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Amendoim ganha espaço nas lavouras brasileiras
São Paulo concentra 84% da produção nacional, segundo relatório do Itaú BBA, e se destaca também nas exportações, de grãos e de óleo

Igor Savenhago | Ribeirão Preto (SP)
02/06/2025 - 13:52

A família de Roberto Rossetti cultiva amendoim há 30 anos na região de Ribeirão Preto (SP). Começou com o pai, Carlos, numa época em que o grão voltava a ganhar força, após ter perdido espaço nas décadas de 1970 e 1980.
Roberto deu continuidade, sempre plantando na entressafra da cana. Uma estratégia que permite rentabilidade e, ao mesmo tempo, renovação do solo, já que o amendoim, por ser uma leguminosa, fixa nitrogênio, preparando a terra para receber a cana novamente.
Todo ano, o amendoim ocupa de 360 a 400 hectares nas áreas dos Rossetti. É assim há dez anos. “O grande negócio do amendoim é a adaptação na rotação com a cana. Tenho observado um crescimento do cultivo em toda a região. Inclusive, teve muita gente que migrou da soja, por causa de preço, para apostar no amendoim”, conta Roberto.
O aumento da importância do amendoim para o Brasil e, especialmente, para o estado de São Paulo, que concentra 84% da produção brasileira do grão, está em um relatório feito pelo Itaú BBA e divulgado em abril. O “Radar Agro — o mercado de amendoim” traz uma análise completa de mercado para uma cultura que, há uma década, na safra 2014/15, rendeu 347 mil toneladas em casca no país e, na atual (2024/25), está projetada para superar 1 milhão de toneladas – três vezes mais.
Até a década de 1970, o amendoim foi uma das principais culturas agrícolas brasileiras. Começou a perder espaço com o avanço da soja e também dos canaviais — nesse caso, estimulado pelo Proálcool, programa do governo federal voltado à fabricação e ao consumo de etanol. Voltaria anos mais tarde, especialmente no final da década de 1990, justamente a época em que os Rossetti entraram na história. A retomada viria em consórcio com a cana, graças a fatores como a mecanização das lavouras, os trabalhos de melhoramento genético, principalmente os feitos pelo Instituto Agronômico (IAC), e a diversificação do mercado consumidor.
Um dos resultados foi o incremento em produtividade, que, segundo o relatório do Itaú BBA, era de 2.213 kg por hectare na safra 2004/25, por exemplo, e, 20 anos depois, registra média de 4.209 kg por hectare, um salto de 81%.
Ainda segundo o levantamento, com base em dados da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab), o mercado interno tem absorvido metade da produção nacional. O consumo per capita no Brasil gira em torno de 1,6 kg por habitante/ano, bem abaixo de outros países, como os Estados Unidos, em que o índice é de 6,7 kg por habitante/ano, e a China, com 13 kg por habitante/ano.
As perspectivas da associação, porém, são de que a crescente busca por alimentos saudáveis e a inovação na oferta, por meio de produtos como a pasta de amendoim, podem impulsionar um aumento no consumo. O selo Pró-Amendoim, com o qual a Abicab certifica empresas que atendem à legislação e garantem segurança nas prateleiras dos supermercados, é outro fator que pode colaborar neste sentido.

