“Podemos tornar a agricultura cada vez mais uma solução para a mudança climática”, diz André Corrêa do Lago | Agro Estadão
PUBLICIDADE

Sustentabilidade

“Podemos tornar a agricultura cada vez mais uma solução para a mudança climática”, diz André Corrêa do Lago

Metodologias de contabilidade de carbono e biocombustíveis devem ganhar espaço, mas não há previsão de encaminhamento concreto sobre o tema na COP 30

Nome Colunistas

Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com

26/03/2025 - 08:00

Foto: João Risi/PR
Foto: João Risi/PR

Há pouco mais de dois meses à frente da presidência da COP 30, a conferência sobre o clima das Nações Unidas, o embaixador André Corrêa do Lago deu detalhes de como o Brasil pretende trabalhar a temática da agropecuária durante o evento, que ocorre de 10 a 21 de novembro em Belém (PA). 

Na conversa com o Agro Estadão, o presidente da COP 30 reconhece a necessidade do debate sobre a agricultura tropical. O avanço de metodologias que calculem não só as emissões de carbono mas também a captura feita pelos sistemas agrícolas é um ponto que o Brasil pretende levar a Belém (PA). 

No entanto, Corrêa do Lago explica que há duas agendas paralelas nas COPs: uma de negociação e a outra de ação. Enquanto a primeira é o espaço onde os acordos entre nações são feitos, a segunda é mais livre e abarca os demais agentes, como o setor privado, os governos estaduais e municipais, associações e ONGs. A diferença é que a esfera de negociação tem força para mudar as legislações dos países, enquanto a dimensão da ação não tem. Por isso, obter resultados concretos da agenda de negociações é um processo mais lento.

Embaixador, como a agropecuária está sendo discutida dentro da agenda de negociações?

Dentro da agenda formal da COP, há duas questões importantes. A primeira é o trabalho nas metodologias para calcular as emissões de carbono da agricultura e da pecuária, já que, muitas vezes, a contabilidade se baseia em experiências de países desenvolvidos, que têm circunstâncias diferentes das de países de agricultura tropical. Essa questão é relevante, e temos muita ciência e dados para contribuir com esse debate.

PUBLICIDADE

A segunda são as discussões em torno do Mandato de Sharm El-Sheik, definido na COP 27, no Egito [em 2022] que estabeleceu mais estudos e relatórios sobre sistemas alimentares, com um foco maior na adaptação. Isso será aprofundado em junho, na Alemanha, em diversos workshops e na apresentação de relatórios. Ainda há avanços a serem feitos na elaboração de metodologias e na produção de relatórios sobre a contribuição da agricultura.

Especialistas apontam a necessidade de aprofundar as medições de captura e estocagem de carbono na agricultura. Esse tema vem sendo tratado nas conferências ou será uma pauta da COP 30?

A agricultura pode ter uma contribuição muito positiva para a redução de emissões que já aconteceram. Essa é uma área na qual precisamos avançar muito e para isso as metodologias são muito importantes. No Brasil, temos demonstrado, pela agricultura de baixo carbono e outras experiências, que podemos tornar a agricultura cada vez mais uma solução para a mudança climática, em vez de um fator de agravamento.

Isso tem sido discutido na agenda de negociações?

Esse debate não ocorre nas negociações, mas sim em relatórios. No entanto, acreditamos que é fundamental que a contribuição da agricultura para a remoção de carbono seja cada vez mais reconhecida cientificamente. Por isso, é preciso avançar tanto nas metodologias quanto no seu reconhecimento.

PUBLICIDADE

Um dos grandes desafios hoje, por exemplo, no debate sobre biocombustíveis, é a falta de consenso sobre qual metodologia deve ser aplicada, já que existem diferentes abordagens. Nesse sentido, o Brasil teve uma atuação importante no G20 no ano passado, trabalhando no desenvolvimento de metodologias de medição de carbono. A contabilidade de carbono é uma prioridade do País para esta COP.

Na COP 29  [2024], em Baku, o financiamento climático foi um dos principais temas. Apesar do compromisso de ampliar os valores, a cifra de US$ 300 bilhões anuais ainda é considerada insuficiente. A COP 30 deve propor um aumento desses recursos?

