PUBLICIDADE
Banner Topo Post Agro na COP10

Agro na COP30

Pecuária brasileira será apresentada na COP 30 como parte da solução climática

Com dados científicos, Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável vai defender sistemas de integração e a mitigação de carbono com o uso de pastagens degradadas

Nome Colunistas

Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com

20/10/2025 - 05:00

Ana Doralina Menezes é da quinta geração de uma família de pecuaristas. Foto: Clever Freitas/MBPS
Ana Doralina Menezes é da quinta geração de uma família de pecuaristas. Foto: Clever Freitas/MBPS

“Ser a voz da pecuária sustentável do Brasil para o mundo”. Essa é a visão estabelecida pela Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável (MBPS). Com quase duas décadas de história, a associação multissetorial levará à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30), em Belém (PA), as oportunidades de mitigação de emissões e boas práticas aplicadas à pecuária brasileira.

No documento de posicionamento da MBPS para a COP 30, a pecuária brasileira é apontada como um componente estratégico para a segurança alimentar mundial. Isso ocorre, uma vez que a cadeia oferece, não apenas proteínas de alto valor biológico, mas também oportunidades concretas de desenvolvimento sustentável e resiliência climática. 

CONTEÚDO PATROCINADO

Entretanto, apesar de a produção de carne bovina brasileira ocupar cerca de 179 milhões de hectares de pastagens em todo o País, o setor ainda enfrenta um importante desafio: o uso extensivo das áreas e o baixo investimento em manejo. Dos hectares ocupados atualmente, mais de 60% apresentam baixo ou médio vigor, ou seja, são pastagens degradadas ou em processo de degradação. Estima-se ainda que a produtividade das pastagens cultivadas no Brasil atinja apenas 34% de seu potencial. 

Isso significa, segundo Ana Doralina Menezes, presidente da MBPS, que há uma oportunidade para ganhos significativos em produtividade e capacidade de gerar maior produção de alimentos sem a necessidade de abrir novas áreas. Argumento que será defendido na COP 30. “É importante termos protagonismo, proatividade, trazer informações, resultados de pesquisa, números, dados, sugestões de políticas públicas ou modelos, como foi o caso do projeto de rastreabilidade, que nasceu de um grupo de trabalho da Mesa. A Mesa tem esse papel de discussão e de representação do setor”, afirma. 

Além de presidir a MBPS, Ana Doralina Menezes vive, na prática, os desafios e as transformações do campo. Produtora rural, da quinta geração da família a atuar na mesma área, ela carrega um forte vínculo com a terra e com a história da pecuária brasileira. 

PUBLICIDADE

Formada em medicina veterinária e filha de um zootecnista, ela cresceu no campo. Hoje, conduz a produção familiar em uma área de proteção ambiental (APA) do Rio Ibirapuitã, no Rio Grande do Sul. Por lá, ela adota práticas de produção totalmente integradas à natureza, sem revolvimento do solo, por exemplo, e com respeito à fauna e à flora locais. “É motivo de muita alegria e fé poder continuar esse legado, manter o campo saudável e honrar as gerações que vieram antes, deixando a terra melhor para os nossos filhos”.  

Em conversa com o Agro Estadão, Ana destaca a relevância da pecuária brasileira como aliada na agenda de desenvolvimento sustentável e no cumprimento dos compromissos climáticos assumidos pelo Brasil. Confira:

O foco principal da Mesa, que já vem no nome, é a sustentabilidade. Hoje, quando falamos de pecuária sustentável, de quais elementos estamos falando?

A pecuária sustentável se baseia em conciliar produtividade, conservação ambiental e resiliência climática, contribuindo para a segurança alimentar e o desenvolvimento do País. O Brasil tem um papel fundamental nisso: alimentamos cerca de 14% da população mundial com produtos brasileiros, não só proteína bovina, mas todas as proteínas e grãos. Então, sustentabilidade é gerar valor econômico, social e ambiental ao mesmo tempo, sem expandir áreas, utilizando as mesmas, por meio da recuperação de pastagens. 

