Sustentabilidade
Agricultura regenerativa e plantio direto são soluções para recuperação do solo no RS, apontam especialistas
Enchentes no estado não só destruíram infraestruturas e vias de transporte, mas também comprometeram a capacidade produtiva das áreas agrícolas

Sabrina Nascimento | Atualizado às 10h51 do dia 29/05/2024
28/05/2024 - 16:50

As recentes enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul impactaram severamente centenas de cidades gaúchos. Na área rural, levantamento preliminar da Embrapa Territorial, indica 21.541 imóveis rurais afetados em 255 municípios. Os dados consideram a mancha de inundação entre os dias 5 e 7 de maio.
Dentro do trecho de inundação, mais de 91 mil hectares são de áreas de preservação permanente (APPs), reservas legais e vegetações nativas, que foram danificadas, distribuídas em mais de 21 mil propriedades rurais. As perdas não se limitaram às colheitas e infraestruturas, mas também atingiram diretamente a camada superficial do solo, crucial para a agricultura.
Rodrigo Demonte, pesquisador da Embrapa Solos, descreve ao Agro Estadão a gravidade da situação. “A força da água remove material de solo, levando consigo uma enorme quantidade de nutrientes e matéria orgânica, comprometendo a fertilidade do solo.”
As áreas elevadas sofreram uma remoção intensa de solo, resultando na perda de nutrientes valiosos como fósforo, potássio, enxofre e cobre. Segundo o pesquisador, este processo erosivo é visível nas águas barrentas que percorrem o Rio Grande do Sul, “carregando a riqueza do solo para longe dos campos cultiváveis.”

A situação nas áreas baixas, particularmente nas regiões de cultivo de arroz, é igualmente crítica. “Nos pontos onde ficaram cascalheiras e buraqueiras, perde-se a área de plantio”, alerta o pesquisador da Embrapa Solos.
Como recuperar o solo e a produtividade nas áreas agrícolas afetadas?
As enchentes não só destruíram infraestruturas e vias de transporte, mas também comprometeram a capacidade produtiva das terras agrícolas. Diante do cenário, especialistas apontam a adoção de práticas sustentáveis de manejos como as alternativas mais eficazes de recuperação e prevenção.
Agricultura regenerativa: inclui práticas como a rotação de culturas e o uso de culturas de cobertura para melhorar a saúde do solo. “A rotação de culturas e as culturas de cobertura ajudam a estruturar o solo com características distintas, formando uma condição melhor para o desenvolvimento das culturas subsequentes”, explica Gustavo Heissler, gerente de Sustentabilidade do Serviço de Inteligência em Agronegócios (SIA).
Plantio direto: O plantio direto é uma técnica que envolve o cultivo de plantas sem a necessidade de arar o solo, mantendo a cobertura vegetal durante todo o ano. Isso protege o solo contra a erosão e ajuda a manter sua estrutura e fertilidade.

A utilização da técnica do plantio direto é recomendada em culturas como a soja, milho e trigo. No entanto, para o arroz, cultivo no qual o Rio Grande do Sul é responsável por cerca de 70% da produção nacional, o especialista indica a rotação de culturas para a recuperação das áreas degradadas.
“A rotação de culturas, especialmente com leguminosas, pode enriquecer o solo com nutrientes essenciais como o nitrogênio, promovendo um ambiente mais fértil para o cultivo subsequente do arroz”, afirma o gerente de Sustentabilidade da SIA. Além das leguminosas, soja e milho também podem ser alternativas aos rizicultores.
Prevenção de desastres futuros
Além das técnicas de recuperação, é essencial adotar práticas que previnam danos futuros, tanto em períodos de chuva excessiva quanto de seca. Como a cobertura de solo e drenagem.
Cobertura do solo: manter o solo coberto com vegetação é uma estratégia eficaz para proteger contra a erosão causada pela chuva intensa. “A cobertura vegetal ajuda a absorver o impacto das gotas de chuva, reduzindo a erosão e mantendo a estrutura do solo”, afirma Heissler.
Drenagem adequada: O geólogo e professor do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (Ceunsp), Rodrigo Salvatti, acredita que a construção de sistemas de drenagem é crucial para manejar o excesso de água durante períodos de chuvas intensas. “A drenagem ajuda a conduzir a água para longe das áreas cultivadas, prevenindo a saturação do solo e a subsequente erosão”, explica ao Agro Estadão.
Siga o Agro Estadão no Google News, WhatsApp, Instagram, Facebook ou assine nossa Newsletter

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Sustentabilidade
1
O que faz um produto ser orgânico?
2
A polinização cruzada e sua importância na agricultura
3
Biocarvão: o segredo para solos mais férteis e produtivos
4
Além do vermelho: descubra as surpreendentes cores da melancia
5
Petrobras anuncia R$ 5,5 bilhões para conversão de Refinaria em Biorrefinaria
6
Moratória da Soja: AGU se posiciona contra lei de MT

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Sustentabilidade
Etanol: adoção do E30 deve aumentar demanda pelo anidro em 16,2%
Bioind MT aponta ainda que previsibilidade regulatória e políticas públicas são fundamentais para garantir segurança aos investidores

Sustentabilidade
Unica: setor sucroenergético está pronto para transição impulsionada pelo E30
Testes confirmaram viabilidade técnica do aumento da mistura de etanol na gasolina dos atuais 27% para 30%

Sustentabilidade
Governo gaúcho e Rede ILPF assinam acordo de cooperação técnica
Rio Grande do Sul irá implantar o programa Integra RS para difundir conhecimentos e tecnologias relacionadas ao tema

Sustentabilidade
Governo vai regulamentar nova Lei do RenovaBio
Decreto do Ministério de Minas e Energia vai regulamentar novas regras da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) aprovadas em 2024
Sustentabilidade
Porongo: do chimarrão ao samba
Além das cuias para tomar mate, o porongo é utilizado para criar instrumentos musicais com grande importância cultural e econômica
Sustentabilidade
Moratória da Soja: AGU se posiciona contra lei de MT
Parecer foi anexado ao processo em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF), sob relatoria do ministro Flávio Dino
Sustentabilidade
Sergipe implementa agricultura regenerativa para batata-doce
Iniciativa quer dobrar a produtividade de batata-doce de forma sustentável, sem expandir a área irrigada
Sustentabilidade
Biocarvão: o segredo para solos mais férteis e produtivos
O biocarvão é produzido a partir de resíduos agrícolas, como palha e bagaço de cana, transformando subprodutos em um valioso insumo agrícola