
Tirso Meirelles
Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp)
Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão
Opinião
O campo pede respeito
Aumento de impostos e ineficiência federal ameaçam competitividade e empregos rurais
10/10/2025 - 05:00

O Brasil deve muito ao seu campo. Dele vêm os alimentos que abastecem nossas mesas e os produtos que sustentam uma significativa fatia das exportações nacionais. Em meio a crises econômicas, sanitárias e políticas, o agronegócio tem sido, reiteradamente, o motor que impede o país de estagnar. No entanto, é justamente esse setor que hoje se vê acuado por um governo federal que parece não compreender sua importância estratégica.
Desde o início de 2023, os produtores rurais têm enfrentado uma crescente carga tributária imposta pelo Executivo, para cobrir o déficit fiscal e atender a uma voracidade de gastos desmedidos. Mais de 20 aumentos ou novos tributos foram implementados, afetando diretamente a competitividade do setor. Trata-se de uma escolha equivocada e míope, que compromete não apenas a saúde financeira dos produtores, mas a própria economia nacional e a segurança alimentar da população.
A elevação de impostos sobre insumos, transporte, combustíveis e exportações não pode ser vista apenas como uma medida técnica de ajuste fiscal. Ela carrega profundas consequências sociais e produtivas. O chamado Custo Brasil, já historicamente elevado, se torna ainda mais oneroso, fazendo com que nossos produtos percam espaço nos mercados internacionais — espaço este que não se recupera facilmente.
Não bastasse a carga tributária, os produtores convivem com a ineficiência do governo em reagir a cenários de crise. A resposta morosa ao tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, resultou na perda de toneladas de frutas, flores e pescados. Produtos perecíveis, que exigem logística rápida e ação diplomática ágil, foram simplesmente abandonados à própria sorte. Enquanto autoridades hesitavam em Brasília, produtores viam meses de trabalho e investimento virarem desperdício.
O setor rural pede sensibilidade. Pede que o governo compreenda que, além de geradores de riqueza, os homens e mulheres do campo são guardiões da segurança alimentar de mais de 200 milhões de brasileiros — e também de parte significativa do planeta. Tratar esses produtores como meros contribuintes, ou pior, como inimigos ambientais ou fiscais, é uma distorção grave da realidade.
Não se pode exigir mais sacrifícios de um setor que já opera sob risco climático, cambial e logístico. O que se espera do governo federal é previsibilidade, diálogo e compromisso com a eficiência administrativa. Tributação excessiva e ausência de política agrícola efetiva são caminhos certos para a perda de competitividade, para o desemprego no campo e, em última instância, para o aumento do preço dos alimentos nas cidades.
O Brasil precisa decidir se quer um campo forte, moderno e competitivo — ou um produtor endividado, desmotivado e abandonado. A resposta parece óbvia, mas as ações do governo caminham na direção contrária.
O campo está fazendo sua parte. Resta saber se Brasília fará a sua.

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Opinião
1
Brasil e Índia: potências agrícolas em busca de cooperação estratégica
2
Marcos Fava Neves: 5 pontos para ficar de olho no mercado agro em outubro
3
A vez do EFTA
4
A maturidade do biodiesel nacional na COP 30
5
Política Agrícola e a pedra filosofal
6
45 anos de contribuição do Brasil para uma agricultura sustentável no Cone Sul

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Opinião
A maturidade do biodiesel nacional na COP 30
Com impacto direto no agronegócio, biodiesel se consolidou como uma solução mais efetiva de curto prazo para a descarbonização

Francisco Turra

Opinião
Marcos Fava Neves: 5 pontos para ficar de olho no mercado agro em outubro
Início de uma nova safra exige atenção dos produtores ao clima, ao dólar, aos EUA e às oportunidades em novos mercados

Marcos Fava Neves

Opinião
45 anos de contribuição do Brasil para uma agricultura sustentável no Cone Sul
Com a tecnologia de Fixação Biológica de Nitrogênio na soja, o país economiza cerca de U$ 20 bilhões por ano em fertilizantes nitrogenados

Opinião
Política Agrícola e a pedra filosofal
Seguro é tão crédito quanto financiamento, “barter” ou usar recursos próprios. Crédito decorre de confiança baseada em evidências.

José Carlos Vaz
Opinião
A vez do EFTA
Com barreiras tarifárias dos EUA e exigências da União Europeia, Mercosul mostra que ainda pode alcançar tratados modernos de comércio

Welber Barral
Opinião
Geopolítica da carne
México elevou em 198% as compras de carne bovina em 2025 e pode habilitar 14 novos frigoríficos do Brasil

Teresa Vendramini
Opinião
Brasil e Índia: potências agrícolas em busca de cooperação estratégica
Combinação de vantagens abre uma janela de oportunidades para que os dois países aprofundem parcerias comerciais, técnicas e científicas

Celso Moretti
Opinião
Mercosul-União Europeia: caminhos que se bifurcam
Num mundo de incertezas jurídicas, com as batalhas tarifárias dos EUA, o acordo com a Europa representa previsibilidade institucional; UE apresenta o texto do acordo nessa quarta-feira, 3, em Bruxelas.

Welber Barral