Mercado externo
O Itaú BBA também prevê maior relevância do amendoim brasileiro no mercado internacional. Apesar de responder por apenas 1,5% do comércio mundial do grão, que é de cerca de 50 milhões de toneladas por safra, o Brasil vem crescendo ano a ano nos embarques. Em 2014, por exemplo, vendeu ao exterior 64 mil toneladas de amendoim em grãos. Em 2023, o volume chegou a 298 mil toneladas, tendo a Rússia como principal cliente. No ano seguinte, houve queda, para 227 mil toneladas, devido à quebra da safra nacional, em decorrência de condições climáticas adversas.
Para 2025, a depender das boas perspectivas de colheita, as exportações devem superar 300 mil toneladas. Conforme o Itaú BBA, o Brasil deve produzir 1,18 milhão de toneladas na temporada 2024/25, o que representaria 60,3% em relação à safra anterior. A área plantada deverá ter aumento de 10% e a produtividade, de 47%.
“O Brasil é um player que tem ganhado relevância nas exportações mundiais. Os drivers do crescimento das exportações estão relacionados ao aumento da demanda internacional, assim como o aumento da oferta do país, além do câmbio desvalorizado favorecendo os embarques. Considerando os dados do USDA [Departamento de Agricultura dos Estados Unidos], estima-se que ao menos 77% da produção nacional do amendoim [da atual safra] será exportada na forma de amendoim em grão ou em óleo, enquanto o restante será consumido no mercado interno”, afirma o Radar Agro.
Recentemente, o setor comemorou a abertura do mercado chinês para o farelo de amendoim brasileiro, como mostrou o Agro Estadão.
São Paulo
A maior parte das exportações tem origem em São Paulo, saindo, principalmente, pelos portos de Santos e de Paranaguá (PR). No território paulista, os destaques da produção são, além da região de Ribeirão Preto, onde está a família Rossetti, a Alta Paulista, no entorno, principalmente, de Tupã e Marília.
Juntas, essas duas regiões são responsáveis por 50% da produção do país. “Além do clima favorável e solo fértil, boa parte da indústria processadora e beneficiadora se desenvolveu na região, bem como indústrias de óleo vegetal, blancheamento (processo industrial que remove a pele vermelha fina que recobre os grãos) e confeitarias. A relativa proximidade dos portos também é um diferencial”, informa o Radar Agro.
Óleo de amendoim
O óleo de amendoim, especificamente, respondeu, em 2024, por 22% do valor das exportações brasileiras no complexo do grão, o que gerou US$ 109 milhões de dólares em receita. O Brasil, foi, conforme o Itaú BBA, o segundo maior exportador desse tipo de óleo na safra 2023/24, com 110 mil toneladas, quase 1/4 dos envios globais, ficando atrás apenas da Índia. Já para o atual ciclo, o país deve assumir a liderança nas vendas externas.
“O principal destino do óleo bruto de amendoim brasileiro é a China, que importou 79% do total de 2023 e 50% em 2024, para utilizá-lo em produtos alimentícios como azeite, para uso como fritura, entre outros, incluindo produtos cosméticos e farmacêuticos”, informa o relatório.

A ampliação do interesse internacional pelo óleo brasileiro gera novos movimentos industriais. A CRAS Agroindústria, localizada em Itaju (SP), surgiu em 2011 como uma empresa voltada à prestação de serviços em comércio exterior. Três anos depois, os negócios mudaram, e o foco passou a ser o amendoim. “Saí dos serviços, entrei na parte inicialmente comercial e depois verticalizei, comprando indústrias”, explica o CEO da CRAS, Rodrigo Estreva Chitarelli.
Ele já estava de olho no alto valor agregado, tanto do óleo, “que tem um apelo nutricional muito forte”, quanto do farelo, com alto valor proteico, muito usado na alimentação do gado. Tanto que começou, também, a cultivar amendoim, para alimentar a linha de produção. Neste ano, a CRAS deverá processar 75 mil toneladas do grão, que vão gerar 30 mil toneladas de óleo e 45 mil de farelo.
Na visão de Chitarelli, apesar de o óleo de amendoim ser um produto altamente consumido no mundo, é pouco conhecido pela população brasileira. No entanto, não adianta, segundo ele, promover um trabalho de marketing visando a um consumo maior sem antes aumentar, ainda mais, a área plantada, com expansão, inclusive, para outros estados.
É exatamente isso o que indica o Radar Agro, do Itaú BBA: “Historicamente, a produção se concentra em São Paulo, mas o interesse da cultura vem crescendo em outros estados, como no Mato Grosso do Sul”.

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