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Welber Barral

Conselheiro da Fiesp, presidente do IBCI e ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil

Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão

Opinião

A encruzilhada protecionista europeia

Parece fazer parte da natureza humana apoiar o livre comércio, desde que seja no mercado alheio

Foto: Adobe Stock
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A resistência do agro europeu ao Acordo Mercosul-União Europeia é o exemplo perfeito de como o protecionismo agrícola pode ser disfarçado por uma retórica de virtudes. Países como França, Polônia e Irlanda, conhecidos por sua defesa intransigente dos interesses agrícolas, lideram a oposição ao acordo. Enquanto os europeus exigem a abertura do mercado industrial do Mercosul, recusam-se obstinadamente a abrir seus próprios mercados agrícolas. Essa dinâmica protecionista tem sido o principal obstáculo desde o início das negociações e continua a assombrar qualquer tentativa de avanço.

Mesmo com a inclusão de cotas de exportação, destinadas a limitar o impacto dos produtos agrícolas do Mercosul nos mercados europeus, a resistência persiste. Alegam preocupações ambientais e sanitárias, mas a verdade é que tais justificativas muitas vezes carecem de qualquer fundamento.

Neste sentido, a recente decisão do Carrefour França de declarar que não compraria produtos brasileiros pode ser analisada sob duas perspectivas. Primeiro, para agradar consumidores e agricultores franceses, o Carrefour posiciona-se como defensor dos interesses nacionais e da sustentabilidade. Essa postura, é claro, faz sentido do ponto de vista de marketing. Mas é difícil imaginar que, com o acordo eventualmente assinado e uma queda nos preços dos produtos agrícolas, qualquer supermercado europeu se abstenha de buscar maiores margens.

O verdadeiro perigo, no entanto, está nos padrões privados: exigências adicionais impostas por redes de varejo que se tornam barreiras comerciais disfarçadas. Não é a primeira vez que vemos isso acontecer. Setores como o de carne e celulose já enfrentam desafios semelhantes com selos de sustentabilidade. Esses requisitos burocratizam o processo de exportação, elevam custos e, no fim, favorecem mercados protegidos.

O Brasil já enfrentou desafios semelhantes no passado. No setor de celulose, por exemplo, exportadores brasileiros foram obrigados a criar um certificado de origem para comprovar que o produto vinha de florestas plantadas, e não de florestas nativas. O custo? Alto. O benefício para os europeus? Garantir que produtos estrangeiros enfrentassem obstáculos adicionais, protegendo seus mercados locais sem parecerem explicitamente protecionistas.

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Com consequência, a postura do governo brasileiro diante de manifestações como a do Carrefour será determinante para evitar a proliferação dessas narrativas. A verdade é que o Carrefour não produz no Brasil, apenas opera lojas no país. Ainda assim, a inação pode ser interpretada como conivência, e as narrativas infundadas podem ganhar força. Não há alternativa ao Brasil senão deve reforçar a transparência de suas práticas agrícolas e ambientais, mostrando que os padrões do país são tão rigorosos quanto os europeus. Além disso, deve buscar apoio de aliados comerciais, fortalecendo coalizões no cenário internacional para contrabalançar a retórica protecionista.

É fácil observar como as potências europeias, sempre tão eloquentes na defesa do livre comércio, tornam-se subitamente avessas a ele quando seus interesses agrícolas estão em jogo. Parece fazer parte da natureza humana apoiar o livre comércio, desde que seja no mercado alheio. No caso do protecionismo agrícola, as medidas não apenas blindam agricultores locais, como também perpetuam uma narrativa de supremacia ambiental, sugerindo que só os produtos europeus atendem aos padrões de sustentabilidade, desconsiderando décadas de esforços e avanços feitos por países como o Brasil.

No curto prazo, resta ao Brasil esclarecer, com dados e fatos. que práticas protecionistas mascaradas de preocupações ambientais prejudicam não apenas exportadores brasileiros, mas também consumidores europeus, que acabam pagando mais por produtos de alta qualidade (e deliciosos, no caso da carne mercosulina).

No longo prazo, contudo, o Brasil precisa investir na diversificação de mercados e na construção de uma imagem internacional que reflita sua liderança em sustentabilidade e produção agrícola. Para o Brasil, a oportunidade não está apenas em superar barreiras, mas em moldar o discurso, destacando sua competitividade, sustentabilidade e importância global.

Ironicamente, “carrefour” em francês é uma encruzilhada. São os caminhos que se bifurcam entre o protecionismo e o livre comércio.

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