Economia
Com tarifas, frutas no Vale do São Francisco devem apodrecer no pomar
Decisão dos EUA trava exportações e produtores consideram não colher; risco de pragas e prejuízos milionários preocupa
 
                        Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com
30/07/2025 - 08:00

As mangas estão maduras, as uvas quase prontas, os galpões abastecidos e os fiscais norte-americanos a caminho para acompanhar a colheita das frutas no Vale do São Francisco. No entanto, a frase dita pela maioria dos agricultores da região, símbolo da fruticultura brasileira, é: ‘não vale nem a pena colher’. O relato é do presidente do Sindicato Rural de Petrolina (PE), Jailson Lira.
Em conversa com o Agro Estadão, Lira contou que diante da tarifa de 50% dos Estados Unidos (EUA) sobre os produtos brasileiros, incluindo as frutas, os produtores da principal região exportadora de manga e uva do país estão paralisados.
Sem tempo para redirecionar a produção, que começará a ser colhida na próxima semana e sem preços no mercado interno que cubram o custo de produção, muitos consideram deixar a fruta no pé. Aceitando, assim, os prejuízos milionários. “Tem fruta que simplesmente não compensa colher porque não há mercado que pague o suficiente para cobrir o custo da colheita. A conta não fecha”, explica o presidente do Sindicato Rural de Petrolina e produtor de uvas.
Caso a colheita das frutas não ocorra e elas apodreçam no pé, os produtores terão que tomar medidas sanitárias para evitar a proliferação da mosca-das-frutas, uma praga que pode causar prejuízos bilionários à produção. “Com isso, o agricultor também precisaria de mais mão de obra, pois teria que recolher essa fruta e enterrá-la a uma determinada profundidade, para evitar a proliferação das larvas de mosca no pomar. É uma situação bastante complicada”, destaca.

Custo de produção
Segundo ele, cada hectare de uva custa entre R$ 80 mil e R$ 120 mil para ser produzido. Lira não tinha os dados específicos do custo da manga, porém, destacou que no caso do fruto da mangueira, há procedimentos únicos que podem elevar o custo. “Essa fruta [manga] passa por um processo hidrotérmico, que é o aquecimento para ficar livre das larvas. Ela é uma fruta bastante aceita e que tem nos EUA um mercado muito bom. Só no ano passado, do volume de exportação brasileira de manga, exportamos 14% para os EUA. É um valor significativo”, diz.
Jailson lembra que, soma-se a esse custo as despesas com auditorias, rastreamento sanitário, investimentos em estrutura, insumos e o custo de mão de obra para a colheita. Nesse aspecto, há o temor do efeito cascata que a possível não colheita pode causar na economia local. Isso porque mais de 120 mil empregos diretos estão ligados à fruticultura.
Em 2024, o setor movimentou US$ 90 milhões com exportações de manga e uva no Vale do São Francisco. Para 2025, esperava-se um crescimento de 9% a 10%, ultrapassando R$ 5 bilhões em valor bruto de produção. Agora, estima-se que 70% a 80% da safra voltada aos EUA pode ser perdida, considerando os custos já realizados para o início da colheita. “Aqui o emprego é pleno, há renda para homens e mulheres. E agora tudo isso está ameaçado”, alerta Lira.
Diante da situação delicada e da incerteza quanto ao futuro das exportações do setor, a Abrafrutas não descarta solicitar apoio financeiro do Governo Federal, conforme noticiou o Agro Estadão. 
 
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