Em vendas, produtores baianos acumularam um ganho de R$ 545,6 milhões no ano passado, quase 16% a mais que em 2022. Os dados são da Abrafrutas.
A Chapada Diamantina é o principal polo produtor de maracujá na Bahia, com destaque para o município de Livramento de Nossa Senhora, com uma produção de 44.395 toneladas em 2023. Outros municípios da região também contribuem para a liderança baiana no ranking nacional, dentre eles Ituaçu e Barra da Estiva, com uma produção anual de cerca de 30 mil toneladas de maracujá cada. As informações são da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura (Seagri).
Condições favoráveis
A Seagri atribui os bons resultados da produção baiana de maracujá às condições climáticas do estado, caracterizadas por altas temperaturas e incidência solar, diversidade de solos e disponibilidade de recursos hídricos. Esses fatores aliados às práticas agrícolas adequadas e o investimento em tecnologia proporcionam um ambiente propício para o cultivo da fruta.
De acordo com estudo da Embrapa Mandioca e Fruticultura, a temperatura ideal para o crescimento do maracujazeiro varia entre 21°C e 25°C. Temperaturas muito elevadas ou muito baixas podem afetar a evolução dos frutos.
Em relação às precipitações, a planta tem um ritmo de desenvolvimento contínuo e, portanto, necessita de distribuição constante de chuvas. A demanda de água varia entre 800 mm e 1.750 mm durante o ano. A umidade relativa também influencia o desenvolvimento vegetativo. Por isso, um índice em torno de 60% é o mais favorável ao cultivo do maracujá.
Outra questão é a luminosidade. Regiões semiáridas, como a Bahia, possuem um fotoperíodo acima de 11 horas diárias de luz que, associadas a altas temperaturas, permitem o florescimento e a produção contínua do maracujazeiro, desde que haja suprimento adequado de água.
Além disso, a planta do maracujá pode se desenvolver em diversos tipos de solos, desde aqueles com alto teor de areia até os mais argilosos. Mas o ideal é que os solos sejam profundos, bem drenados, ricos em matéria orgânica, de textura média e com relevo plano a ligeiramente inclinado.
O pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Onildo Nunes de Jesus, aponta outros fatores para o favorecimento da Bahia na produção de maracujá: “Nessas condições climáticas, o produtor tem uma janela maior para manejar a época de plantio visando coincidir a colheita na entressafra, onde o preço pago pelo quilo de maracujá é maior”.
Além disso, segundo o pesquisador, o aparecimento de doenças foliares causadas por fungos e bactérias é menor quando comparado aos locais de mata e com chuva mais distribuída.
Pesquisa e Desenvolvimento
O pesquisador da Embrapa destaca que trabalhos de pesquisas de diferentes setores têm influenciado na produção de maracujá, dentre eles:
- Uso de cultivares desenvolvidas pelo melhoramento genético;
- Utilização de produtos recomendado para o controle de pragas e doenças, como insumos biológicos e controle químico;
- Produção de mudas de maior qualidade genética e fitotécnica;
- Uso racional da água com sistemas de irrigação mais eficientes.
As pesquisas também mostram que o sistema de produção adensado pode gerar uma maior produtividade de maracujá em menor tempo. Além disso, “a mecanização tem ajudado bastante com o preparo, a aplicação de produtos para controle de pragas e doenças e a colheita do maracujá”, ressalta o pesquisador Onildo Nunes de Jesus.
Cooperativismo e desafios
Segundo a Embrapa Mandioca e Fruticultura, o maracujazeiro é plantado essencialmente por pequenos produtores em áreas menores que 10 hectares. Aproximadamente 80% são agricultores familiares que têm como mão de obra as pessoas da própria família.
Localizada em Monte Oliveira, região rural do município de Livramento de Nossa Senhora, na Bahia, a cooperativa Cooppmamo atua há 18 anos no fortalecimento de pequenos produtores de maracujá. Ao todo, são 140 cooperados ativos que recebem apoio do início ao fim da safra, incluindo a comercialização.
“A cooperativa fornece adubos a preço de fábrica, [oferece o apoio de profissional] agrônomo e parte jurídica sem custo algum, além de fornecer uma boa estrutura para armazenamento de embalagens e frutas”, explica o presidente da Cooppmamo, Gonçalo de Jesus Santos.
Apesar das condições climáticas favoráveis para a produção do maracujá na Chapada Diamantina, o presidente da cooperativa afirma que os produtores da região têm enfrentado desafios, especialmente por conta das altas temperaturas e baixo volume de água.
Outros fatores também são apontados: “Custo de produção alto por conta dos valores dos defensivos e adubos. E, na parte de comercialização, muitos desafios decorrem da queda de preço por não haver preço fixado do produto”, detalha.
O pesquisador da Embrapa destaca que a alta incidência e a severidade de doenças fúngicas, bacterianas e viróticas, que afetam tanto a parte aérea (ramos, folhas e frutos) como o sistema radicular, podem comprometer e inviabilizar a produção do maracujá em alguns polos produtores.
“Aliado a isso, existem os fatores associados ao desinteresse pela cultura e a falta de um mercado estável; falta de política de preços mínimos; demanda baixa de consumo de suco de frutas associados à crise econômica, entre outros”, completa o pesquisador.
Mesmo diante dos desafios, o presidente da Cooppmamo, Gonçalo Santos, diz que as expectativas são expandir ainda mais a produção de maracujá na região, além de “poder aumentar nosso espaço de trabalho para colocar em prática uma fábrica de polpas para gerar empregos na região e poder agregar mais valor ao produto”.
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