Agropolítica
Plano Safra: Farsul critica diferença entre anúncio e execução
Enquanto entidade diz que o produtor vai pagar juros mais altos pelo desequilíbrio fiscal, base do governo coloca “culpa” no Banco Central

Após a confirmação dos valores do Plano Safra voltados à Agricultura Familiar em 2025/2026, entidades e autoridades do setor comentaram o pacote que prevê um total de R$ 89 bilhões para políticas de crédito rural, compras públicas, seguro agrícola, entre outros.
Em entrevista ao Agro Estadão, o economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Antonio da Luz, demonstrou ceticismo em relação aos números apresentados pelo governo e questionou a efetividade da execução orçamentária frente aos valores anunciados.
“Não adianta apenas aumentar o valor do anúncio se ele não se traduz em recursos efetivamente disponibilizados. Em 2024, por exemplo, foram anunciados R$ 76 bilhões [via Pronaf], mas, de julho passado a maio deste ano, segundo dados do Banco Central, sistematizados pelo próprio Ministério da Agricultura, apenas R$ 56,8 bilhões haviam sido de fato liberados. Isso representa uma diferença de quase 34% em relação ao valor prometido”, afirmou.
Segundo o especialista, mesmo com o mês de junho ainda em aberto e alguns contratos pendentes de registro, o volume final deve continuar significativamente abaixo do previsto. “Se em 2024 o governo não conseguiu liberar nem os R$ 76 bilhões que anunciou, será que agora vai conseguir cumprir R$ 78,2 bilhões, num cenário fiscal ainda mais difícil, com contingenciamentos e bloqueios? Sou muito cético em relação a esse número”, enfatizou.
Outro ponto de preocupação, segundo o representante da Farsul, é o impacto do cenário macroeconômico sobre o custo do crédito rural. “O produtor familiar hoje vai pagar juros mais altos por causa do desequilíbrio fiscal do país. Esse desarranjo gerou inflação, e o único remédio para a inflação é subir os juros. Com isso, o crédito fica mais caro, inclusive para quem mais precisa dele”, argumentou da Luz.
O otimismo ficou para a base do governo. Ao Agro Estadão, o deputado federal Bohn Gass (PT-RS) disse acreditar que as melhorias no Proagro darão mais segurança aos agricultores diante dos desafios impostos pelo clima.
“Estávamos trabalhando para melhorar Proagro, porque nos últimos anos nós temos sofrido muitos sinistros, muitos desafios, como seca, excesso de chuva, vendavais, granizo… Isso muitas vezes impedia que os agricultores acessassem o seguro, pois as regras do programa eram muito rígidas. É por isso, também, que estamos trabalhando aspectos de prevenção, na agroecologia, na transição energética. Para não termos tantas consequências e tantos eventos extremos”.
O parlamentar ainda elogiou os esforços do governo federal para promover a permanência das famílias no campo. “Infelizmente, a autonomia do Banco Central está trazendo resultados nefastos para a sociedade brasileira. Então, o subsídio do governo é fundamental. Vai ter um subsídio muito grande para a transição ecológica, essa produção de alimentos com respeito à natureza. Tem programas para o jovem e tem programas para a mulher”, afirmou.
Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Agropolítica
1
Banco do Brasil diz que produtores em recuperação judicial não terão mais crédito; FPA reage
2
Lista de espécies invasoras do MMA pode incluir eucalipto, pínus, jaca e manga
3
Senado quer ouvir Marina Silva sobre inclusão de tilápia como espécie invasora
4
Mapa confirma que 'não há perspectiva' de liberação de orçamento do Seguro Rural
5
Governo discute tornar Seguro Rural despesa obrigatória, mas depende de convencimento interno
6
Brasil abandona acordo por transporte pesado elétrico um dia após assinatura
PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas
Agropolítica
STF avança em julgamento sobre incentivos tributários a defensivos agrícolas
Resultado está em aberto à espera dos votos de Nunes Marques, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes; sessão continua semana que vem
Agropolítica
Decisão do STF sobre o Renovabio garante segurança jurídica, diz CNA
Para o setor, julgamento elimina riscos e reforça a previsibilidade para a transição energética
Agropolítica
Conferência expõe divergências entre setor do tabaco e órgãos do governo
Setor produtivo teme mudanças regulatórias, crescimento do mercado ilegal e impacto na cadeia que gera US$ 2,89 bilhões em exportações
Agropolítica
Governo anuncia 10 novas demarcações de terras indígenas
A meta do Brasil é regularizar e proteger 63 milhões de hectares de terras indígenas e quilombolas até 2030
Agropolítica
Para Alckmin, acordo Mercosul-UE será o maior do mundo e fortalecerá multilateralismo
Vice-presidente, que cumpre agenda na COP 30, voltou a mostrar confiança na assinatura do texto final do acordo entre os dois blocos
Agropolítica
Manutenção de tarifa dos EUA para a uva deixa produtores apreensivos
Confira a lista de frutas mencionadas no documento publicado pelo governo dos EUA que retirou as tarifas recíprocas de 10%
Agropolítica
UE oficializa volta do pré-listing para a compra de aves e ovos do Brasil
Decisão oficial do bloco europeu restabelece mecanismo suspenso desde 2018 e fortalece previsibilidade para novas habilitações de plantas brasileiras
Agropolítica
Governo autoriza remanejamento de recursos do Pronaf
Medida, prevista em portaria, visa ajustar o Plano Safra à demandas de bancos; maior parte é de recursos destinados a investimentos