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Bolo de soja e homenagens marcam centenário do grão no Brasil

“Sentimento é de orgulho”, dizem famílias dos primeiros produtores de soja do país, escolhidos pelo pastor que trouxe os grãos dos Estados Unidos, para o iniciar o plantio

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Fernanda Farias* | Santa Rosa (RS) | fernanda.farias@estadao.com

03/12/2024 - 14:13

Pastor Walter Lehenbauer, neto de Albert, foi homenageado com outros familiares. Foto: Fenasoja/Divulgação
Pastor Walter Lehenbauer, neto de Albert, foi homenageado com outros familiares. Foto: Fenasoja/Divulgação

Há 100 anos, quem plantou os primeiros grãos de soja no Brasil não imaginou que estava dando um passo essencial para uma história de desenvolvimento econômico e social de um povo. Os grãos que chegaram em uma garrafa dos Estados Unidos  foram distribuídos para quatro famílias que integravam a congregação do pastor Albert Lehenbauer, na região sul do país onde hoje é o município gaúcho de Santa Rosa. 

“Ele via tanta pobreza, tanta falta de tudo e sabia que podia mudar para melhor. Ele fez isso para ajudar os colonos, pois tinha fé que se eles recebessem as ferramentas certas, eles mesmos construiriam um futuro melhor para os seus filhos”, comenta o neto e também pastor, Walter Lehenbauer. Gaúcho, nasceu em Porto Alegre, mas há mais de 20 anos mudou-se para os Estados Unidos.

Quem também repete com orgulho esse feito é o neto de Gustavo Bessel, que chegou à região de Santa Rosa em 1911 e tornou-se amigo do pastor Albert. Ele foi um dos quatro agricultores que receberam os grãos de soja para plantar e multiplicar. “O pastor deu os grãos com a ideia de plantar para corrigir o solo, como um adubo. Não imaginavam no que ia dar”, conta Nelson Bessel. 

HIldegard Schwarz, 71 anos, fica um pouco tímida quando repete em voz alta “que faz parte da história da soja no Brasil”. Ela é neta de Bruno Schwarz, que convivia com o pastor na congregação e também recebeu os primeiros grãos para plantar na horta de casa. “A ideia era plantar para servir de forragem para os porcos. Mas a minha avó usou para fazer bolo e chegou a fazer café do grão de soja”, conta. 

A família cultivava milho, mandioca, arroz e feijão para subsistência em 25 hectares na região de Santa Rosa. Alguns anos depois, quando a soja começou a se desenvolver, o seu potencial foi percebido e, então, os Schwarz passaram a plantá-la junto com o milho. Hildegard lembra que todos trabalhavam juntos na lavoura – ela, os pais, os tios e o avô Bruno. “A minha filha mais nova ganhou uma enxada com 6 anos e ajudava na lavoura”, conta Hildegard.

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Com o passar do tempo, a família foi se dividindo e até hoje, alguns seguem plantando soja na região e também no Paraguai. “Hoje eu estou sentindo orgulho”, diz, lembrando que pouco antes de morrer em 1972, aos 84 anos, o avô falava que “nunca imaginou que a soja traria todo esse progresso”. Ele conseguiu ver grande parte da evolução que o grão proporcionou à região e ao país. 

Homenagens e legado do pastor que trouxe a soja ao Brasil

As famílias dos responsáveis pelo início do cultivo de soja no Brasil foram homenageadas na Fenasoja 2024, que acontece até domingo, 8, em Santa Rosa (RS). Os descendentes do pastor Lehenbauer vieram, na maioria dos Estados Unidos – apenas duas netas moram em Capão da Canoa, no litoral do RS.

O presidente desta edição, Dario Germano, ressalta o papel do pastor e das famílias dos primeiros sojicultores, que “deixaram um legado da soja, do propósito, da união, do compartilhamento, o legado de viver em família”. Para Germano, a soja criou um fenômeno de desenvolvimento social a partir do Rio Grande do Sul.

“A soja gerou novas cidades em todos os estados e arrastou outras cadeias, quanto de pesquisa e de genética foram aplicadas em outras culturas, que surgiram com a soja. A soja gerou muita prosperidade”, pontua sobre o centenário da soja.

Um dos netos do pastor Albert, Mattew Ruff, é escritor profissional. Ele diz que nunca escreveu sobre a história do avô – até agora. “Provavelmente vou escrever na volta dessa viagem. A cultura e o povo têm chamado muito a atenção. É maravilhoso estar aqui e conhecer a terra da minha mãe”, confidencia.

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Outras duas netas, Janis Bourgeois e Caroline Cramlett, vivem em Illinois (EUA) na propriedade da família de onde saíram os grãos há uma centena de anos e que ainda produz soja. Elas estão no Brasil pela primeira vez e prometem voltar. “Gostamos do pão de queijo e do rodízio de carnes, são muito bons, muito diferentes do nosso país”. 

Parabéns com bolo de soja

Uma das celebrações ao centenário da soja foi o momento do “parabéns” com direito a bolo feito com soja. A cozinha da Fenasoja preparou 115 quilos de bolo que foram distribuídos aos visitantes da feira. 

Antes, houve a inauguração do Marco Zero da Soja no Brasil, estabelecido no local do primeiro plantio de soja, há um século. Agora, o ponto está marcado com uma placa comemorativa.  

O centenário da soja no Brasil também está registrado em um livro, lançado durante a Fenasoja. “Os 100 anos da soja no Brasil” foi escrito pelo jornalista Vinicius Tavares e teve a capa produzida pelo artista plástico Mauro Vila Real.  A imagem foi reproduzida em um painel de 40 metros quadrados na Fenasoja, que levou três dias para ficar pronta. 

Outra artista também deixou a marca dos 100 anos da soja, desta vez em um trator da Massey Ferguson, que convidou três artistas brasileiras para um concurso. A vencedora foi Jaque Vieira, com a obra “Natureza, tecnologia humana”, que foi pintada ao vivo durante a feira.

*Jornalista viajou a Santa Rosa (RS) a convite da Fenasoja.

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