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Sustentabilidade

Avanço do PIB agropecuário não está associado ao desmatamento, aponta estudo

Levantamento projeta que, mesmo com crescimento médio de 2,5% ao ano no PIB agropecuário, o Brasil pode chegar perto do desmatamento zero em 2040

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Redação Agro Estadão

01/10/2025 - 13:43

Foto: Adobe Stock
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O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da Agropecuária no chamado ‘Arco do Desmatamento’ — região que concentra cerca de 75% do desflorestamento da Amazônia Legal — não está vinculado ao desmatamento. A análise foi divulgada em levantamento inédito do Instituto Esfera de Estudos e Inovação, frente acadêmica do think tank Esfera Brasil.

O estudo mostra que, entre 2000 e 2024, enquanto o PIB agropecuário da região cresceu em média 8,7% ao ano, o desmatamento caiu 5,29% ao ano. A área analisada abrange aproximadamente 256 municípios nos estados do Pará, Mato Grosso, Maranhão, Rondônia, Tocantins e Acre. 

Área desmatada X Evolução do PIB agropecuário nos estados do Arco do Desmatamento (entre 2000 e 2024)

Fonte: Instituto Esfera de Estudo e Inovação

A região, conforme o documento, apresentou uma trajetória marcada por transformações significativas tanto no uso do solo quanto na dinâmica econômica regional. Esse cenário de menor desmatamento e maior valor adicionado pelo setor agropecuário reflete mudanças estruturais relevantes:

  • Avanço tecnológico e intensificação produtiva, com maior uso de insumos, máquinas e técnicas de gestão do solo, permitindo o aumento da produção em áreas já convertidas;
  • Pressão normativa e avanços nos mecanismos de controle ambiental, com fortalecimento de políticas públicas e maior difusão de sistemas de monitoramento por satélite;
  • Mudança no perfil produtivo, com crescente inserção de cadeias mais organizadas, certificadas e voltadas à exportação — especialmente em Mato Grosso e Pará;
  • Adoção de modelos de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e outras práticas sustentáveis em determinadas regiões.

Porém, o estudo indica que a persistência do desmatamento em alguns polos críticos demonstra que os avanços não foram uniformes. O Pará, por exemplo, continua sendo o estado que mais contribui em volume absoluto para a supressão florestal, embora também tenha reduzido sua taxa média de desmatamento entre 2000 e 2024.

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No período, as taxas geométricas de redução anual do desmatamento por estado do ‘Arco do Desmatamento’ foram:

EstadoRedução do desmatamento (por ano)
Acre-1,10%
Maranhão-3,88% 
Mato Grosso-7,50%
Pará-4,15%
Rondônia-9,65%
Tocantins-5,39

Os dados revelam que o Arco do Desmatamento não é uma realidade homogênea. Cada estado apresenta variações na eficácia das políticas ambientais, no perfil da estrutura fundiária, nas características dos imóveis rurais e na capacidade de fiscalização. “Por fim, a comparação entre a curva decrescente do desmatamento e a ascendente do PIB agropecuário serve como evidência empírica de que é possível dissociar o crescimento econômico da destruição florestal”, aponta o levantamento. 

Para Camila Funaro Camargo Dantas, CEO do Instituto Esfera de Estudo e Inovação, o papel da instituição, às vésperas da COP30 em Belém, é oferecer subsídios empíricos para embasar políticas públicas de alto nível e reforçar a presença do Brasil nas discussões climáticas globais. “O estudo confirma que a preservação da Amazônia e do Cerrado depende sobretudo da qualidade da governança. O futuro das nossas florestas está ligado à força das instituições e à consistência das políticas públicas”, afirma.

Três cenários até 2050

A pesquisa também apresenta projeções para o futuro sobre o desmatamento no Brasil até 2050, considerando como pano de fundo a trajetória do PIB agropecuário com crescimento médio estimado de 2,5% ao ano. 

  • Pessimista: a combinação de pressão internacional branda e enfraquecimento institucional resulta em um crescimento persistente do desmatamento, mesmo com a estabilidade e expansão da atividade agropecuária. “A série estimada aponta que, após uma queda inicial até 2024 (ano base do modelo econométrico), o desmatamento volta a crescer de forma quase linear até atingir patamares superiores a 1,2 milhão de hectares em 2045. O pico ocorre entre 2032 e 2046, com tendência de estabilização apenas no final do período projetado”, aponta.
  • Moderado: reflete uma conjuntura em que a pressão internacional se intensifica e as instituições brasileiras responsáveis pelo controle ambiental mantêm relativo grau de eficácia. Neste cenário, o desmatamento permanece em patamar estável e inferior ao histórico da década de 2000, situando-se ao redor de 540 mil hectares por ano. “Há leve oscilação nos anos subsequentes a 2025, mas sem retomada da tendência crescente observada no cenário pessimista. Trata-se de uma trajetória que combina crescimento agrícola com governança ambiental razoável”, diz o estudo.
  • Otimista: considera uma pressão internacional muito forte, acompanhada de um grande fortalecimento institucional das políticas públicas de controle e de incentivos sustentáveis. “Neste caso, projeta-se uma trajetória decrescente e contínua do desmatamento até 2050. O país poderia reduzir sua taxa anual para menos de 170 mil hectares já em 2040, com perspectiva de atingir patamares próximos ao desmatamento zero até meados da década de 2050”, sinaliza o documento. 

As projeções foram formuladas a partir de variáveis institucionais e geopolíticas que influenciam o grau de pressão internacional e o fortalecimento de mecanismos nacionais de controle ambiental, como fiscalização, monitoramento e crédito orientado. Enquanto a metodologia do estudo considerou um modelo teórico e estatístico partindo da definição clara da variável dependente: a área total desmatada por ano (em hectares), representando a intensidade anual do processo de supressão vegetal nos territórios analisados.

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