Economia
Soja: 3 em cada 4 navios do Brasil têm a China como destino
Enquanto produtores dos EUA enfrentam quedas nas vendas à Pequim, a participação chinesa nas exportações brasileiras subiu para 75% neste ano
Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com
22/08/2025 - 05:00

A China está ampliando a sua presença nas importações de soja brasileira ao longo deste ano. Entre janeiro e julho, os chineses responderam por 75,2% da soja exportada pelo Brasil — ou seja, 3 em cada 4 navios brasileiros com soja têm a China como destino —, uma alta frente aos 73% no mesmo período do ano passado. Esse movimento ocorre em meio ao impasse tarifário entre Pequim e Washington.
Dados da Administração Geral de Alfândega da China reforçam o maior volume do produto brasileiro em detrimento do grão norte-americano: apenas nos seis primeiros meses de 2025, a China importou 42,26 milhões de toneladas de soja do Brasil. Enquanto isso, os embarques dos Estados Unidos (EUA) somaram 16,57 milhões de toneladas.
Ainda conforme o órgão, o aumento das exportações de soja do Brasil para o mercado chinês, no mês passado, foi de 13,9% em comparação com o mesmo período de 2024. Por outro lado, os grãos norte-americanos com destino à China recuaram 11,5%.
Reflexo nos preços
No mercado interno brasileiro, a demanda elevada está alavancado o preço da saca de soja que alcançou o maior valor registrado do ano: R$ 142,84, na praça de Paranaguá (PR).
O analista da Brandalizze Consulting, Vlamir Brandalizze, destaca que, por enquanto, no Brasil “é tudo alegria”. “Temos uma corrida de negócios, a China tem comprado muito e bateu o recorde histórico de compras até agora no ano. Já estamos batendo a porta de 70 milhões de toneladas de soja embarcado para a China. Os prêmios estão dentro dos melhores momentos do ano. Em função dessa pressão, chegamos a ter prêmios de mais de 200 pontos, isso acabou ajudando bastante nos negócios”, explica.
Descontentamento
Enquanto isso, nos EUA, os produtores norte-americanos estão completamente descontentes com esse movimento. Nesta semana, em carta enviada ao presidente Donald Trump, a associação dos produtores de soja do país solicitou agilidade do governo para fechar um acordo comercial com a China.
No documento, os agricultores apontam prejuízos bilionários e risco de perder o mercado chinês para o Brasil. O grupo ainda pede que existam garantias contratuais de que os chineses irão comprar altos volumes de soja, após o fechamento de um acordo comercial — ainda em negociação.
No início do mês, Trump chegou a afirmar que a China poderia quadruplicar a aquisição de soja dos EUA. No entanto, especialistas apontaram outro caminho: o de redução das tarifas.
Além do mais, a insatisfação dos agricultores norte-americanos cresce à medida que novos dados são divulgados. Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, na semana encerrada em 8 de agosto, os cancelamentos de embarques de soja superaram as vendas em 5,7 mil toneladas.
Nota-se que a China está ausente da lista dos principais compradores da semana: Espanha (72,2 mil t), Países Baixos (53,3 mil t), Alemanha (51,4 mil t), Indonésia (34,7 mil t) e Egito (11,8 mil t).
Atenção ao Brasil
Apesar do acordo comercial entre as duas potências ainda não ter sido fechado, o tratado é tido como certo. A aceleração desse movimento deve ser observada na reta final deste ano, quando o calendário agrícola estará invertido: com o Brasil semeando uma nova safra e os EUA finalizando sua colheita.
Enquanto as duas partes não chegam a um acordo, Brandalizze indica janelas de negócios para aproveitamento dos agricultores brasileiros. “Ainda temos um tempo importante, provavelmente esse mês de agosto, parte de setembro, em que os negócios vão seguir acelerados. Depois, provavelmente, entrarão em um calmaria, com grande possibilidade de termos prêmios mais baixos e, automaticamente, a fase de cotações maiores”, ressalta. “Mas é preciso atenção mais perto do final do ano, China e Estados Unidos devem estar negociando soja e o Brasil deve ficar para vender depois da colheita da nova safra”, acrescenta.
A coordenadora do núcleo de Ásia do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Larissa Wachholz, reforça que a centralidade chinesa traz ganhos, mas também riscos. Para ela, o Brasil precisa “avaliar sua dependência excessiva da China e se preparar para possíveis mudanças geopolíticas ou comerciais” no mercado da soja.
“Precisamos estar atentos às mudanças de cenários geopolíticos e também de política interna da China para nos posicionar de forma estratégica”, disse no VII Seminário Desafios da Liderança Brasileira no Mercado Mundial de Soja. Segundo Wachholz, o Brasil precisa estar atento a esse ponto e buscar diversificação, com ampliação ou abertura de novos mercados.
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