Teresa Vendramini
Produtora Rural, ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira
Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão
Opinião
Crise hídrica ameaça a produção de alimentos mundial
É apenas um dos muitos alertas que ouvi durante o Roma Water Dialogue, evento ao qual fui convidada pela FAO, na Itália
Estamos em vias de finalizar o ano, o segundo consecutivo de seca extrema. O retorno das chuvas em algumas regiões produtoras, inclusive nos pastos da minha fazenda no interior de São Paulo, não deve fazer o produtor rural esquecer o longo período de estiagem pelo qual passamos este ano. Segundo o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), até o final de outubro, 216 municípios brasileiros ainda estavam em condição de seca extrema, com mais de 500 regiões sofrendo até 150 dias sem chuva.
Esse cenário é um exemplo que só reforça um grave alerta emitido pela WASAG (Global Framework on Water Scarcity in Agriculture) – grupo de estudos sobre água liderado pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) – que aponta que dentro de 25 anos, mais da metade da produção global de alimentos pode estar ameaçada pela crise hídrica.
Esse foi apenas um dos muitos alertas que ouvi durante o Roma Water Dialogue, evento ao qual fui convidada pela FAO, em outubro, na Itália. O encontro reuniu especialistas e líderes mundiais para debater soluções urgentes para a escassez de água no planeta, hoje considerada a principal consequência das mudanças climáticas. Discutimos o quadro atual, em que a escassez hídrica já afeta metade da população global, e as projeções para o futuro: com a demanda por água ultrapassando a oferta em até 40% até o fim desta década.
Entre os mais afetados pela instabilidade na disponibilidade de água estão os países em desenvolvimento, os responsáveis por mais da metade da produção mundial de alimentos, incluindo o Brasil. Reflexo que os produtores brasileiros já começam a sentir. Na safra 2023/2024, o volume de produção de grãos foi 6,7% menor em decorrência da demora na regularização de chuvas no plantio, que gerou atraso da semeadura impactando principalmente as culturas de milho e soja.
Um cenário que exige uma união global. Porque a água é um bem comum da humanidade, que nasce em rios atmosféricos, longas faixas de vapor d’água que se movem de regiões tropicais para áreas mais frias e temperadas. O Brasil, por exemplo, é um dos maiores exportadores de água. Enquanto China e Rússia são os maiores beneficiados por essas correntes. Ou seja, ações individuais não vão resolver, é preciso a conscientização de todos por que se trata de um recurso compartilhado, portanto, a preservação é coletiva.
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