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Série Dia do Agricultor: entre perdas, produtor resiste no RS
Leonardo Freitas, produtor de Santa Maria (RS), lembra dos prejuízos causados pelo clima extremo, mas mantém a confiança e a lavoura de soja
Paloma Santos | Brasília | paloma.santos@estadao.com
28/07/2025 - 05:00

Aos 42 anos, o produtor Leonardo Freitas segue todos os dias para a lavoura, em Santa Maria (RS), com a mesma disposição que via no pai e no avô. A terra, diz ele, é mais do que sustento. É vocação e perseverança. Seguindo os passos da família, o empreendedor rural cultiva 550 hectares de soja e mantém cerca de 500 cabeças de gado de corte.
A lida no campo sempre foi intensa, mas também recompensadora. “É trabalhoso, é oneroso, muito calor ou muito frio, dependendo da época do ano, mas eu sempre gostei. É bonito demais você ver ali uma planta crescer, um animal nascer”, justifica.
O vínculo com o campo é afetivo, e também histórico. O avô do produtor plantou soja pela primeira vez nos anos 1960. Naquela época, colher 20 sacas por hectare era considerado um feito. Desde que assumiu a propriedade, alcançou a marca de 80 sacas por hectare.
Ele enxerga no passado uma lição de constância. “O agricultor está quebrado, mas está de cabeça erguida, porque tem que tocar a vida pra frente. A única coisa que ele sabe fazer é produzir”.
Perdas sucessivas
Leonardo vê, satisfeito, o filho de quatro anos brincar com os tratores e com os animais em meio à propriedade. As novas lembranças vão, aos poucos, apagando da memória as cenas das lavouras perdidas. Foram cinco perdas sucessivas.
Entre 2022 e 2024, Leonardo e milhares produtores rurais do Rio Grande do Sul enfrentaram um ciclo de eventos climáticos extremos, incluindo secas severas, geadas e, no ano passado, enchentes catastróficas.
O produtor viu sua produção ruir, safra após safra, sob a força do clima. Para ele, a lembrança mais marcante foi assistir à lavoura ser inundada, logo após começar a colheita.

“Ela estava madura, linda. Tínhamos feito todo o investimento, cuidado o ano inteiro. Faltava só tirar e guardar o grão no armazém. E aí veio a chuvarada e destruiu tudo.” Leonardo perdeu 90% da safra. “Foi o mais triste: ver a lavoura apodrecer na frente dos meus olhos, sem poder fazer nada.”
Com o solo encharcado, as máquinas atolavam. As estradas desapareceram sob barreiras e pontes caídas. A força da água abriu sulcos no solo e destruiu parte do que havia sido construído. “Derrubou mato, arruinou áreas que talvez nem consigamos recuperar”.
Fé para continuar
Como muitos produtores gaúchos, Leonardo ainda enfrenta, com bravura, a crise financeira. A aposta tem sido em financiamentos via cooperativas e ajuda mútua entre colegas. “Se não sair a securitização das dívidas, o Rio Grande do Sul para. O agricultor não tem como sobreviver”, diz.
Mesmo assim, ele não pensa em desistir. Para isso, aposta em gestão, tecnologia e capacitação. Participa de consultorias e tenta modernizar ao máximo a produção. “O custo fixo é altíssimo. Semente, adubo, diesel, mão de obra. Isso não dá pra tirar. Então, tem que investir em tecnologia pra aumentar a produção”, explica.
Entre perdas e ganhos, Leonardo encontra forças naquilo que o cerca, na terra que plantava arroz com o avô e agora vê crescer o filho, apostando no futuro.
O segredo dos que vivem da terra é simples, ele diz: “Nunca desistir. Sempre haverá seca, sempre haverá chuvarada. Mas a gente tem que ter coragem. Porque plantar hoje pra colher daqui cem, cento e vinte dias, sem saber o que vai vir, exige fé. E fé é o que o agricultor mais tem.”
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