Agropolítica
Eleições nos EUA: Trump e o agro brasileiro
Vitória de Trump deve acirrar disputa comercial entre EUA e China, beneficiando agro brasileiro, alertam especialistas

Sabrina Nascimento | São Paulo
06/11/2024 - 08:55

Donald Trump foi eleito o 47º presidente dos Estados Unidos e volta a comandar a maior economia do mundo. Trump conquistou mais de 270 delegados nas eleições de terça-feira, 05, derrotando, assim, a democrata Kamala Harris.
Especialistas avaliam que a mudança de direção na Casa Branca deve impactar as relações internacionais de maneira ampla, com reflexos diretos e indiretos sobre o agronegócio brasileiro.
“O Trump tem falado muito em medidas protecionistas e, em 2019, quando ele foi presidente, a guerra comercial contra a China beneficiou a soja brasileira”, lembra Welber Barral, sócio da BMJ Consultores e ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil. Ele acredita que, caso o republicano implemente sanções contra Pequim, um cenário semelhante poderá se repetir.
Em recente declaração, o republicano prometeu aumentar as tarifas em até 60% para produtos chineses e 200% sobre veículos elétricos. Historicamente, essas medidas de tensão com o país asiático abriram espaço para o Brasil no mercado agrícola.
“A briga comercial com a China vai piorar e os chineses vão revidar comprando menos agronegócio, produtos do agronegócio dos Estados Unidos para comprar do Brasil”, avalia Roberto Dumas, professor de economia chinesa do Insper.
Na avaliação do sócio-diretor da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira, tanto Trump quanto Kamala apresentaram propostas de intensificação do conflito comercial com a China. No entanto, a vitória do republicano, cria um movimento mais acelerado no conflito comercial, mas com efeito temporário.
“Na nossa tese de mercado hoje, a gente tem um efeito residual do pós-eleição muito rápido”, diz Pereira. “Vale lembrar que, em 2016, na última vitória de Trump, todo o efeito residual no pós-eleição foi revertido dentro dos três meses seguidos”, complementa, destacando que os efeitos no mercado agrícola não devem durar mais de três ou quatro semanas a partir do resultado final das eleições.
O presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Márcio Ferreira, disse esperar que a gestão de Trump não afete o relacionamento comercial entre Brasil e Estados Unidos.
Entre janeiro e setembro de 2024, os americanos importaram 5,7 milhões de sacas de 60kg de café brasileiro, representando 15,8% das exportações totais do Brasil no período. Esse volume indica um crescimento de 31,9% em relação a igual intervalo do ano anterior.
“Com base na diplomacia e no histórico de bom relacionamento comercial, entendemos que a racionalidade se fará presente nas transações dos cafés do Brasil com seu principal parceiro comercial, os Estados Unidos”, disse, em nota. Ferreira também disse esperar o início do mandato de Trump para avaliar se promessas de implementação de tarifas de importação mais rigorosas irão se concretizar.
Ponto de atenção ao Agro brasileiro com Trump de volta à Casa Branca
A agenda verde nos EUA é um ponto de atenção. Ao longo da campanha, a candidata democrata, Kamala Harris, defendeu propostas voltadas à sustentabilidade, incluindo incentivos ao uso de milho na produção de etanol e de soja para biocombustíveis.
Welber Barral, observa que os EUA estão analisando regras semelhantes ao Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira da União Europeia, conhecido como CBAM. Esse mecanismo, que faz parte do acordo verde europeu, estabelece uma taxação de carbono sobre produtos importados, visando alinhar as emissões de carbono das importações aos padrões ambientais europeus.
Se adotadas, “essas regulamentações podem impactar toda a cadeia produtiva de exportação, exigindo maior transparência e práticas sustentáveis por parte dos produtores brasileiros”, comenta Barral.
Entretanto, com a vitória de Trump, a pauta não deve avançar rapidamente. O republicano defende uma economia baseada no old money — voltada à extração de petróleo e minério de ferro. “Com Trump, não só podemos ter mais conflito comercial com os chineses, depreciando a nossa referência do mercado da soja em Chicago, mas também menos uso da soja para biocombustíveis dentro do território norte-americano”, destaca o sócio-diretor da Pátria Agronegócios.
No último ano, o comércio de bens entre Brasil e EUA atingiu US$ 75 bilhões. No setor agrícola, as exportações de suco de laranja se destacam. Em setembro, Washington foi o segundo maior mercado para o produto brasileiro, respondendo por 32,1% dos embarques, enquanto a Europa ocupou a primeira posição, com 52,8%. A relação bilateral entre os dois países tem 200 anos de história.
*com informações do Broadcast Agro
Siga o Agro Estadão no Google News e fique bem informado sobre as notícias do campo.

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Agropolítica
1
ITR 2025: entrega começa em agosto com novidades
2
Ministério decide não aplicar medidas antidumping sobre leite em pó argentino e uruguaio
3
Com frete 40% menor, Ferrogrão está parado no STF há três anos; entenda o caso
4
Governo anuncia pacote de R$ 30 bi para exportadores afetados por tarifa dos EUA
5
FPA classifica Plano Clima como “autossabotagem” e cobra revisão de metas
6
Leilão da Ferrogrão deve sair até 2026

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Agropolítica
Governo descarta preços de exportação em compras de socorro ao tarifaço
Simplificação das aquisições públicas é uma das medidas emergenciais para aliviar situação de produtores rurais

Agropolítica
Leilões da Conab negociam 109,2 mil toneladas de arroz
Ao todo foram firmados 4.044 contratos, com vencimentos para setembro e outubro deste ano

Agropolítica
Governo divulga regras para acessar crédito de socorro ao tarifaço; confira condições
Para conseguir financiamento, empresas deverão ter perdido pelo menos 5% do faturamento com exportações para os EUA e cumprir contrapartida

Agropolítica
Nova fase da Operação Big Citros busca conter avanço do greening no Paraná
Ação vai até o próximo dia 29 de agosto em pomares de tangerina dos municípios de Cerro Azul e Doutor Ulysses, no Vale do Ribeira
Agropolítica
Em Goiás, produtores que aderiram ao PSA recebem entre R$ 498 e R$ 664
Governo do estado já desembolsou R$ 4 milhões; área cadastrada pode ser de, no mínimo, dois hectares, e, no máximo, 100 por propriedade
Agropolítica
Federação contesta negociação de terras invadidas no Paraná e quer desocupação
Entidade não participou de reunião sobre aquisição de terras para comunidades indígenas e afirma que desocupação é indispensável ao diálogo
Agropolítica
Federarroz incentiva adesão de agricultores a programa público de compra do grão
Conab fará leilão de compra de arroz amanhã, 21, e sexta-feira, 22 , com expectativa de 110 mil toneladas
Agropolítica
Produtores de soja dos EUA pedem que Trump garanta vendas à China
Em carta ao presidente, setor afirma que agricultores estão em "precipício comercial e financeiro" após perderem mercado para o Brasil