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Pescados: pesquisa revela baixo consumo em São Paulo, mas aponta mudança de perfil
Segundo o estudo, maioria dos entrevistados nunca come esse tipo de alimento; entre os que apreciam, tilápia supera espécies de água salgada

Igor Savenhago | Ribeirão Preto
03/02/2025 - 08:00

Uma pesquisa desenvolvida pelo Núcleo Pescado para Saúde investigou os hábitos de consumo de pescados pela população do Estado de São Paulo e concluiu que a frequência está bem abaixo das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Por outro lado, os dados coletados demonstram um mercado em ascensão: o de tilápias, peixe de água doce que conquistou o paladar dos paulistas e tem mudado uma tradição antiga de preferência por espécies marinhas.
O Núcleo Pescado para Saúde surgiu em outubro de 2022, para promover esse tipo de alimento como opção saudável na alimentação. É formado por pesquisadores do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto de Pesca, ligado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), que mantém parcerias com a Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Com financiamento garantido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) até 2027, eles foram a campo descobrir como cerca de 2 mil moradores do estado se comportam em relação aos pescados – que, além de peixes, incluem alguns tipos de algas. Um questionário com 23 perguntas foi apresentado, de forma online e presencial, a 1947 pessoas, com predomínio de mulheres (62%), de todas as faixas etárias, sendo a maioria de 40 a 59 anos.
Quando perguntados sobre o consumo em casa, 52% dos entrevistados responderam que nunca comem pescado, 33% apenas em ocasiões especiais e pouco mais de 10% de uma a três vezes por semana. Fora de casa, 46% nunca consomem, 27% em ocasiões especiais e 21% de uma a três vezes por semana. Os filés congelados são os mais procurados, mas o preço é considerado o fator mais limitante para o crescimento desses números.
Segundo Jéssica Levy, pós-doutoranda na USP e uma das participantes do núcleo, a OMS recomenda que cada pessoa consuma pelo menos 12 quilos de pescados por ano – divididos em uma a duas refeições por semana. Um índice do qual o Brasil está muito distante, pois o consumo esporádico no país resulta em uma média inferior a seis quilos por pessoa/ano. Para Jéssica, entre os motivos para a baixa adesão, está a desinformação sobre riscos relacionados às espinhas e odores naturais, que são confundidos com os de alimentos estragados.
Para mudar essa realidade, os membros do Pescado para Saúde estabeleceram sete tarefas que pretendem cumprir nos próximos anos. O levantamento em São Paulo é parte da primeira – que contempla, também, outras regiões brasileiras. Entre as outras tarefas, estão caracterizar amostras das espécies mais consumidas, quanto aos níveis nutricionais, e melhorar a comunicação com a sociedade – por meio de concursos de receitas, estímulo à elaboração de produtos como linguiças, salsichas e almôndegas, e inserção de pescados na alimentação escolar, em lares para pessoas idosas e presídios.
Também existe uma confiança no potencial de aumento do consumo nos próximos anos. “As pessoas estão migrando para hábitos mais saudáveis e sustentáveis, o que pesa de maneira favorável aos pescados”, afirma Jéssica.
Tilápia lidera entre os pescados
O estudo apurou que tipos de pescados são mais consumidos pelos paulistas. Nas primeiras posições, aparecem tilápia, salmão, atum, sardinha, cação, bacalhau e camarões. Isso consolida uma mudança de hábitos – já que, até o final da década de 2010, a preferência era pelas espécies de água salgada. Atributos como maciez, fácil preparo, sabor agradável e valores mais acessíveis ao bolso são citados pelos pesquisadores como fatores que ajudam a explicar esse comportamento.
A predominância da tilápia no gosto dos paulistas é fundamental, também, para que o estado ocupe a segunda posição entre os maiores produtores do país, atrás apenas do Paraná. Conforme a Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR), os criadores paulistas colocaram no mercado 75 mil toneladas em 2023.
Só a Fider Pescados, que tem sede em Rifaina, perto da divisa de São Paulo com Minas Gerais, responde por quase 15% desse volume. No ano passado, foram dez mil toneladas processadas. A empresa, que inaugurou seu frigorífico em 2014, trabalha exclusivamente com tilápia, com produção verticalizada.

A Fider também aposta no fortalecimento – expressivo – da demanda. Tanto que, nos próximos dois anos, pretende ampliar a capacidade de abate em 80%, com a instalação de um novo reservatório em Estreito, vizinho a Rifaina. Serão 400 novos tanques-rede, sendo que 100 já estarão em operação a partir do próximo mês de abril. Com isso, a expectativa é aumentar o faturamento da empresa em 30% até o final de 2025, atingindo R$ 200 milhões.
O diretor da Fider, Juliano Kubitza, projeta que, até 2030, o Brasil vai saltar das atuais 600 mil toneladas de tilápias produzidas para mais de um milhão. Ele afirma que 95% do mercado atendido pela empresa está em São Paulo, principalmente em locais onde o filé fresco pode chegar rápido, para não comprometer a qualidade – como as regiões de Ribeirão Preto, Campinas, Sorocaba e São Paulo.
Para Kubitza, a procura pela tilápia cresce na medida em que os consumidores conhecem a versatilidade do peixe. “Aceita qualquer tempero”. Por isso, na visão dele, o setor precisa investir mais em marketing. “A gente faz algumas ações em lojas de varejo para falar com pessoas que não comem tilápia e a praticidade surpreende”.
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