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Pesquisa busca viabilizar criação comercial de camarões no interior de SP
Zootecnista do Instituto de Pesca reproduz condições da água do mar em empresa de Jaguariúna que visa mercado de iscas vivas

Igor Savenhago | Ribeirão Preto (SP)
04/03/2025 - 15:37

O pesquisador Fábio Sussel, do Instituto de Pesca, vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA), conduz um estudo que busca dar viabilidade econômica à criação de camarões longe do mar.
Por meio de uma parceria público-privada com uma empresa de Jaguariúna (SP), que visa ao mercado de iscas vivas para pesca esportiva, ele pretende demonstrar que é possível investir no segmento usando água salinizada, que imita as condições marítimas, e. com isso, oferecer uma alternativa de renda a médios e pequenos produtores.
Sussel estudou Zootecnia em Maringá (PR). Logo após concluir o curso, aceitou o convite de um amigo para trabalhar em uma fazenda de camarões no Rio Grande do Norte, onde ficou por dois anos. Quando voltou, atuou no ramo de rações animais até ser aprovado em concurso do Instituto de Pesca, em 2005. Na época, passou a se dedicar às pesquisas com lambari, mas nunca abandonou a ideia de se aprofundar na cadeia produtiva do camarão marinho.
De 2018 para 2019, no núcleo regional do instituto em Pirassununga (SP), decidiu experimentar a criação em água salinizada. A espécie utilizada foi o camarão cinza, típico do Oceano Pacífico e o mais cultivado no mundo. Sussel explica que eles não precisam do nível de salinidade encontrado na natureza para se adaptar.
“A água do oceano tem, em média, 33 gramas de sal para mil gramas de água. Esse camarão necessita apenas de 0,5 grama de sal para esse volume água, porque aproveita pouco. O importante é que, além do cloreto de sódio, que deixa a água salgada, haja a disponibilidade de outros sais importantes para a espécie, como cálcio, potássio e magnésio”, afirma.
Segundo o pesquisador, mais de 50% da produção nacional de camarões, que, em 2024, superou 127 mil toneladas, está longe do mar, com destaque para a região Nordeste. A diferença é que lá a criação é feita em água naturalmente salobra. “Para o camarão marinho, isso é sensacional. Abre a possibilidade de criar uma espécie de alto valor agregado, gerando renda para as comunidades do interior do Nordeste”.

Condições reais
Já em São Paulo, que não tem esse recurso, é preciso salinizar a água de maneira artificial. Para isso, Sussel dispõe de uma estrutura que permite desenvolver o estudo em condições reais de cultivo. As observações são realizadas em uma área da empresa Eden Farm Aquaculture, em Jaguariúna, que foi comprada há dois anos por um grupo que também tem um criatório no Rio Grande do Norte.
O projeto paulista, que é inédito e conta, ainda, com parceria da Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola (Fundag), tem quatro tanques com cerca de 100 metros cúbicos cada, em uma área de seis mil metros quadrados no distrito industrial do município. Eles são revestidos por uma geomembrana – material sintético impermeável -, cobertos com estufas e dotados de um sistema de biofiltragem. Sussel explica que, para uma criação comercial, é fundamental alimentar os camarões com ração, que, quando é excretada pela espécie, libera amônia, que é tóxica para o crustáceo. Por isso, a água dos tanques é bombeada para um decantador com bactérias, que fazem a quebra da amônia em nitrato.
O nitrato, por sua vez, é benéfico para a reprodução de algas que servem de alimentos para tilápias – também criadas na empresa, para essa função. “Essa água biofiltrada com a ajuda das tilápias volta para os tanques de camarões e o ciclo recomeça. Com isso, a água fica circulando o tempo todo”, explica Sussel. Além disso, toda a água do processo é reaproveitada das chuvas.
Mudança de rota
O zootecnista conta que o objetivo inicial do projeto era voltado ao consumo humano. Mas, durante os experimentos, surgiu uma demanda por iscas vivas para pesca esportiva, o que mudou o foco da atividade. “Antes, a nossa meta era obter camarões de 15 gramas e, para isso, precisaríamos de quatro meses de cultivo. Agora, queremos camarões de seis gramas, com dois meses de cultivo. Comercialmente falando, foi mais interessante”.
Apesar disso, a pesquisa busca confirmar a viabilidade também para o camarão abatido, além de promover ações educativas sobre a criação e o consumo. Duas vezes por mês, aos sábados, Sussel recebe, na sede da empresa, visitantes interessados nas orientações e em degustar camarões. Cerca de 400 pessoas já passaram pelo treinamento.

Desafios
Diferentemente do Nordeste, cujos tanques têm entre dois e três hectares de extensão e comportam entre dez e 50 camarões por metro cúbico, a criação para condições semelhantes às da empresa em Jaguariúna, com tanques em tamanhos menores, só se torna viável com cerca de 300 camarões por metro cúbico – que o estudo tem conseguido, chegando até 500.
Mas o pesquisador não ignora os riscos. Ele diz que criações muito adensadas favorecem o aparecimento de doenças, como a NIM – Necrose Idiopática Muscular -, transmitida por um vírus. Diante disso, Sussel busca equilibrar produtividade, sustentabilidade e rentabilidade, para oferecer respostas seguras aos aquicultores. “Precisamos estabelecer protocolos próprios, com vistas a encontrar o melhor equilíbrio para o sistema”.
As perspectivas de Sussel apontam para a redução da pressão sobre ecossistemas costeiros na pesca do camarão, ampliação de oportunidades econômicas aos produtores e contribuição para o desenvolvimento socioeconômico de regiões interioranas do país. Sem contar, segundo ele, que o cultivo em ambiente com fatores controlados permite maior atenção à qualidade da água e da alimentação, e, consequentemente, um produto mais sustentável e saudável.
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