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Série Dia do Agricultor: enfermeira vira referência no cultivo de batata-doce

Com planejamento e inovação, a produtora Lucy Mara levou a batata-doce do interior paulista para o mercado mundial

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Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com

29/07/2025 - 08:00

Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

O cultivo da batata-doce no Brasil vive um novo momento. Entre 2009 e 2023, a produção quase dobrou — de 477,4 mil para 925,6 mil toneladas —, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

A área plantada também avançou, saindo de 42,2 mil hectares em 2019 para 61,2 mil hectares em 2023, com aumento na produtividade média, que passou de 11,3 para 15,1 toneladas por hectare.

Esse crescimento, impulsionado pelo interesse do mercado interno e pelas oportunidades de exportação, reflete o protagonismo de produtores que apostaram no cultivo. É o caso de Lucy Mara Rocha de Souza, em Pirapozinho (SP). 

Enfermeira por formação, com dez anos de atuação, ela aceitou o convite do pai — há cerca de nove anos — para ajudá-lo na lavoura. Hoje, Lucy Mara é um dos principais nomes da cadeia produtiva da batata-doce em São Paulo. Seu trabalho contribui para destacar o papel do Sudeste — responsável por 214 mil toneladas — e do próprio estado, segundo maior produtor brasileiro, com 140,7 mil toneladas anuais.

“Meu pai sempre falava que, se eu quisesse ganhar dinheiro, tinha que plantar uma única variedade, aquela comum, de casca branca ou rosada e polpa branca. Mas eu via a batata-doce colorida como um produto diferente, com um potencial enorme de valor nutricional. Quis fazer diferente”, conta ela.

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E fez. Lucy cultiva seis variedades distintas de batata-doce e vende para mercados nacionais e internacionais. As batatas saem do interior paulista para destinos como Holanda, Canadá, Uruguai, Argentina e Paraguai. 

Ela seleciona, classifica por tamanho e entrega para exportadores parceiros, que levam o produto ao exterior. “Para cada mil caixas colhidas, só consigo tirar de 200 a 250 caixas para exportação, ou seja, 20% a 25% da produção. O restante fica para o mercado interno. E isso, só em algumas épocas do ano. Há períodos em que a qualidade não está boa e a exportação não compensa. Se a seleção cai para 10% ou 15%, nem vale a pena colher tanto para fechar um contêiner de 22 mil quilos”, relata. 

Resiliência herdada

Filha de um dos precursores do cultivo na região, Lucy conta que o pai foi um dos primeiros a apostar na batata-doce depois de tentativas frustradas com outras culturas. Assim, ela aprendeu cedo o valor da resiliência.

Luiz Rocha, o pai de Lucy, é um dos pioneiros no cultivo de batata-doce em Pirapozinho (SP). Foto: arquivo pessoal

O pai, que, no início da empreitada, já encheu um caminhão de batatas e dirigiu rumo a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo, com o objetivo de vender toda a colheita em um dia, inspira até hoje pela coragem de seguir em frente, mesmo nas adversidades. “O produtor é resiliente. Ele investe tudo, até o que não tem. Sabe que pode perder, mas não desiste. Já perdemos na soja, em outras culturas, na batata-doce mesmo, mas a gente levanta e continua”, ressalta.

Para Lucy, o segredo está na paixão e na gestão. “Paixão não põe dinheiro na conta, mas dá forças para seguir. Por isso, a importância da governança, de diversificar, de estudar”, salienta.

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Unindo a batata-doce e a paixão pela nutrição

O olhar diferenciado de Lucy para o alimento nasceu ainda nos tempos de enfermeira, quando ela atendia crianças em fase de crescimento e recomendava papinhas feitas com ingredientes ricos em nutrientes. “Eu sempre indicava alimentos como batata-doce, beterraba, couve… Queria agregar valor nutricional à alimentação das crianças”, lembra. 

Quando mergulhou na agricultura, levou esse pensamento junto. “Fui estudar e vi que a batata-doce colorida tem betacaroteno, antocianina, flavonoides, triptofano, vitaminas B6, B12… É uma infinidade de nutrientes. Eu queria produzir algo que fizesse bem pra quem consome”, explica. 

