Pecuária
Pecuaristas seguram boi e questionam queda da arroba
Orientação do setor é vender apenas o necessário para cumprir compromissos financeiros até que o mercado estabilize
Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com
04/08/2025 - 05:00

Enquanto a indústria exportadora de carne bovina projeta as perdas bilionárias com as tarifas dos Estados Unidos, no campo, o efeito da medida no preço do boi gordo foi sentido de forma imediata. “A nossa grande dor é ter visto os preços despencarem cerca de 10% no dia seguinte ao anúncio [das tarifas]”, relata Guilherme Bumlai, presidente da União Nacional de Pecuária.
O dia seguinte, mencionado por Bumlai, não foi a oficialização da quarta-feira, 30, mas sim, o dia 09 de julho, quando Donald Trump anunciou que aplicaria as tarifas de 50% sobre o Brasil.
Desde então, os pecuaristas acompanharam um declínio no preço do boi gordo. “Os frigoríficos fizeram uma redução drástica no valor da arroba do boi. E, nós temos uma visão que, embora os EUA sejam um mercado de extrema importância para a exportação de carne bovina, não haveria nexo para essa baixa da arroba imediatamente”, explica Guilherme que tem produção em Corumbá (MS).
Segundo ele, o abate deveria continuar normalmente, nas mesmas proporções, pois outros cortes de carne precisam ser produzidos para atender a população brasileira e os demais países. “Então, não há que se falar em redução de abate ou consequente aumento de oferta de carne que poderia interferir nos preços”, diz.
Bumlai reconhece que os EUA são um destino importante em termos financeiros para o Brasil — US$ 1,04 bilhão somente no primeiro semestre deste ano —, no entanto, argumenta que o volume exportado em toneladas pode ser compensado por outros mercados, inclusive o interno. “Nós temos dois parâmetros para analisar: o volume financeiro e o volume físico, em toneladas. O primeiro, claro, sofre um impacto direto, mas, em volume, essa carne pode ser realocada para outros países e até mesmo para o consumo dentro do Brasil”, acredita.
Cautela
Diante do cenário de incerteza, a União Nacional de Pecuária decidiu adotar uma postura cautelosa. A orientação para os produtores associados tem sido clara: vender apenas o estritamente necessário para cumprir seus compromissos financeiros e aguardar a estabilização do mercado. “Acreditamos que, principalmente por estarmos entrando na entressafra, os preços possam retomar nos próximos dias. Nesta semana, inclusive, já começamos a ver sinais de recuperação”, conta.
O presidente da União se refere ao período do ano em que a oferta de animais prontos para o abate costuma ser menor, o que naturalmente impulsiona os preços da arroba do boi gordo.
Essa desconexão entre o anúncio das tarifas e a queda repentina dos preços foi percebida também por outros produtores em diferentes outras partes do país. É o caso de Regina Moraes, que há mais de 20 anos trabalha com pecuária de corte na região do Vale do Guaporé, em Pontes e Lacerda (MT).
Ela viu o mercado recuar de forma repentina, mas mantém aposta na recuperação. “A gente entende que o mercado não tem essa carne sobrando. A população que vai consumir continua a mesma. Então, essa comida vai se realocar”, afirma Regina, que atua com recria e engorda de cerca de 5 mil cabeças de gado, atendendo principalmente grandes frigoríficos exportadores como Minerva, JBS e BMG.
Apesar da perspectiva positiva, ela adotou algumas medidas de contenção na fazenda, como retardar o abate dos bovinos. “Como a gente trabalha com bastante terminação, a estratégia foi segurar os animais que poderiam ser abatidos em outubro ou novembro. Vamos tentar empurrar para dezembro ou janeiro, quando acreditamos que o mercado vai estar mais estável”, explica.
Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Pecuária
1
Cavalo Quarto de Milha: versatilidade e eficiência
2
Texas Longhorn: raça que une resistência e beleza
3
Quem paga a conta da rastreabilidade bovina? Especialistas veem adaptação inevitável, mas lenta
4
Europa enfrenta onda severa de gripe aviária e teme crise
5
CEO da JBS cobra mais investimentos na base da pecuária para produção eficiente
6
Pará leva carne 100% rastreável ao varejo com apoio de JBS e Atacadão
PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas
Pecuária
Corte tarifário dos EUA reacende expectativa de alta na arroba, diz Cepea
Mesmo com tarifa ainda em 40%, especialistas projetam aumento da demanda norte-americana
Pecuária
Carne bovina: Alemanha volta a exportar para o Japão após dez meses de suspensão
Proibição havia sido imposta em janeiro após confirmação de foco de febre aftosa em búfalos d'água, no estado de Brandemburgo
Pecuária
Reabertura da China e Europa elevará preço do frango brasileiro, avalia JBS
Segundo o CEO global da companhia controladora da Seara, os efeitos da demanda chinesa e europeia serão vistos neste último trimestre de 2025
Pecuária
Mapa detalha atuação de empresas privadas em inspeção de frigoríficos
Medida faz parte de regulamentação da Lei do Autocontrole
Pecuária
Estados Unidos investem em moscas estéreis para conter praga da pecuária
Cerca de 100 milhões de moscas são liberadas por semana para conter o crescimento da mosca-berne, também chamada de praga do novo mundo
Pecuária
Gripe aviária: Espanha ordena confinamento imediato de aves
Medida cautelar visa prevenir o contágio pelo vírus diante do aumento de focos na Europa e chegada de aves migratórias
Pecuária
Governo do RS implementa projeto para rastreio de gado
Projeto-piloto oferece identificação individual e amplia acesso a mercados exigentes até maio de 2026
Pecuária
Falha na inativação da vacina Excell 10 foi a causa da mortes de animais
Laboratório conclui investigação sobre falhas na produção da vacina contra clostridiose que causou a morte de mais de 600 animais