Você mencionou a questão da recuperação de pastagens. Quando falamos desse potencial de aumentar a produção sem abrir novas áreas, como a MBPS vem trabalhando com o governo e o setor para disseminar essa prática?

PUBLICIDADE

O caminho da pecuária sustentável brasileira está muito ligado às integrações, como a integração lavoura-pecuária, lavoura-pecuária-floresta e recuperação de pastagens degradadas. A Mesa tem ciência disso, e esses temas serão destaque na COP, pois mostram o potencial do Brasil em produção e remoção de carbono (CO₂) da atmosfera. Estudos mostram que podemos aumentar 30% da produção de carne, preservando cerca de 7 milhões de hectares de vegetação nativa, gerando até R$ 200 bilhões em valor adicional e removendo até 66 milhões de toneladas de CO₂ da atmosfera. 

E hoje, qual é o grande desafio para atingir essas projeções?

O grande desafio para essa transição é o financiamento. O custo estimado de recuperação de áreas prioritárias na Amazônia e no Cerrado é de cerca de US$ 127 bilhões de dólares. Por isso, é essencial o apoio financeiro para viabilizar esse caminho. E políticas públicas como o Plano ABC+ são oportunidades para comprovar a sustentabilidade do agronegócio brasileiro.

A Mesa vai buscar viabilizar esses investimentos na COP 30? 

Sim, sem dúvida. Nossa proposta e comunicação tratam muito desse tema, com base em dados, projeções e custos. A mesa tem esse papel de representar o setor, mostrar os ganhos não só para os produtores, mas para o País, em potencial de PIB [Produto Interno Bruto], desenvolvimento e abertura de novos mercados. Precisamos ser atrativos para investimentos, encurtar caminhos para que esses recursos cheguem até o produtor rural, que realmente precisa deles.

PUBLICIDADE

Pensando no pequeno e médio produtores, como encurtar esse caminho?

É importante entender a realidade. No Brasil, 88% dos estabelecimentos rurais têm até 200 hectares, ou seja, a maior parte da produção vem de pequenos e médios produtores. O desafio é o acesso à tecnologia e o custo de adoção. Eles conhecem as tecnologias, mas muitas vezes não conseguem aplicá-las por questões financeiras.

Precisamos tornar as tecnologias economicamente acessíveis e garantir assistência técnica contínua, não apenas pontual. Também é essencial criar mecanismos financeiros que levem o recurso até a fazenda, sejam públicos ou privados, e valorizar práticas sustentáveis com remuneração e incentivos fiscais.

Um ponto trazido no posicionamento da MBPS para a COP 30 é a inclusão da pecuária no sistema brasileiro de comércio de emissões. Quais são os desafios para que isso aconteça?

O principal desafio são as métricas. Precisamos de metodologias adaptadas à realidade da pecuária tropical. O Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões reconhece o setor, mas a produção primária ainda não está totalmente incluída no mercado regulado.

PUBLICIDADE

Mesmo assim, práticas como recuperação de pastagens, integração lavoura-pecuária-floresta, manejo do solo e uso de aditivos podem gerar créditos de carbono. A mesa defende o avanço em padrões nacionais compatíveis com o Acordo de Paris, com métricas por intensidade e simplificação de acesso, para que o valor do carbono chegue até o produtor. Temos que valorizar o fato de o setor primário ser o único capaz de sequestrar carbono pela fotossíntese. E no Brasil, com sol o ano todo, isso é um diferencial enorme.

Esses pontos estão ligados à criação da calculadora oficial de carbono da pecuária, sugerida por vocês?

Exatamente. A ideia é criar uma ferramenta nacional, pública e padronizada, que permita ao produtor calcular seu balanço de carbono de forma simples e confiável, com metodologia brasileira. Essa calculadora, em desenvolvimento pelo BNDES com a FGV, deve usar fatores adaptados à nossa realidade tropical, refletindo o que de fato é produzido em nossas áreas integradas e de múltiplas safras. Também contará com governança participativa: setor produtivo, ciência e governo, garantindo credibilidade, transparência e acesso a mercados de baixo carbono.

