Pecuária
Plano Clima é alvo de críticas no Congresso Nacional da Carne em BH
Senadora Tereza Cristina diz que Plano Clima tem viés ideológico; CNA defende a produção de carne de qualidade para valorizar no mercado externo
Mônica Rossi | Belo Horizonte | monica.rossi@estadao.com*
18/09/2025 - 15:02

A abertura do Congresso Nacional da Carne (Conacarne), promovido nesta quinta-feira, 18, em Belo Horizonte (MG), pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em conjunto com a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), foi marcada por discursos de confiança na qualidade da carne brasileira e na conquista de novos mercados, mas também por críticas aos setores que duvidam da sustentabilidade da pecuária de corte do país.
A senadora Tereza Cristina (PP-MS), vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), afirmou que o Brasil tem a melhor e mais sustentável agricultura e pecuária do mundo e que é preciso vencer a narrativa negativa sobre o setor agropecuário brasileiro. A parlamentar disse em seu discurso que o país vive tempos difíceis devido aos problemas do tarifaço norte-americano, mas que acredita que essa crise vai passar. “Eu tenho certeza de que isso será um breve momento que nós estamos passando. Mas, com certeza, nós vamos voltar ao mercado americano, vamos vender carne de qualidade. Eles precisam da nossa carne”, afirmou.
Em conversa com jornalistas, a parlamentar criticou a falta de diálogo do governo brasileiro com os Estados Unidos, o que teria levado às tarifas impostas. A senadora relatou também que vê a COP30 como uma oportunidade de mostrar ao mundo os sistemas de produção sustentáveis da agropecuária brasileira.
Perguntada sobre a apresentação do Plano Clima no evento global, afirmou que a bancada ruralista está atuando para rever o documento. “O Plano Clima apresentado é muito prejudicial à agropecuária brasileira. Na minha opinião, tem um viés ideológico que não deveria ter. O Brasil tem o melhor código florestal do mundo, o mais rígido. E assim mesmo temos gente jogando contra o próprio país. Porque jogar contra a agropecuária brasileira, eu acho que é jogar contra o Brasil”, disse a senadora.

Ao falar com a imprensa, o presidente da Faemg, Antônio Pitangui de Salvo, também criticou o discurso ideológico negativo sobre o setor. “Não é possível que as pessoas não entendam esse setor… que planta e brota essa riqueza de forma organizada, de forma sustentável economicamente. Então, esse discurso ideológico, os brasileiros, principalmente, precisam entender que isso é pressão externa, porque nós somos altamente competitivos e vamos tirar o Brasil do buraco. E vamos ocupar mercados de outros países. […] Nós não estamos discutindo ideologia A e B nessa polarização terrível que está no Brasil. Nós estamos dizendo que esse setor ajuda todos indiscriminadamente”, concluiu.
Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais, também participou da abertura do congresso e aproveitou para enaltecer as ações do próprio governo. Destacou a busca por mais segurança policial no campo, redução das burocracias impostas pela legislação estadual ao desenvolvimento no campo e o potencial de expansão da produtividade no Estado.
“Como foi dito aqui, a produtividade atual pode avançar muito. Nós ainda temos muitas áreas degradadas a serem recuperadas, o que significa que a nossa produção vai avançar muito sem derrubar uma árvore, preservando o meio ambiente.”
Carne de qualidade para o brasileiro e o estrangeiro
O presidente da CNA, João Martins, defendeu que é preciso fazer uma renovação na pecuária para produzir uma carne de qualidade (premium), que possa ser valorizada no mercado internacional. “Nós precisamos chegar lá fora e receber pela nossa carne a mesma coisa que os Estados Unidos recebem e que a Austrália recebe. Mas, para isso, nós precisamos fazer um dever de casa. O dever de casa não passa pura e simplesmente por termos um rebanho, passa por buscarmos produzir para que lá fora comam carne de qualidade, mas que o brasileiro aqui também coma carne de qualidade”, argumentou.
O presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), Gabriel Garcia Cid, manteve a mesma linha em sua fala destacando o grande desafio do setor, que é produzir carne de qualidade tanto para o mercado interno quanto para exportação. Lembrou que há expectativas de abrir mercado para a carne brasileira no Japão e em outros países asiáticos, aguardado ainda para este ano.
Cid explicou que a ABCZ fez parcerias técnicas com frigoríficos e também para aproximar os produtores do melhoramento genético. “A boa semente da pecuária é a genética. O nosso grande desafio é levá-la aos pequenos produtores. Eles são a grande maioria e a resposta do porquê somos líderes em produção de carne utilizando apenas genética melhoradora em metade das matrizes disponíveis.”
Livre de aftosa
Várias autoridades celebraram, durante o evento, o reconhecimento do Brasil, pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), como país livre de febre aftosa sem vacinação. Thales Almeida Pereira Fernandes, secretário de Agricultura de MG, destacou um simulado de defesa agropecuária que será realizado em Montes Claros (MG), entre 23 de setembro e 2 de outubro. O exercício deve reunir mais de 300 médicos-veterinários de todo o país para mostrar a capacidade de resposta do setor.
“Os olhos do Brasil inteiro e do mundo vão estar aqui, porque lá vamos mostrar como se estivesse acontecendo um foco de aftosa e como agiríamos para poder conter esse foco o mais rápido possível. Para poder mostrar que hoje a sanidade já não é mais um problema, mas que a gente precisa estar sempre atento”, explicou a ação.
Congresso da carne
O Conacarne é organizado pelo Sistema CNA/Senar e pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), com o apoio da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). O encontrou vai até essa sexta-feira, 19, reunindo produtores, técnicos, indústria, especialistas e formadores de opinião da pecuária de corte. A ABCZ TV transmite o evento na íntegra neste link.
*a jornalista viajou a convite da CNA
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