Agropolítica
World Agri-Tech: empresas cobram do governo federal rastreabilidade para produtos agropecuários
Setor financeiro também falou da necessidade de monitoramento das emissões de carbono por parte do produtor
Daumildo Júnior* | daumildo.junior@estadao.com
19/06/2024 - 08:30

A inovação na agricultura é o tema central do World Agri-Tech South America, evento que acontece até esta quarta, 19, em São Paulo (SP). A proposta é debater problemas e soluções em diferentes aspectos da agropecuária no Cone Sul das Américas. Em um dos painéis, empresas cobraram uma atuação mais concreta do governo no tema da rastreabilidade. Para o CFO da Minerva Foods, Edison Ticle, o problema não está na etapa e nos fornecedores que eles têm contato, mas sim em fases anteriores.
“O grande problema hoje é a gente não conseguir monitorar os fornecedores indiretos. […] A gente consegue, por uma questão de legislação, apenas monitorar o fornecedor direto. Eu não tenho poder sobre o fornecedor indireto”, afirmou durante painel do evento.
Ticle sugeriu uma solução por meio das Guias de Trânsito de Animal (GTA), que são obrigatórias no transporte de animais domésticos e com fins econômicos. No entanto, é preciso haver uma mudança no acesso a esses documentos. Na visão dele, isso traria mais transparência ao processo e seria possível fazer a rastreabilidade de toda a cadeia.
“O monopólio desta informação está no Ministério da Agricultura. Se a gente tivesse acesso lá a essas GTAs, a gente poderia rastrear de forma completa e de forma inequívoca. […] O GTA é tratado pelo ministério como uma informação equivalente ao sigilo bancário, então a gente não tem acesso a todas as GTAs. Fica então um pedido, um apelo. O governo precisa nos ajudar”, completou.
O CFO também chamou a atenção para a participação de outros entes da cadeia. “A gente está sofrendo pressões, por exemplo, da indústria financeira, que com todo respeito, às vezes resolve não se envolver nessas questões mais difíceis e fica numa posição só de cobrar ao invés de usar os próprios instrumentos que eles [bancos] tem, como por exemplo bloquear as contas, bloquear os fornecedores, tomar medidas mais drásticas para ajudar a indústria”, disse Ticle.
Também presente no painel, a CEO do Rabobank no Brasil, Fabiana Alves, concordou com o executivo da Minerva. “Chega um certo momento que os players da cadeia toda esbarram em questões governamentais […] O meu pedido é que o governo trabalhe a questão do monitoramento e da transparência em relação ao desmatamento ilegal. Acho que isso é fundamental para destravar o nosso protagonismo”, comentou.
O painel foi moderado pela secretária de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperação do Ministério da Agricultura, Renata Miranda. A representante do governo respondeu aos questionamentos e pedidos dos executivos.
“O governo está atento a essa questão de rastreabilidade e estamos atentos à modernização da GTA. E temos uma solução em andamento agora. A gente está desenvolvendo em uma parceria com a Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) e a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) uma plataforma chamada Plataforma Agro Brasil Mais Sustentável, que virá sim dar transparência e segurança para o sistema produtivo”, anunciou Miranda, mas sem dar mais detalhes.
Setor financeiro vê necessidade de estruturação de seguro rural e coloca a monitoramento como tendência
Ao Agro Estadão, a CEO do Rabobank no Brasil explicou como é o papel do produtor dentro de uma cadeia rastreável. Ela também destacou a importância de investir em formas de mensurar as emissões de carbono na propriedade.
“Para o produtor o que é importante é o conceito da transparência. A gente sabe que o produtor faz muitas coisas na direção da sustentabilidade há muito tempo no Brasil e que a nossa agricultura é sim uma das mais sustentáveis do mundo. Mas não estamos equipados para demonstrar isso com clareza e com capacidade de monitoramento. Então, para o produtor é importante ele entender a importância de fazer a medição das suas emissões de carbono [….] se ele se engaja em um sistema de rastreabilidade dentro da cadeia, ele começa a mensurar esse potencial dele em capturar carbono, do serviço ambiental que ele presta”, ressaltou Fabiana Alves.
Para ela, a tendência é que esse acompanhamento das emissões de carbono afete a oferta de crédito para os produtores. “Tende a se tornar um requisito para que ele [produtor] tenha amplo acesso ao capital e aos recursos financeiros, porque a indústria financeira tem que reportar sobre as emissões do seu portfólio, então isso implica nos seus clientes. Os clientes que tiverem esse mapeamento e tiverem adotando práticas que promovem uma emissão menor ou que geram uma captura de carbono, certamente serão priorizados”, ressaltou.
Outro ponto que Alves colocou foi o do seguro rural. Ela reconheceu que o tema ainda não é tratado pelo setor financeiro com a necessidade que precisa e também salientou a importância da participação do governo federal.
“Um outro aspecto que a indústria financeira precisa trabalhar e para destravar o mercado de seguro, seguro de safra e seguro climático…. Isso é algo que está travado. É caro porque ninguém faz e ninguém faz porque é caro. E certamente o governo vai ter que ter um papel aí para intervir e destravar esse mercado, porque vai ser extremamente necessário para que a gente consiga equilibrar o custo de capital para estes investimentos. Do contrário, o risco se torna muito alto”, concluiu.
*Jornalista viajou a convite da BASF
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