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Digitalização e robôs levam pecuária leiteira de atividade familiar a empresa

Com produção em 98% dos municípios, Brasil soma 34 bilhões de litros de leite por ano e exige gestão mais eficiente no campo

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Igor Savenhago | Ribeirão Preto (SP)

27/06/2025 - 08:00

Foto: Cabanha DS/Divulgação
Foto: Cabanha DS/Divulgação

Dezembro de 2021 foi o último mês em que o produtor João Vitor Secco e dois primos, responsáveis pela Cabanha DS, propriedade rural em Vila Lângaro (RS), ordenharam manualmente as vacas holandesas que criam. Desde então, a tarefa passou a ser feita por dois robôs. 

A família Secco está na agropecuária há três gerações. Começou com os avós de João Vitor. Em 1989, a propriedade passou a investir na pecuária leiteira, atividade que avançou por 25 anos, até que um problema sanitário comprometeu o projeto. O rebanho, que contava com 400 animais, foi reduzido para 50. “A gente não aguentava mais financeira e emocionalmente. Decidimos encerrar as atividades”, conta Secco.

Em 2019, motivados pela vontade de retomar a tradição, João Vitor e os primos assumiram a gestão dos negócios, compraram 40 novilhas e, em seguida, um rebanho fechado com 162 cabeças. “Como a gente fazia três ordenhas por dia, teve um período em que ficava mais de 24 horas acordado para dar conta de todo trabalho. Superamos os limites do corpo”, relata.

Gustavo, João Vitor e Marcos Secco administram propriedade no RS. Foto: Cabanha DS/Divulgação

Foi quando perceberam que precisavam profissionalizar a gestão e transformar a fazenda em empresa. Para isso, decidiram investir em tecnologia. Os equipamentos de ordenha robotizada, comprados da multinacional holandesa Lely, foram instalados em estruturas de confinamento coberto, no modelo compost barn. Ao entrar no robô de forma espontânea, para aliviar a pressão do úbere ou se alimentar, a vaca recebe tratamento personalizado. A tecnologia define a quantidade adequada de alimento e o número de ordenhas conforme a fase de lactação.

“Com o sistema, cada vaca pode ser ordenhada até seis vezes por dia. Mas, se uma estiver em final de ciclo e o robô definir que serão duas, na terceira ele não ordenha”, explica Secco. Isso é possível graças ao armazenamento de dados coletados durante as ordenhas. Com a robotização, a produtividade das 89 vacas em lactação aumentou em até cinco litros por animal por dia, o que representa um ganho diário de cerca de 445 litros. Hoje, elas produzem 3.700 litros/dia, e o sistema também liberou tempo para os produtores cuidarem de outras atividades, como o cultivo de soja, milho e trigo.

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Segundo Laudecir Silvio Gross, gerente comercial da Lely Center, centro de apoio aos produtores que usam tecnologias da multinacional, a empresa tem 300 equipamentos de ordenha robotizada espalhados pelo Brasil, com foco na região Sul. O primeiro foi instalado há dez anos. Ele afirma que a aquisição de um robô varia entre R$ 1,4 e R$ 1,5 milhão. “Esses valores não são mais considerados altos, porque quem não investir em tecnologia vai perder mercado”.

Gestão 

Dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) mostram que o Brasil produz leite em 98% dos municípios, que, juntos, somam mais de 34 bilhões de litros por ano — o terceiro maior volume do mundo. São mais de 1 milhão de propriedades dedicadas à atividade. Para 2030, a Secretaria de Política Agrícola do Mapa projeta que apenas os produtores mais eficientes permanecerão na atividade, não apenas pelo uso de tecnologia, mas também por avanços na gestão.

Com esse cenário em mente, Silvana Kluger, de Carambeí (PR), que obtém oito mil litros diários de 200 vacas holandesas em lactação, adotou um software que integra dados zootécnicos com o controle financeiro. “Sei quantos partos teremos por mês, quantas vacas vão secar, quais teremos que inseminar. Não dá para ser como antigamente. A leiteria é uma empresa, não mais um negócio familiar. Digo que não tiramos, mas produzimos leite.”

Tecnologia pode tornar atividade mais competitiva e assegurar a sucessão no campo. Foto: Leigado/Divulgação

As mudanças na propriedade a motivaram a deixar o cargo público de professora para ajudar o marido e a mãe — que assumiram a atividade após o falecimento do pai, em 2010. Operar o software é sua responsabilidade. “O desafio, agora, é continuar acompanhando o desenvolvimento tecnológico”, afirma.

Giandro Masson, fundador e CEO da Leigado, empresa que forneceu a solução, acredita que, como a tecnologia ajuda a tornar a atividade mais competitiva, é mais fácil segurar a sucessão no campo. “A falta de gestão e de sucessão estão entre as principais dores dos produtores. Muitos sucessores veem a pecuária leiteira como algo amador e vão para a cidade aceitando até ganhar menos”.

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De acordo com o empresário, são muitas, porém, as propriedades atrasadas. Seja porque resistem ou não têm condições de investir, principalmente entre as pequenas.  

Alternativas

Olhando para esse nicho, a Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), oferece um aplicativo gratuito e está testando a ordenha robotizada em um sistema alternativo ao confinamento. O pesquisador André Novo, coordenador do programa Balde Cheio, que atende 3.200 pecuaristas leiteiros, explica que o Roda da Reprodução — aplicativo mais baixado da Embrapa, com cerca de 15 mil usuários e que será atualizado ainda este ano — permite a criadores com até 150 animais visualizar um mapa completo do ciclo reprodutivo do rebanho ao longo de um ano.

Segundo Novo, a adoção de tecnologias nas propriedades permite uma aproximação com os jovens. “Sei de muitos que usam seus smartphones para ajudar os pais que não conhecem tanto as possibilidades tecnológicas. Um dos produtos que vamos lançar em breve é pensando, justamente, na sucessão no campo”. 

No caso específico da ordenha, o robô da Embrapa foi instalado entre três áreas de pastagem. Inicialmente, as vacas permanecem em uma área irrigada, com adubação nitrogenada. Após passarem pelo equipamento, acessam outras duas, em meio a eucaliptos. “Nesse sistema, é possível colocar uma grande quantidade de árvores para sequestrar carbono”, observa.

Novo destaca que a experiência a pasto tem custo de produção menor do que o confinamento, embora a produtividade seja mais baixa. Por outro lado, como as vacas se movimentam mais e passam com menor frequência pelo robô, é possível ordenhar um número maior de animais. Enquanto no confinamento a média é de 60 vacas por dia, com mais ordenhas por animal, no sistema a pasto o número sobe para 90.

“Quando planejamos o sistema, foi pensando em como será a pecuária leiteira no futuro. Ainda é difícil definir o perfil do produtor no Brasil, pois temos desde grandes produtores até aqueles que mantêm a atividade por subsistência. Mas sabemos que o caminho é a tecnificação. Até porque existe carência de mão de obra no setor”, analisa o pesquisador.

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