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Série Dia do Agricultor: após enchente, produtor recomeça no RS
O agricultor Mauro Soares viu sua produção ser levada pela água em 2024. Hoje, ele comemora à retomada da rotina no campo
Paloma Santos | Brasília | paloma.santos@estadao.com
30/07/2025 - 08:00

A água subiu rápido na propriedade de 26 hectares do agricultor Mauro Soares, em Cruzeiro do Sul, no Vale do Taquari. Em poucas horas, a enxurrada invadiu a casa e destruiu tudo: máquinas, plantações, galpões e animais. Foram três dias dividindo o forro da casa com a esposa, a mãe e os cães da família. Nada resistiu. “Conseguimos salvar só algumas roupas e um pouco de comida. O resto foi embora com a enchente”, relembra.
Pouco mais de ano depois, na semana do Dia do Agricultor, Mauro fala com uma serenidade quase inacreditável sobre o que viveu. “Agora a gente consegue dormir, a gente consegue sonhar, né? Ter a preocupação com trabalho, com aquelas tarefas que tem pra fazer. É muito ruim a gente acordar de manhã e não ter tarefas, perspectivas”.
Mesmo com a estabilidade do clima, ele e a esposa decidiram arrendar o terreno antigo e recomeçar fora da região de várzea. A nova propriedade está localizada em uma área mais alta e é bem menor, tem apenas um hectare. “É um espaço pequeno, mas conseguimos plantar milho, mandioca, abóbora, feijão, batata, hortaliças… trocamos as vacas pelas galinhas. Hoje tiramos em torno de oito dúzias de ovos por dia”, diz.
A produção, agora, é voltada principalmente para consumo próprio e alimentação dos animais. Mas o que sobra, é vendido. “A gente sempre se sustentou com o que plantava. E isso continua. Com pouco, mas com dignidade.”
Solidariedade como adubo
Segundo ele, o recomeço foi possível por um fator essencial: a solidariedade. “Teve gente que me conhecia de longe, dos porcos que eu criava, e trouxe novos animais. Outros vieram ajudar a reconstruir, passaram semanas aqui ajudando, sem cobrar nada”, diz. “Sem isso, a gente não estaria de pé”, enfatiza.
A única sobrevivente da criação foi uma porca da raça moura. Graças à ajuda de amigos, Mauro recebeu doações de novos exemplares e segue criando suínos em uma estrutura que ele mesmo reformou. Na semana que vem, vai receber fêmeas prenhes e um macho, fornecidos pela Embrapa-RS. “Está tudo pintadinho, está tudo pronto, esperando. Consegui reformar e construir o alojamento”, conta animado.

Rotina e resiliência
A nova vida começa cedo. Por volta das 6h, Mauro toma café e vai para a lida. “É cansativo, mas prazeroso. A gente cria os animais, planta, colhe, vê as coisas crescerem. Isso dá sentido pra vida”.
O terreno diminuiu, mas a “mão de obra” aumentou. Desde a enchente, a mãe, de 86 anos, e o irmão estão morando com o produtor e a esposa. “A mãe ajuda como pode. Ela descasca aipim, cuida das coisas pequenas dentro de casa. Todo mundo acaba ajudando”.
Perspectiva de futuro
O agricultor projeta retomar o ritmo dentro de um ano. “Não vai ser como antes, mas vamos conseguir viver do que plantamos”. Para ele, a maior conquista é ter saúde para seguir em frente. “A gente sabe que a vida é difícil para todo mundo, tem tanta gente que já perdeu igual ou mais, e a gente está aí com saúde ainda, então tem mais que levantar a cabeça e tocar a coisa para frente e reconstruir de novo”.
Ele acredita que a agricultura tem papel essencial na economia brasileira. Na data em que se celebra o trabalho de milhões de produtores rurais no Brasil, Mauro deixa sua mensagem:
“Fazer o que se ama é o primeiro passo. A agricultura familiar tem futuro, sim. Ela produz com cuidado, com amor. E precisa ser vista, valorizada. Porque é daqui que vem a comida da maioria das pessoas. E se é feito com qualidade, com respeito à natureza, é ainda melhor.”
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