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Agricultor teme enterrar safra de manga após tarifa: ‘é desolador’, diz
Produtor em Petrolina (PE) investiu cerca de R$ 630 mil para produzir 300 toneladas de manga com destino aos Estados Unidos
Sabrina Santos | São Paulo | sabrina.santos@estadao.com
31/07/2025 - 14:34

O sertão nordestino é a casa de quem vive da fruticultura irrigada no Vale do São Francisco. É o caso do produtor Amauri José Bezerra da Silva, natural de Caruaru (PE), que está prestes a completar meio século morando em Petrolina (PE). O que poderia ser um momento de celebração, porém, tornou-se um cenário de preocupação.
Após os Estados Unidos (EUA) oficializarem a tarifa de 50% sobre as frutas brasileiras, o agricultor teme não ter mercado para enviar a sua produção. “Tenho manga pronta para colher agora entre agosto e setembro. São cerca de 15 hectares sendo preparados nos últimos 12 meses para enviar para os EUA. Cada hectare custou, em média, R$ 42 mil por ano. O investimento já foi feito”, explica.
A estimativa de Amauri era colher 300 toneladas de manga nos próximos dois meses, com expectativa de venda a R$ 2,83 por quilo. Ele conta que, se tudo ocorresse como o planejado, o retorno seria de cerca de R$ 60 mil por hectare. “Mas agora, ninguém sabe o que vai acontecer”, relata.
A ligação entre Amauri e a produção de manga vem de longa data. Formado em engenharia agronômica e filho de produtor rural, ele começou a sua empreitada no setor agrícola ainda nos anos 80, mas foi a partir de 1990 que decidiu focar exclusivamente na fruta. Naquele ano, iniciou o cultivo com 11 hectares, e em 1996 já havia ampliado a sua área para 50 hectares — espaço que mantém até hoje, dedicado às variedades Tommy Atkins, Keitt e Palmer.
De lá para cá, a manga passou a ser não só a sua principal atividade econômica, mas também parte de sua identidade como produtor rural no Vale do São Francisco. “A gente faz tudo planejado com um ano de antecedência. Desde a poda, o manejo, até a reserva dos navios”, detalha.
Amauri explica que a exportação para os EUA era uma peça-chave do calendário do Vale do São Francisco, concentrando-se, exclusivamente, nesta época do ano. Ele menciona que a região envia, em média, 2.500 contêineres de manga por safra para o mercado norte-americano, isso, entre setembro e agosto.
Com a nova tarifa, ele teme que toda essa operação seja inviabilizada. “Se essa manga não for exportada, o mercado interno não tem como absorver. Os preços vão despencar”, afirma. “A manga que não vender, não tem jeito, vai apodrecer. E se isso acontecer, a gente vai ter que enterrar. Vai ser desolador para a gente, que já investiu tanto”, diz em tom de preocupação.
Desafios do cliente norte-americano
Hoje, Amauri vende a sua produção para uma empresa exportadora, responsável por enviar a manga para o exterior. No entanto, no passado, ele já foi sócio de companhia exportadora. Porém, desde 2001, após dificuldades logísticas provocadas pelos atentados de 11 de setembro nos EUA, passou a atuar apenas como produtor.
Curiosamente, os dois momentos mais críticos da trajetória comercial de Amauri têm relação com os EUA: em 2001, foi um evento trágico e imprevisível — um atentado que paralisou rotas aéreas e comprometeu a logística internacional. Já agora, em 2025, a origem é uma barreira comercial. “A gente lida com os desafios do clima, mas isso agora é diferente”, destaca.
Enquanto aguarda uma definição, esperançoso por uma mudança na decisão norte-americana, o produtor segue ativo, participando de conversas com os exportadores e autoridades locais. “Estamos conversando, tentando encontrar alternativas, mas, a realidade é que a situação é muito complicada”, lamenta.
Atualmente, o Vale do São Francisco é uma das principais regiões exportadoras de frutas do Brasil. A região, que abrange áreas dos estados da Bahia, Pernambuco, Minas Gerais, Sergipe e Alagoas, responde por 90% da manga e 98% da uva exportadas pelo Brasil, segundo a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados.
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