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Tiago Fischer

Engenheiro Agrônomo, professor do Insper e diretor da Stracta Consultoria

Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão

Opinião

Educação na base da pirâmide do agro

O tema desenvolvimento profissional e tecnológico do agronegócio é recorrente e assume papel de destaque quando se discutem os aspectos necessários para a continuidade do crescimento do setor

3 minutos de leitura 22/07/2024 - 10:13

educação agro
educação agro

Se colocarmos em perspectiva os principais motivos para a pujança do agro no Brasil nas últimas décadas, com certeza discutiremos tópicos como a introdução de tecnologias, genética, defensivos agrícolas, máquinas e equipamentos e novas metodologias financeiras. Quesitos que promoveram os incentivos ao crescimento em volume, qualidade e disponibilidade, assim como o desenvolvimento profissional e o conhecimento dos produtores e as novas gerações que os sucedem. Contudo, um tema de notória importância para quase todos os públicos do agro, mas que em muitos casos é relegado a segundo plano, é o tema da educação na base da pirâmide das fazendas.

Não estou necessariamente abordando aqui todos os investimentos e novas ofertas que vemos no mercado agro de plataformas, empresas e universidade criando modelos inovadores de educação para a formação de executivos e lideranças das indústrias do setor. Honestamente, entendo que nestes pontos, estamos cada dia mais bem servidos.

É clara a oportunidade e notório o foco dessas empresas em atender o público de futuros trabalhadores ou lideranças das companhias que consomem os sistemas produtivos do agronegócio. São plataformas especializadas em encontros com diretores ou C-levels atuais de empresas, novas universidades com formação executiva e cursos disponibilizados por instituições consolidadas em outros setores. Ou seja, a disponibilidade é bastante interessante.

Porém, enquanto em uma vertente a demanda é crescente, assim como o volume e pluralidade de ofertas que acompanham este crescimento, em outra, a do atendimento aos agentes mais operacionais da produção, trabalhadores das fazendas (tratoristas, tratadores, peões, etc), não há acesso ou há pouquíssimas ofertas de educação em formação e capacitação.

Quando analisamos voltando nossa visão à questão inicial sobre o desenvolvimento profissional do setor, surgem questionamentos do tipo: de que adianta uma máquina cheia de interfaces tecnológicas, se o operador padrão no Brasil é alguém sem capacitação mínima para operar uma máquina tradicional?

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Neste caso, máquinas agrícolas foram utilizadas apenas como um exemplo, mas o problema é recorrente para os mais diferentes assuntos. Análises de solo que não são bem analisadas na fazenda por falta de conhecimento, insumos mal manejados por falta de conhecimentos técnicos em tecnologia de aplicação, perdas de produtos por ineficiência operacional de armazenagem, entre outros.

A questão que fica é: mas de quem é esta responsabilidade? 

Na teoria, a responsabilidade ficaria com os governos federal, estadual e municipal em programas de desenvolvimento social. Na prática, o que vemos é um sucateamento acelerado de um dos mais importantes pilares da formação agropecuária nacional, as escolas agrícolas.

A partir do momento que se diminuem investimentos e incentivos para este tipo de educação, naturalmente diminui a atratividade para crianças e jovens se interessarem pelo tema e, imediatamente, se colapsa a estrutura fornecedora de trabalhadores da base da pirâmide nas fazendas.

Porém, e nunca tirando a responsabilidade dos agentes públicos, quem mais poderia assumir estas funções?

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E as companhias fornecedoras e compradoras do agro? Honestamente, entendo que a função destas companhias é desenvolver os melhores e mais eficazes produtos e serviços e provê-los ao produtor de maneira assertiva e viável. Não é função e muito menos expertise delas educar.

E as universidades? Estas, em minha visão, têm sim o papel de educar, contudo com o foco em pegar pessoas previamente educadas na base e prepará-las para o mercado profissional. Ou seja, parte é sim responsabilidade das universidades, mas não na abrangência necessária, pois isso vai além do público-alvo que estas instituições abordam.

E as startups de educação, as chamadas EdTechs? Honestamente, eu adoraria poder dizer aqui que a disponibilidade de edtechs para o agro atualmente é super interessante, mas a realidade é que esta oferta é sofrível. Um exemplo claro disso é que nos últimos dois meses tivemos as principais feiras e eventos de tecnologia aplicada ao agro no Brasil e pouquíssima (para não dizer nenhuma) oferta de edtech agro foi apresentada. Tendo o trabalhador agropecuário como alvo então, aí sim, pode-se dizer que não existe!

Sendo assim, fica a questão: dado que sem pessoas não existe implementação de tecnologias e sem educação nunca teremos pessoas capazes de utilizar as mesmas tecnologias que estão sendo criadas, quem tomará a dianteira no processo mais relevante de desenvolvimento profissional do nosso setor, o desenvolvimento humano?

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