E a missão foi levada a sério por Lucy. Durante o aprofundamento dos estudos, ela foi a congressos, buscou capacitação e ampliou o olhar do negócio familiar. Assim, a produção de batata-doce colorida — ainda um nicho pequeno no Brasil — se tornou uma aposta estratégica.

Diversificação e inovação

Mas Lucy não parou na batata-doce. Para enfrentar as oscilações de mercado e de clima, diversificou as atividades. Introduziu a integração lavoura-pecuária em áreas arrendadas, passou a plantar milho para silagem — parte para consumo próprio, parte para venda — e até inseriu a batata-doce na alimentação dos animais. “Batata com dano mecânico, fora do padrão ou tamanho, a gente oferece para o gado em semiconfinamento. Nada se perde”, afirma.

A propriedade mantém ciclo completo na pecuária: cria, recria e engorda. Essa diversificação, diz Lucy, é a estratégia para lidar com os altos e baixos do campo. “Às vezes, a pecuária vai bem e a lavoura não. Às vezes, é o contrário. O importante é manter o equilíbrio financeiro e estudar o mercado.”

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Estudar, aliás, é a palavra-chave para Lucy. Ela é inquieta. Curiosa. Sempre atrás de novas tecnologias. Com o pai, estou fertilizantes, tratos culturais e, mais recentemente, passou a usar insumos biológicos. “Os biológicos melhoram a qualidade, padronizam a produção e reduzem o uso de defensivos químicos. Trouxemos da soja para a batata e deu certo”, conta.

Lucy também sente na pele os desafios de quem trabalha no campo. A falta de mão de obra é um deles. A colheita da batata-doce, semimecanizada, exige pelo menos 20 pessoas por dia, o que pressiona a operação. “O problema não é só encontrar gente. É encontrar quem queira trabalhar e esteja qualificado. As novas gerações querem atuar da porteira para fora. Mas quem vai pôr a mão na terra?”, questiona.

Fortalecimento da cadeia

Para enfrentar esses desafios, Lucy aposta na união dos produtores. Em 2018, juntamente com o pai e outros agricultores, ajudou a criar a Batatec — feira tecnológica da batata-doce. O evento, realizado em Presidente Prudente (SP), nasceu para capacitar agricultores e fomentar a tecnificação no setor. “A Batatec foi feita por produtores e para produtores. Contamos com apoio de entidades e, juntos, conseguimos levar conhecimento e estimular o desenvolvimento de maquinários adaptados à nossa realidade”, diz Lucy.

A mecanização, especialmente na colheita, ainda é um desafio. A batata-doce, sensível a danos mecânicos, não pode ser colhida por qualquer equipamento. Mas a feira tem incentivado fabricantes locais a desenvolver soluções.

Olhar feminino sobre a produção

Nos últimos anos, Lucy também percebeu outra mudança no campo: o avanço da participação feminina. Ela conta que, quando começou, existiam poucas mulheres atuando na batata-doce. “Tinha mais uma ou outra produtora”, diz. Hoje, ela já vê um olhar e participação femininas crescentes. 

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Para ela, a presença feminina não apenas aumentou, mas também trouxe um jeito diferente de conduzir os negócios. “A mulher busca conhecimento, se dedica ao estudo, planeja cada passo. A gente pensa, organiza, calcula antes de agir. O homem, muitas vezes, é mais impulsivo”, comenta.

Esse olhar atento, segundo Lucy, não significa trabalhar sozinha ou querer ocupar o lugar dos homens, mas atuar de forma complementar. “Acredito muito na força do trabalho conjunto. O agro vai ser cada vez mais forte enquanto homem e mulher estiverem lado a lado. A mulher traz planejamento, o homem traz ação. Essa combinação é poderosa”, ressalta.

Além disso, segundo ela, o futuro do agro brasileiro é produzir cada vez mais, com mais sustentabilidade e responsabilidade ambiental, aumentando a produção com o uso de tecnologias, sem a necessidade de expansão de área. 

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