Pecuária
Bezerras com brincos que piscam: tecnologia ajuda no bem-estar animal
Resultados observados pela empresa que desenvolveu a tecnologia apontam para a redução da mortalidade de bezerras
Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com
03/11/2025 - 05:00

Os brincos são uma invenção humana antiga que, no começo, transmitiam o status e o poder de quem usava. De lá para cá, os conceitos foram mudando e os brincos também foram adotados nos animais, principalmente em bovinos, como forma de identificação. Há cerca de um ano, eles também passaram a monitorar o bem-estar em bezerras. E com um detalhe: quando a situação não está boa, eles piscam.
A proposta do SenseHub Dairy Youngstock é alertar os criadores de forma preventiva. A tecnologia da MSD Saúde Animal analisa o comportamento das bezerras e compara com parâmetros previamente estipulados. A ideia é que os brincos, que têm um LED, acendam quando houver uma diferença nesses padrões de comportamento. Quando há um desvio desses indicadores, as chances de ser o início de uma doença são grandes.
“A tecnologia do brinco, pensando nas bezerras, trabalha para auxiliar o olhar da mudança comportamental do animal com antecedência. E, por isso, a gente consegue ser mais assertivo até antes mesmo da apresentação de um sinal clínico, de uma diferença comportamental desse animal, pensando num tratamento precoce”, comenta a médica veterinária e gerente técnica de Soluções Tecnológicas para Ruminantes da MSD Saúde Animal, Brenda Barcelos.
Ela explica que os brincos podem ser usados desde o primeiro dia de vida do animal. O grande diferencial para isso são os algoritmos que conseguem fazer esse acompanhamento na parte inicial da vida das bezerras, a chamada etapa de aleitamento – em média dura 75 dias.
“São olhares diferentes, em que a tecnologia capta, num primeiro momento, o comportamento do animal no sentido de movimentação, em relação à sucção, ou seja, a voracidade da mamada para trazer sanidade para o animal”, explica. Ela também conta que o brinco acompanha até os 12 meses iniciais da bezerra, e os parâmetros vão mudando com o passar do tempo, já que depois há a etapa de desmame e a ingestão de alimentos sólidos.
Diminuição da mortalidade
Como a veterinária comenta, a forma de medir a felicidade animal é o bem-estar, e animais com um padrão de bem-estar constante tendem a viver mais. Por isso, um dos resultados que a empresa tem observado com os brincos é uma redução na mortalidade dessas bezerras, já que, nessa fase de formação, elas são mais sensíveis a enfermidades.
“Basicamente, quando eu antecipo a doença e trabalho com ela mais branda, o animal sente menos e ele recupera mais rápido. Então, a chance de eu perder esse animal é muito menor”, acrescentou Barcelos.
Ela cita o exemplo de uma fazenda em Minas Gerais que implementou os brincos. “Ela passou de uma mortalidade de bezerras de 23%, entre agosto de 2023 e julho de 2024, para 1,75% de agosto de 2024 a março de 2025, quando fizeram a aquisição para as bezerras”.
Inspirado em celulares
O sistema de sensores utilizado nos brincos é o mesmo que alguns celulares têm. “É o sistema que, quando a gente vira a tela do celular, ele acende a tela para nós”, esclarece. Aliado a isso, há algoritmos que ajudam a fazer a leitura do comportamento animal.
A tecnologia já era usada em vacas adultas, mas nas bezerras a barreira era a particularidade do ciclo biológico, já que, nos primeiros meses, não há uma alimentação sólida, só à base de leite. Além disso, foi preciso adaptar para mapear sintomas de doenças típicas na fase inicial dos bovinos, como a diarreia e doenças respiratórias.
Apesar de ser uma ferramenta útil de monitoramento, a veterinária pondera que é importante ter um acompanhamento profissional para concretizar o diagnóstico. “A sintomatologia das doenças pode ser a mesma. Então, o brinco analisa a alteração do comportamento e gera o alerta, nos dizendo que esse animal está diferente em relação a ele mesmo e que é preciso examiná-lo”.
Além disso, ela indica que o custo de prevenção pode trazer uma economia para o negócio, além de criar animais mais produtivos. “Os produtores têm começado a olhar para essa fase, que antigamente não era tão vista, já que ela garante o futuro da fazenda”, destacou Barcelos.
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