Economia
China, tecnologia e inovação: Congresso da soja aponta tendências para o setor
Com a edição gênica no horizonte, cadeia da soja brasileira busca quebrar paradigmas de produtividade
Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com
22/07/2025 - 10:58

O Brasil debate nesta semana não apenas o presente, mas também o futuro da soja, uma das culturas mais estratégicas para a economia e o agronegócio nacional. No ano em que celebra 100 anos desde a chegada das primeiras sementes ao país, a cadeia produtiva se reúne em Campinas (SP) para a 10ª edição do Congresso Brasileiro da Soja (CBSoja).
Na avaliação do chefe-geral da Embrapa Soja, Alexandre Nepomuceno, o tom deste ano é marcado por dois movimentos claros: a busca por inovação tecnológica para ampliar produtividade e sustentabilidade e a crescente aproximação com a China, principal destino da soja brasileira.
Pela primeira vez, uma delegação de congressistas da China, incluindo membros da Academia Chinesa de Ciências Agrárias e empresas do setor genético, participam do evento. “Eles têm interesse em estreitar relações, garantir qualidade e segurança do fornecimento, porque qualquer problema climático no Brasil afeta diretamente o mercado deles também”, disse Nepomuceno, ao Agro Estadão.
Além das relações internacionais, o congresso reflete o momento de desafios e oportunidades da soja brasileira. A cultura representa 6,4% do PIB nacional, gera mais de 2,4 milhões de empregos e é base da produção de proteínas animais — com impacto direto na cadeia de carnes, leite e ovos. Segundo Nepomuceno, a soja é também uma cultura democrática: “Mais de 70% dos produtores têm menos de 50 hectares, especialmente no Sul, o que mostra seu alcance social”, salientou.
Biotecnologia e sustentabilidade em pauta

Na pauta técnica, o congresso discute temas que vão de mudanças climáticas ao futuro da biotecnologia. As apostas mais promissoras envolvem o avanço da edição gênica — considerada uma nova fronteira tecnológica —, o uso do RNA em tecnologias de controle de pragas e a digitalização do campo com a inteligência artificial.
O objetivo: aproximar-se do potencial produtivo teórico da soja, estimado em até 12 toneladas por hectare. “Ninguém nunca atingiu isso em condições de campo, mas, com as tecnologias quebradoras de paradigma, podem começar a aproximar desses patamares”, ressaltou.
Em ano de COP 30 no Brasil, a sustentabilidade também domina os debates na CBSoja. Práticas como o plantio direto, já adotadas em cerca de 70% da área de grãos no país, são apontadas como diferencial ambiental. “A soja brasileira é produzida com fixação biológica de nitrogênio, o que evita emissão de carbono e economiza bilhões ao país”, reforça Nepomuceno, destacando o projeto Soja Baixo Carbono.
A realização simultânea do CBSoja e do Mercosoja 2025 reforça ainda mais a integração regional, com presença expressiva de produtores e pesquisadores da Argentina e outros países do bloco. O evento começou na noite da segunda-feira, 21, e segue até quinta-feira, 24, no Centro de Exposições Dom Pedro, em Campinas (SP).
A solenidade de abertura contou com a presença de autoridades, como a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, o presidente do Conselho de Administração da Embrapa, Carlos Ernesto Augustin, o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Guilherme Campos Júnior, o secretário de Comércio Exterior do Mapa, Luís Rua, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de São Paulo, Tirso Meirelles, e o presidente do CBSoja, Fernando Henning.
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