Em resumo, qual marca a Mesa quer deixar na COP 30 sobre as contribuições da pecuária brasileira para o enfrentamento das mudanças climáticas? 

Sem dúvida, que a pecuária brasileira é parte da solução para os desafios climáticos e da segurança alimentar global. O Brasil produz um alimento nutritivo, saudável e responsável, aumentando produtividade sem expandir área, com rastreabilidade e transparência. Nosso papel é alimentar o mundo com carne sustentável, respeitando o ambiente, os animais e as pessoas. Para isso, precisamos de reconhecimento, métricas adequadas e financiamentos em larga escala, que permitam a inclusão produtiva e a transição tecnológica. A COP é o espaço ideal para mostrar isso ao mundo: que o agronegócio brasileiro é essencial para garantir mitigação climática, conservação ambiental e segurança alimentar.

Siga o Agro Estadão no WhatsApp, Instagram, Facebook, X, Telegram ou assine nossa Newsletter

PUBLICIDADE

Notícias Relacionadas

Embrapa cria 'coworking' para pesquisas no agro

Agro na COP30

Embrapa cria 'coworking' para pesquisas no agro

Inovação foi lançada na COP 30 e já tem empresas interessadas em pesquisar sistemas agroflorestais no próximo ano

Fávaro: objetivo na COP é captar recursos para recuperar de áreas degradadas

Agro na COP30

Fávaro: objetivo na COP é captar recursos para recuperar de áreas degradadas

Um dos projetos alvo para captação de recursos é o programa Caminho Verde Brasil

Na COP 30, pecuária busca com tecnologia reposicionar discurso sobre o setor

Agro na COP30

Na COP 30, pecuária busca com tecnologia reposicionar discurso sobre o setor

Discussão na AgriZone reforçou que o setor entrega sustentabilidade e precisa tornar ações mais visíveis ao público interno e externo

Brasil lança guia sobre gestão de dejetos para redução de metano

Agro na COP30

Brasil lança guia sobre gestão de dejetos para redução de metano

Desenvolvido pelo Mapa em parceria com a Embrapa e instituições ligadas ao clima, material foi apresentado na COP 30

PUBLICIDADE

Agro na COP30

Selo Carne Baixo Carbono é lançado na COP 30

Certificação reúne critérios técnicos para monitorar propriedades que aplicam sistemas de produção de baixo carbono; MBRF será a primeira empresa a utilizar o selo

Agro na COP30

Coalizão de mercado de carbono tem adesão de 18 países na COP 30

Iniciativa busca padronizar regras, integrar sistemas de comércio e reforçar a integridade ambiental no cumprimento do Acordo de Paris

Agro na COP30

Negociações adiam lançamento de guia China-Brasil da soja sustentável

Documento que orientava o mercado chinês sobre a conformidade ambiental da soja brasileira será agora revisado para atualização e alinhamento

Agro na COP30

Brasil lança primeira concessão florestal com foco em restauração e crédito de carbono

Concessionária também poderá explorar madeira e produtos florestais de uso comercial, como raízes, cascas, frutos, sementes, óleos e resinas

Logo Agro Estadão
Bom Dia Agro
X
Carregando...

Seu e-mail foi cadastrado!

Agora complete as informações para personalizar sua newsletter e recebê-la também em seu Whatsapp

Sua função
Tipo de cultura

Bem-vindo (a) ao Bom dia, Agro!

Tudo certo. Estamos preparados para oferecer uma experiência ainda mais personalizada e relevante para você.

Mantenha-se conectado!

Fique atento ao seu e-mail e Whatsapp para atualizações. Estamos ansiosos para ser parte do seu dia a dia no campo!

Enviamos um e-mail de boas-vindas para você! Se não o encontrar na sua caixa de entrada, por favor, verifique a pasta de Spam (lixo eletrônico) e marque a mensagem como ‘Não é spam” para garantir que você receberá os próximos e-mails corretamente.