Do ponto de vista formal, Baku conseguiu avançar ao definir o compromisso de US$ 300 bilhões anuais. No entanto, os países em desenvolvimento consideraram esse valor muito baixo, especialmente porque o relatório apresentado na conferência por economistas de destaque estimou a necessidade em US$ 1,3 trilhão, enquanto a Agência Internacional de Energia fala em mais de US$ 2 trilhões por ano.

Com isso, houve um acordo para que Brasil e Azerbaijão apresentem, em Belém, um relatório sobre como elevar esse financiamento de US$ 300 bilhões para US$ 1,3 trilhão até 2035. O Brasil está trabalhando neste documento, que incluirá diferentes fontes de financiamento, como investimentos, doações, empréstimos concessionais e recursos de bancos de desenvolvimento, com um papel central do setor privado. Há também a expectativa de que o setor público dos países ricos possa alavancar investimentos privados. Esse relatório será fundamental para definir caminhos para ampliar significativamente os recursos disponíveis. 

Sobre a agenda de ação, que reúne outros países e é coordenada pelo Brasil, o que se pode esperar dessa agenda e como a agricultura será inserida?

A agricultura será um tema muito importante, não só pela produção de alimentos, mas também pela produção de combustíveis sustentáveis. Queremos avançar no fortalecimento dos biocombustíveis como uma solução climática fundamental. Além disso, vamos intensificar as discussões sobre metodologias, contabilidade de carbono e a contribuição da agricultura tropical para o enfrentamento das mudanças climáticas.

Siga o Agro Estadão no WhatsApp, Instagram, Facebook, X, Telegram ou assine nossa Newsletter

PUBLICIDADE

Notícias Relacionadas

Com boom de etanol de milho, biorrefinarias avançam e produção pode dobrar até 2032

Sustentabilidade

Com boom de etanol de milho, biorrefinarias avançam e produção pode dobrar até 2032

Setor cresce 30% ao ano e aposta em novas demandas, como combustível de aviação e exportação de subprodutos, para sustentar crescimento

TCU aprova auditoria em créditos de descarbonização do RenovaBio

Sustentabilidade

TCU aprova auditoria em créditos de descarbonização do RenovaBio

Fiscalização vai investigar possíveis falhas na comercialização dos CBios e seu impacto no cumprimento das metas ambientais do programa

RenovaBio: entidades avaliam que decreto traz segurança jurídica

Sustentabilidade

RenovaBio: entidades avaliam que decreto traz segurança jurídica

Documento prevê penalidades severas para distribuidoras que não cumprirem metas de descarbonização

Cargill assume controle total da SJC bioenergia

Sustentabilidade

Cargill assume controle total da SJC bioenergia

Companhia passa a operar duas unidades agroindustriais em Goiás e amplia investimento em etanol

PUBLICIDADE

Sustentabilidade

STF restringe licenciamento ambiental simplificado no RS

Decisão abrange duas leis estaduais que instituíram novas regras de licenciamento ambiental e estava em julgamento desde 2020

Sustentabilidade

Be8 inicia obra da primeira planta de etanol de trigo do Brasil

Empresa gaúcha também inaugurou unidade de produção do Be8 BeVant, combustível renovável

Sustentabilidade

Cultivo protegido: confira as vantagens e os tipos 

Área de cultivo protegido no Brasil cresce 5% ao ano, demonstrando a força dessa técnica que otimiza o uso de recursos e reduz a necessidade de defensivos

Sustentabilidade

Be8 apura Ebitda de R$ 599 mi em 2024, alta de 74% sobre ano anterior

Receita líquida da maior produtora de biodiesel do Brasil somou R$ 7,3 bilhões no ano

Logo Agro Estadão
Bom Dia Agro
X
Carregando...

Seu e-mail foi cadastrado!

Agora complete as informações para personalizar sua newsletter e recebê-la também em seu Whatsapp

Sua função
Tipo de cultura

Bem-vindo (a) ao Bom dia, Agro!

Tudo certo. Estamos preparados para oferecer uma experiência ainda mais personalizada e relevante para você.

Mantenha-se conectado!

Fique atento ao seu e-mail e Whatsapp para atualizações. Estamos ansiosos para ser parte do seu dia a dia no campo!

Enviamos um e-mail de boas-vindas para você! Se não o encontrar na sua caixa de entrada, por favor, verifique a pasta de Spam (lixo eletrônico) e marque a mensagem como ‘Não é spam” para garantir que você receberá os próximos e-mails corretamente.